Quem era Samuel? De que
tribo de Israel era seu pai Elcana? Estas perguntas foram feitas ao autor
alguns dias atrás. Sim, são perguntas importantes, ainda mais por ser a
história de Samuel tão cheia de ensino exatamente para a época em que vivemos.
Samuel não só era da
tribo de Levi, mas da própria família de Coré, cujos filhos foram, em soberana
graça discriminatória, poupados de despencarem vivos no abismo; na mesma
ocasião em que Coré, e todos os homens que pertenciam a ele, juntamente com as
famílias de Datã e Abirão, caíram no abismo e a terra se fechou sobre eles.
Lemos o relato disto em Números 16. Do que encontramos ali, poderíamos concluir
que os filhos de Coré também pereceram naquele horrível juízo por causa do
pecado de Coré, Datã e Abirão. Porém em outro capítulo lemos que "a terra
abriu a sua boca, e os tragou com Coré, quando morreu a congregação: quando o
fogo consumiu duzentos e cinquenta homens, e foram por sinal. Mas os filhos de
Coré não morreram" (Nm 26:10-11).
Vamos nos deter um
pouco no caráter de Samuel e sua família, para nossa ajuda e direção.
Ele era o filho de Ana
("graça e misericórdia") e Elcana ("Deus redimiu"). Até
onde, querido e sincero leitor, é esta a sua condição? Você já nasceu de novo
por meio da graça, do gratuito favor de Deus? E pode você dizer que Deus o redimiu
para Ele, e por um preço tão grande? E pode você dizer: Sou daquela família que
foi salva de ser lançada no abismo? Se Deus fosse nos tratar com um juízo
justo, porventura não estaríamos agora suplicando por uma gota de água para
refrescar nossa língua? Se crermos verdadeiramente nisto, nos tornaremos
pequenos aos nossos próprios olhos.
Assim era Samuel. Sua
mãe orava por ele em amargura de alma, no único lugar na Terra onde o Senhor
havia colocado o Seu nome (1 Sm 1; Jr 7:12). E quando o Senhor respondeu à sua
oração, ela levou Samuel para aquele lugar que o Senhor havia escolhido quando
introduziu o Seu povo na terra prometida, e deu-lhe descanso. Foi exatamente
para aquele lugar que Samuel foi levado. Ele era uma criancinha apenas
desmamada, consagrada por meio da morte de uma oferenda, e era um adorador.
Quão longe está tudo isso do que nos diz respeito? Somos pequenos aos nossos
próprios olhos? Estamos desmamados deste mundo? Separados dele pela morte de
Cristo? E somos nós adoradores em espírito e verdade? É este o único estado de
alma em que podemos ter ouvidos para ouvir "o que o Espírito diz às
igrejas" (Ap 2:17).
Assim foi Samuel
consagrado ao Senhor, no lugar (Silo) que o Senhor havia escolhido para colocar
o Seu nome, o qual já tinha sido quase esquecido. Ana não só o levou ao lugar,
mas também ao Senhor. Há muitos que hoje podem ter sido levados ao lugar, mas
não à Pessoa do Senhor. Então, quando surgem as dificuldades, ficam confusos e
dizem: Tudo está perdido, tudo acabou. Não foi assim com as palavras da mãe de
Samuel, em sua maravilhosa oração de fé (1 Sm 2:1-10). O próprio Senhor estava
diante de sua alma. "O meu coração exulta ao Senhor". Ele enchia sua
alma. Não havia nenhum outro, "não há santo como é o Senhor; porque não há
outro fora de Ti: e rocha nenhuma há como o nosso Deus." Que diferença faz
a arrogante ostentação daquela época, ou desta, para uma alma assim diante do
Senhor? Bendito Senhor, quando Tu resplandeceres em Tua glória, tudo se
desvanecerá; todas as luzes humanas, ou mesmo todas as luzes criadas, devem
desaparecer.
Em perfeita harmonia
com Efésios 2, Ana fala o que Deus faz, e não o que o necessitado do monte de
esterco diz ou faz. Sim, Deus o levanta. Ele o levanta, tirando-o de um lugar e
levando-o para outro - do monte de esterco para herdar o trono de glória. Deus
não levanta menos que isso, do mais baixo para o mais alto. Oh, minha alma,
regozije nas riquezas da Sua graça!
