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SAMUEL - C.Stanley


Quem era Samuel? De que tribo de Israel era seu pai Elcana? Estas perguntas foram feitas ao autor alguns dias atrás. Sim, são perguntas importantes, ainda mais por ser a história de Samuel tão cheia de ensino exatamente para a época em que vivemos.


Samuel não só era da tribo de Levi, mas da própria família de Coré, cujos filhos foram, em soberana graça discriminatória, poupados de despencarem vivos no abismo; na mesma ocasião em que Coré, e todos os homens que pertenciam a ele, juntamente com as famílias de Datã e Abirão, caíram no abismo e a terra se fechou sobre eles. Lemos o relato disto em Números 16. Do que encontramos ali, poderíamos concluir que os filhos de Coré também pereceram naquele horrível juízo por causa do pecado de Coré, Datã e Abirão. Porém em outro capítulo lemos que "a terra abriu a sua boca, e os tragou com Coré, quando morreu a congregação: quando o fogo consumiu duzentos e cinquenta homens, e foram por sinal. Mas os filhos de Coré não morreram" (Nm 26:10-11).
Vamos nos deter um pouco no caráter de Samuel e sua família, para nossa ajuda e direção.
Ele era o filho de Ana ("graça e misericórdia") e Elcana ("Deus redimiu"). Até onde, querido e sincero leitor, é esta a sua condição? Você já nasceu de novo por meio da graça, do gratuito favor de Deus? E pode você dizer que Deus o redimiu para Ele, e por um preço tão grande? E pode você dizer: Sou daquela família que foi salva de ser lançada no abismo? Se Deus fosse nos tratar com um juízo justo, porventura não estaríamos agora suplicando por uma gota de água para refrescar nossa língua? Se crermos verdadeiramente nisto, nos tornaremos pequenos aos nossos próprios olhos.
Assim era Samuel. Sua mãe orava por ele em amargura de alma, no único lugar na Terra onde o Senhor havia colocado o Seu nome (1 Sm 1; Jr 7:12). E quando o Senhor respondeu à sua oração, ela levou Samuel para aquele lugar que o Senhor havia escolhido quando introduziu o Seu povo na terra prometida, e deu-lhe descanso. Foi exatamente para aquele lugar que Samuel foi levado. Ele era uma criancinha apenas desmamada, consagrada por meio da morte de uma oferenda, e era um adorador. Quão longe está tudo isso do que nos diz respeito? Somos pequenos aos nossos próprios olhos? Estamos desmamados deste mundo? Separados dele pela morte de Cristo? E somos nós adoradores em espírito e verdade? É este o único estado de alma em que podemos ter ouvidos para ouvir "o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2:17).
Assim foi Samuel consagrado ao Senhor, no lugar (Silo) que o Senhor havia escolhido para colocar o Seu nome, o qual já tinha sido quase esquecido. Ana não só o levou ao lugar, mas também ao Senhor. Há muitos que hoje podem ter sido levados ao lugar, mas não à Pessoa do Senhor. Então, quando surgem as dificuldades, ficam confusos e dizem: Tudo está perdido, tudo acabou. Não foi assim com as palavras da mãe de Samuel, em sua maravilhosa oração de fé (1 Sm 2:1-10). O próprio Senhor estava diante de sua alma. "O meu coração exulta ao Senhor". Ele enchia sua alma. Não havia nenhum outro, "não há santo como é o Senhor; porque não há outro fora de Ti: e rocha nenhuma há como o nosso Deus." Que diferença faz a arrogante ostentação daquela época, ou desta, para uma alma assim diante do Senhor? Bendito Senhor, quando Tu resplandeceres em Tua glória, tudo se desvanecerá; todas as luzes humanas, ou mesmo todas as luzes criadas, devem desaparecer.
Se perguntarmos como é que o Senhor vivifica uma alma e lhe concede vida, Ana responderá que "o Senhor é o que tira a vida e a dá: faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela". E quem são esses que o Senhor escolheu para levar para Si? "Levanta o pobre, do pó, e desde o esterco exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória." Pense no que está envolvido nestas poucas palavras, como nos são reveladas agora pelo Espírito Santo. Quão completamente além de todo o pensamento humano. Acaso o sábio deste mundo sabe que toda a raça humana caída, não importa o quão religiosa seja, não passa de um monte de esterco de humanidade arruinada? Que tremenda descoberta foi isso para o letrado fariseu, Saulo de Tarso! Ao fazer uma revisão de sua vida sob a lei, com todo seu conhecimento e incontáveis vantagens, ele disse: "As considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo. E seja achado nEle" (Fp 3:8-9). Oh, universidades; oh, bispos, doutores e teólogos; oh, cultivadores da mente humana, há quanto tempo vocês estão aprimorando esse repugnante monte de esterco! Será que algum dia vocês chegarão a conhecer o segredo de uma Ana, ou de um Paulo? Será que nunca irão conhecer a verdade?