Deus separou Israel das
outras nações. Deus enviou o Seu Filho para aquela nação separada, Sua própria
nação; mas o povo rejeitou o Filho amado, e O matou. Deus conhecia a inimizade
daquele ato perpetrado por judeus e gentios; e Deus olhou para baixo, para
aquele fervilhante monte de esterco da humanidade, e diretamente daquele Homem
glorificado no trono de glória, enviou o Espírito Santo, como se dissesse,
Tirarei daquele monte de esterco, daquele lugar repugnante, os pobres, vis,
esfarrapados e culpados mendigos; Eu os tirarei daquele monte de esterco, uma
companhia de pessoas para herdarem, com Meu Filho, Seu trono de glória. Que
lugar! Que estado de pureza e glória imutáveis! Sim, impecáveis em santidade,
levantados para estarem com o próprio Deus.
Bem pode o apóstolo
dizer, "segundo as riquezas da sua graça" (Ef 1:7). Tudo isso só pode
ter o seu cumprimento na Igreja, a Noiva. E, note bem, o propósito de Deus se
cumprirá. Há só mais uma pergunta inquietante que alguns de meus leitores
poderão desejar fazer a Ana. Esta: Acaso não podem meus pés escorregar para tão
longe que eu venha a falhar, e, depois de tudo, acabar perdido; e ao invés do
trono de glória, como e com meu Senhor, acabar perdido e imerso no mais
profundo inferno? O que é que diz a inspirada Ana? Ouça: "Os pés dos Seus
santos guardará". Não diz que "eu guardarei a mim mesmo" mas "Ele
guardará os pés dos Seus santos".
Mas há muitos que
dizem: "Podemos nos perder, e Ele pode falhar em guardar os pés dos Seus
santos". Ah, esses não O conhecem, caso contrário não duvidariam dEle. Ele
fez muito por Suas ovelhas, para deixar que alguma se perca. Ele diz, "As
Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, Eu conheço-as, e elas Me seguem; e dou-lhes a
vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha mão. Meu
Pai, que mas deu, é maior que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu
Pai" (Jo 10:27-29). Alegre-se, minha alma! Estas são palavras de grande
peso - são as palavras deste dia da graça, durante o qual Deus está reunindo a
Igreja para o trono da glória nos céus.
É notável como estes
três capítulos (1 Sm 1, 2 e 3) correspondem à verdade restaurada de santos
reunidos a Cristo, como na restauração de Silo. Portanto, estas palavras de Ana
ilustram maravilhosamente a ordem da verdade restaurada. Os necessitados
levantados do monte de esterco e elevados para o trono de glória aparecem no
versículo 8, antes do tempo da tribulação dos adversários no versículo 10. E
então, no mesmo versículo, o juízo dos confins da Terra, e depois o reino do
Rei.
Isto, conforme verá o
leitor, corresponde à ordem das revelações do Novo Testamento:
1. A graça de Deus
livrando os mais vis pecadores a fim de levá-los, como Igreja, ao trono da
glória.
2. A absoluta
segurança, na Terra, de todos os que são santos do Senhor.
3. O tempo de
tribulação, após a Igreja ser levada para a glória.
4. A vinda de Cristo
para julgar os vivos e estabelecer Seu reino na Terra.
O quanto Ana assimilou
e entendeu de tudo isso, não cabe a nós dizer. Foi isto o que o Espírito disse
a Pedro: "Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós,
eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que,
pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho: para as quais
coisas os anjos desejam bem atentar" (1 Pd 1:12).
Era simplesmente
impossível para qualquer pessoa ter inventado exatamente esta ordem, então
totalmente desconhecida ao homem; mas agora se torna a bem conhecida ordem e
propósito de Deus. Deixe que o cético me diga como é que isso aconteceu, que
Ana tenha cantado tudo isso, em figura, mais de mil anos antes de ter sido
revelado. Esta sublime canção de Silo é uma prova inquestionável da inspiração
divina.
Tudo isso, fluindo por
intermédio de Ana ("graça e misericórdia") tem muito a ver com a
formação do caráter, segundo o padrão daquilo que é o homem que deseja
corresponder ao desejo do coração de Cristo hoje, como é apresentado em Suas
palavras dirigidas a Filadélfia.
O Senhor, o verdadeiro
Silo, primeiro reuniu a Si próprio, ou formou a assembléia, pelo Espírito Santo
em Pentecostes (At 2). Neste sentido Josué 18 é um tipo de Pentecostes. O
significado de "Silo" como um lugar é "quieta
tranquilidade"; o próprio lugar do Senhor, o lugar de quieta
tranquilidade. E o que foi senão isso o que houve quando Ele ressuscitou de
entre os mortos? Quais foram as primeiras palavras do Silo ressuscitado aos
Seus discípulos reunidos? "Paz seja convosco" (Jo 20:19). E
mostrou-lhes Suas mãos e Seu lado. Ele havia terminado a obra; Ele havia feito
a paz por Seu sangue - eterna, perfeita paz - cabe a Ele o direito de
pronunciar paz. Você já escutou a Sua voz dirigindo-se a você?
Silo foi o lugar onde
Jeová quis colocar o Seu nome no início. "E toda a congregação dos filhos
de Israel se ajuntou em Silo, e ali armaram a tenda da congregação" (Js
18:1). Que figura de Pentecostes! Todos os crentes estavam juntos, reunidos
para Ele, "a Quem pertence o direito". Não estavam reunidos a Pedro,
mas ao Senhor. Pedro era o pregador, mas Cristo, o Senhor exaltado, era o Silo
a Quem todos foram reunidos.
Assim, no princípio,
tudo foi feito em Silo, diante do Senhor. Naquele tempo havia muitos que ainda
não tinham recebido sua herança, mas Josué não ficou indiferente; ele diz:
"Até quando sereis negligentes a passardes para possuir a terra que o
Senhor Deus de vossos pais vos deu?" Missionários foram enviados a fim de
que todos pudessem desfrutar da posse. Saíram de Silo, e retornaram a Silo, e a
terra foi entregue a eles em Silo (Js 18:3-10). Por isso lemos:
"Disse-lhes pois Jesus outra vez: Paz seja convosco, assim como o Pai me
enviou, também eu vos envio a vós" (Jo 20:21). Assim Ele os enviou como
missionários para tornar conhecidas a paz e o perdão de pecados. E é só à
medida que bebemos de Sua preciosa paz para nossas almas, e desfrutamos em
quieta tranquilidade a certeza de nossos pecados perdoados, e que somos aceitos
no favor do Amado, que podemos esperar ser usados para levar outros a tomarem
posse desse presente desfrutar da herança que Deus nosso Pai nos deu em Cristo.
Oh, sairmos de Sua pacífica presença, em busca de outros, do mesmo modo como
Ele saiu do Pai.
Seria algo extremamente
bendito se pudéssemos permanecer meditando mais em Silo como uma figura do que
a Igreja foi, conforme edificada por Cristo. Encontraremos, na história futura
de Silo, uma verdadeira figura da triste história da Igreja.
Todavia Deus não
abandonou o Seu povo, mas levantou juízes; e apesar de alguns deles serem
homens estranhos, mesmo assim Deus cuidou de Seu povo e os livrou. Houve
Débora, Gideão, Jefté e Sansão, mas nenhum desses jamais chega a mencionar
Silo.
Foi exatamente o que
aconteceu após a morte de Paulo e de toda a sua geração. Levantou-se outra
geração que não conhecia o Senhor e Seus caminhos, como foi no princípio. Foi
aí que o diabo ensinou a doutrina da revelação progressiva. Mas o Senhor, em
Seu terno cuidado, levantou indivíduos, e por meio deles livrou a Igreja de uma
ruína completa com a perda de toda a verdade. Mas durante séculos Cristo nunca
foi outra vez conhecido ou reconhecido como o verdadeiro Silo. E o que é pior,
numa atitude blasfema, um homem foi posto para ocupar o Seu lugar como o centro
e cabeça da Igreja. E até mesmo durante a Reforma, pelo que sabemos, nenhum dos
reformadores chegou a recuperar a única verdadeira posição, perdida por tanto
tempo, da Igreja como reunida a Ele "a Quem pertence". Eles escaparam
de muito paganismo, mas nunca conheceram a Cristo como o único Centro
verdadeiro em torno do Qual os dois ou três deveriam estar reunidos em perfeita
tranquilidade. Na maior parte, retiveram o nacionalismo mundano, ou princípio
de Babilônia, de confundir a Igreja com o mundo. É notável que se trata da
mesma idolatria prevalecendo na Cristandade, como foi em Israel, durante seus
séculos de trevas. A observância de dias, o voltar-se para o oriente, a
adoração da rainha do céu, imagens de santos, como antes foram Júpiter, Astarote,
etc.
Mas será que durante
aqueles séculos da história de Israel, o verdadeiro Silo não existiu? Sim,
certamente existiu, e Deus com certeza o manteve como antes. Há um versículo
que prova que Ele o fez: "Assim pois a imagem de escultura, que fizera
Mica, estabeleceram para si, todos os dias que a casa de Deus esteve em
Silo" (Jz 18:31). Não foi assim que aconteceu durante a história negra da
Cristandade? Durante todo o tempo em que eles estabeleceram seus altares e as
imagens que haviam feito; durante todo aquele tempo continuou sendo verdade que
o único verdadeiro princípio da Igreja era Cristo no meio, o verdadeiro Silo, o
Único a Quem pertence o direito de reunir os Seus redimidos para Si na Terra,
assim como será no céu. E não há duvidas de que alguns poucos desconhecidos
devem ter desfrutado da quieta tranquilidade da Sua bendita presença. Neste
sentido também o Senhor permaneceu o mesmo, de maneira que o verdadeiro lugar
de Silo foi pouco conhecido na Cristandade, assim como fora, em tipo, em Israel.
Ela não se regozijou em
Silo como um lugar, mas no Senhor que é o Silo. É a pessoa que faz o lugar.
"O meu coração exulta no Senhor... porquanto me alegro na Tua
salvação" (1 Sm 2:1). No espírito de Apocalipse 3, como alguém de
Filadélfia, ela diz: "Não há santo como é o Senhor; porque não há outro
fora de Ti: e rocha nenhuma há como o nosso Deus" (v. 2). Quão fácil é
escorregarmos disso; quão fácil nos ocuparmos com os homens! A Pessoa do Santo
era de tal importância para ela, que excedia todos os outros. Que preferência!
E que cântico!
Está Jesus de Silo
assim também diante de nossas almas? Se assim o for, como é que podemos
deixá-Lo? "Senhor, para quem iremos nós?" (Jo 6:68). Será que nossas
obras demonstram que Ele é suficiente para nós, e que não podemos aceitar
nenhum outro além dEle? "Por Ele são as obras pesadas na balança" (v.
3). Os homens poderosos, e os fracos, são todos revelados na Sua presença. Seus
maravilhosos caminhos são conhecidos em Silo. Leia cada sentença. Quão
necessárias são elas aos filhos de Deus que agora se encontram em Silo!
"Ele abaixa e também exalta." Poderia haver algo que provasse mais
distintamente a inspiração do Espírito Santo do que este cântico em Silo? A fé
de Ana e seu cântico se elevavam ao nível de um tema totalmente desconhecido
então. A Igreja, da qual isto é uma figura, era algo ainda oculto (Ef 3:9).
Oh, se fôssemos mais
como Ana, ao invés de sermos esmagados pelo estado atual prevalecente na
cristandade, e até mesmo no lugar ou posição que agora corresponde a Silo como
um lugar, o lugar da Sua presença, de quieta tranquilidade. Sim, ao invés de
olharmos para o estado de coisas até que nossos corações venham a naufragar
dentro em nós, possamos, como Ana, e como a cotovia, nos elevar acima disso tudo,
e nos regozijar somente no Senhor.
Voltemo-nos agora para
o menino Samuel. Somos daquela família, salvos de despencarmos no abismo - o
próprio contraste com a casa de Eli? "E o mancebo Samuel servia ao Senhor
perante Eli: e a Palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias; não havia
visão manifesta" (1 Sm 3:1). Possa ser este o nosso espírito, como uma
criança dependente do Espírito Santo e ministrando ao Senhor, buscando agradar
a Ele, a servir de maneira aceitável diante dEle. Bendita ocupação! Ainda que
seja perante Eli: isto é, perante o ministério oficial destes dias, que permite
que o mal que condena apenas de boca. Nossa senda é seguirmos adiante; todo
verdadeiro serviço é aquele que é feito para o Senhor. Sim, seja perante
aqueles que dizem estar fora do arraial, e que acatam ligações com doutrinas
falsas, ou perante aqueles no arraial, com todo o mal que lhe é próprio nestes
dias de fim. O caminho da criancinha é bem simples; mas suas responsabilidades
são muito grandes nestes dias, como veremos adiante.
Outra bendita
característica do menino Samuel também em nossos dias, para um andar assim com
Deus, é esta: "A Palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias".
Se isto não estiver ocorrendo comigo ou com você, é porque não estamos andando
com Deus. Talvez você diga que pertence a uma sociedade que conta com milhares
de milhares. Não lemos que existissem milhares de Enoques, antes do dilúvio,
que tenham andado com Deus. É a Palavra do Senhor é preciosa para você? Vai a
bendita Palavra se tornando mais preciosa para você à medida que vai sendo mais
atacada?
Note bem que momento
solene foi aquele. Foi "antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo
do Senhor, em que estava a arca de Deus" (1 Sm 3:3). Porventura não
acontece o mesmo no momento atual? A cristandade recusa a verdade por amor de
si mesma. E será que o Espírito Santo permanecerá e brilhará para sempre? Não.
Oh, qual será o fim dessas hostes de ministros infiéis, que negam o Senhor que
os comprou, e da Cristandade que adora as coisas do jeito que estão? Paulo diz:
"Por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira;
para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer
na iniquidade" (2 Ts 2:11-12).
Leia também o
testemunho do Espírito Santo em 2 Pedro 2:1-3. Mas quem é que tem ouvidos para
ouvir o que o Espírito diz para a assembléia? Eli, no seu tempo, não teve
ouvidos para ouvir. Os "Elis" de hoje não têm ouvidos para ouvir. E é
certo que o Senhor não falou com Eli. Ele chamou a criança. Ele falou para a
criança. Isto é notável: "Porém Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e
ainda não lhe tinha sido manifestada a Palavra do Senhor" (v. 7). Podemos
facilmente entender que os filhos de Eli não conheciam o Senhor. Mas o que quer
dizer isto, que Samuel, a criança desmamada, ainda não conhecia o Senhor?
Porventura não
significa que podemos conhecê-Lo como Salvador, muito tempo antes de conhecê-Lo
como Senhor; e como o Senhor que nos fala individualmente? Aconteceu assim
comigo; e creio que há muitos que nunca O conheceram nessa intimidade, a ponto
de poderem se comunicar de fato com Ele, e receber dEle comunicação. Onde quer
que a organização humana tenha excluído a direção do Espírito, isto é algo que
não pode ser esperado que aconteça. Mas até mesmo onde há uma posição professa
de se estar reunido a Cristo, esta lição de Samuel, a criança, e de Eli, o
velho, requer nossa consideração em oração. Acaso o Senhor já nos falou dessa
maneira? Ele falou com a criança. Consideremos cuidadosamente as mensagens.
Estas passagens não
podem ser ignoradas sem que se fique impune. A iniquidade da casa de Eli não
seria nunca mais expiada com sacrifício ou oferta pelo pecado. Todavia é
exatamente este o princípio defendido por tantos, que até mesmo professam estar
reunidos a Cristo. Não podemos fazer nada mais além de insistirmos nisso como
uma verdade da maior importância. O juízo caiu sobre Silo exatamente por causa
disso.
E o menino deve contar
cada detalhe a Eli. "Então Samuel lhe contou todas aquelas palavras, e
nada lhe encobriu." Por mais dolorosa que seja, a verdade em sua
totalidade, ela deve ser dita. Note que essa era a única falta de Eli. "E
disse ele: O Senhor é, faça bem parecer aos Seus olhos." (v. 18).
"E crescia
Samuel." Com que frequência isto é repetido. E mais, "e o Senhor era
com ele". E será que não temos observado justamente o contrário? Aqueles
que não conhecem o Senhor no seu coração, não crescem. Não há progresso
espiritual na verdade divina. Pode existir grande excitação e atividade, mas o
Senhor não está com eles.
Outra marca da
aprovação do Senhor era esta: "E nenhuma de todas as suas palavras deixou
cair em terra". Todos sabiam que o Senhor estava falando por meio de
Samuel. E assim será hoje também, ainda que sejamos pequenos, e o próprio
retrato da fraqueza, Deus irá usar os Seus servos, e suas palavras serão agora
ouvidas, muito além de Dã a Berseba.
Se compararmos isto com
Apocalipse 3, a mensagem a Filadélfia, nada poderia ser mais espantoso. Ali
vemos o próprio e bendito Senhor; aquilo que Ele é para os que têm pouca força.
O mesmo acontece aqui em nosso Samuel. É o Senhor, o verdadeiro Silo, em Silo,
"porquanto o Senhor Se manifestava a Samuel em Silo pela Palavra do
Senhor. E veio a palavra de Samuel a todo o Israel". E é isto o que
acontece agora. Sim, e será assim até vermos Sua face, a face dAquele que
sussurra, "Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém
tome a tua coroa". Sim, bendito Senhor, em meio a toda a agitação desses
últimos dias, é este o santo, pacífico refúgio de segurança, e o único também.
Tu continuas a Te revelar no meio de dois ou três reunidos para o Teu nome.
Sim, o refúgio é o que Tu és para esses.
Em Crônicas olhamos
mais adiante, além desta cena, para o reino e a glória. "Estes são pois os
que Davi constituiu para o ofício do canto na casa do Senhor, depois que a arca
teve repouso... dos filhos dos coatitas, Hemã, o cantor, filho de Joel [ou
Vasni], filho de Samuel, filho de Elcana, filho de Jeroão". E a genealogia
é agora traçada até Coré. Sim, o altamente privilegiado Hemã, o líder dos
cânticos do Senhor, era neto de Samuel. E podemos ler mais adiante de Hemã e de
seus irmãos em 1 Crônicas 25, de como Davi os separou para esse feliz serviço
de louvor: Asafe, Hemã e Jedutum. Lemos aqui de como profetizaram com uma
harpa, para darem graças e para louvarem o Senhor (vs. 2-3). E então são
mencionados um por um os nomes dos bisnetos de Samuel: "Deus dera a Hemã
catorze filhos e três filhas" (v. 5). "Todos estes estavam ao lado de
seu pai para o canto da casa do Senhor... e, ao lado do rei, Asafe, Jedutum, e
Hemã." É dado o número - duas vezes 144 - dos que eram instruídos nos
cânticos do Senhor (v. 7). Quanto aos filhos de Hemã, o neto de Samuel, você
contará dezesseis deles, e cada uma de suas famílias tinha doze - ou, ao todo,
dessa altamente honrada família de louvor, dos 288, há 192 da família de
Samuel, da família de Coré, salvos de serem lançados no abismo (Nm 16 e
26:9-11).
Tal é a história de
Samuel, o menino, o filho de Ana ("graça e misericórdia") e Elcana
("Deus redimiu"). Do princípio ao fim, é tudo irrestrita graça,
profundezas de misericórdia. Bendita figura é esta também, daquela redenção que
é toda de Deus. Isso tudo não é mais do que um esboço, mas quão cheio de instrução
para nós neste momento presente.
Quem é que já não
sentiu a doçura que é peculiar aos cânticos, no livro de Salmos, dos filhos de
Coré, a família da criancinha desmamada Samuel, salvos de serem lançados no
abismo? Podemos nos extasiar nos Salmos 44, 45, 46, 47 e, seguramente, em todos
os cânticos dos filhos da família de Samuel. E sentimo-nos seguros de que, se
os lermos, expressando o gozo daqueles que foram salvos de serem lançados no
abismo, falarão aos nossos corações do inefável deleite que aguarda aqueles
agora salvos de serem lançados vivos no abismo. Sim, pois apesar dos corpos do
homem rico, e do paupérrimo mendigo, estarem mortos e sepultados, ainda assim
eles vivem em toda a realidade, ou do paraíso, ou do tormento sem fim. Sim, ele
estava vivo no abismo. Querido crente, nunca nos esqueçamos de que somos como
os filhos de Coré. Já fomos salvos de sermos lançados no abismo. Eu e você, se
não fosse pela graça, poderíamos estar lá.
Alguém que é maior que
Davi, maior que Salomão, Se sentará no trono. O Único que é digno. O próprio
Cordeiro de Deus, blasfemado agora aqui neste mundo, e beijado por aqueles que
fingem ser Seus ministros. Só havia um Judas no cenáculo, mas agora o nome
deles é legião.
"E lá, toda a
multidão triunfante,
Comprados pelo sangue
mais precioso
Cantará um canto
eterno, vibrante,
Junto ao Senhor, que é
tão amoroso."
Apenas mais uma
pergunta: Você estará lá?
C.Stanley, "Samuel", Selected Writings of Charles
Stanley Vol. 2.
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