Em perfeita harmonia com Efésios 2, Ana fala o que Deus faz, e não o que o necessitado do monte de esterco diz ou faz. Sim, Deus o levanta. Ele o levanta, tirando-o de um lugar e levando-o para outro - do monte de esterco para herdar o trono de glória. Deus não levanta menos que isso, do mais baixo para o mais alto. Oh, minha alma, regozije nas riquezas da Sua graça!
Deus separou Israel das outras nações. Deus enviou o Seu Filho para aquela nação separada, Sua própria nação; mas o povo rejeitou o Filho amado, e O matou. Deus conhecia a inimizade daquele ato perpetrado por judeus e gentios; e Deus olhou para baixo, para aquele fervilhante monte de esterco da humanidade, e diretamente daquele Homem glorificado no trono de glória, enviou o Espírito Santo, como se dissesse, Tirarei daquele monte de esterco, daquele lugar repugnante, os pobres, vis, esfarrapados e culpados mendigos; Eu os tirarei daquele monte de esterco, uma companhia de pessoas para herdarem, com Meu Filho, Seu trono de glória. Que lugar! Que estado de pureza e glória imutáveis! Sim, impecáveis em santidade, levantados para estarem com o próprio Deus.
Bem pode o apóstolo dizer, "segundo as riquezas da sua graça" (Ef 1:7). Tudo isso só pode ter o seu cumprimento na Igreja, a Noiva. E, note bem, o propósito de Deus se cumprirá. Há só mais uma pergunta inquietante que alguns de meus leitores poderão desejar fazer a Ana. Esta: Acaso não podem meus pés escorregar para tão longe que eu venha a falhar, e, depois de tudo, acabar perdido; e ao invés do trono de glória, como e com meu Senhor, acabar perdido e imerso no mais profundo inferno? O que é que diz a inspirada Ana? Ouça: "Os pés dos Seus santos guardará". Não diz que "eu guardarei a mim mesmo" mas "Ele guardará os pés dos Seus santos".
Mas há muitos que dizem: "Podemos nos perder, e Ele pode falhar em guardar os pés dos Seus santos". Ah, esses não O conhecem, caso contrário não duvidariam dEle. Ele fez muito por Suas ovelhas, para deixar que alguma se perca. Ele diz, "As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, Eu conheço-as, e elas Me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de Meu Pai" (Jo 10:27-29). Alegre-se, minha alma! Estas são palavras de grande peso - são as palavras deste dia da graça, durante o qual Deus está reunindo a Igreja para o trono da glória nos céus.
Alguns poderão dizer, Oh, esta é uma doutrina muito perigosa. O quê?! Existirá perigo nas palavras de imutável amor de Jesus? Suponha uma pessoa que professe ser um cristão e, todavia, ainda viva na prática do pecado; será que alguém assim pode estar tranquilo e seguro de ser salvo no fim, e de herdar o trono de glória? Jesus diz: "E elas me seguem". Será que praticar pecado é segui-Lo; é seguir Aquele que é santo e verdadeiro? Mas o que é que diz a mãe de Samuel? "Os ímpios ficarão mudos nas trevas." E quão terrível é aquela silenciosa escuridão de ininterrupto desespero. Será que é por alguns terem mais forças para resistir do que outros? Não, "porque o homem não prevalecerá pela força". Não, a questão profundamente importante é esta: É você um dos Seus santos, um dos Seus santificados? Se for, Ele tem poder para guardar os seus pés. E Seu amor é tão grande quanto Seu poder.
É notável como estes três capítulos (1 Sm 1, 2 e 3) correspondem à verdade restaurada de santos reunidos a Cristo, como na restauração de Silo. Portanto, estas palavras de Ana ilustram maravilhosamente a ordem da verdade restaurada. Os necessitados levantados do monte de esterco e elevados para o trono de glória aparecem no versículo 8, antes do tempo da tribulação dos adversários no versículo 10. E então, no mesmo versículo, o juízo dos confins da Terra, e depois o reino do Rei.
Isto, conforme verá o leitor, corresponde à ordem das revelações do Novo Testamento:
1. A graça de Deus livrando os mais vis pecadores a fim de levá-los, como Igreja, ao trono da glória.
2. A absoluta segurança, na Terra, de todos os que são santos do Senhor.
3. O tempo de tribulação, após a Igreja ser levada para a glória.
4. A vinda de Cristo para julgar os vivos e estabelecer Seu reino na Terra.
O quanto Ana assimilou e entendeu de tudo isso, não cabe a nós dizer. Foi isto o que o Espírito disse a Pedro: "Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho: para as quais coisas os anjos desejam bem atentar" (1 Pd 1:12).
Era simplesmente impossível para qualquer pessoa ter inventado exatamente esta ordem, então totalmente desconhecida ao homem; mas agora se torna a bem conhecida ordem e propósito de Deus. Deixe que o cético me diga como é que isso aconteceu, que Ana tenha cantado tudo isso, em figura, mais de mil anos antes de ter sido revelado. Esta sublime canção de Silo é uma prova inquestionável da inspiração divina.
Tudo isso, fluindo por intermédio de Ana ("graça e misericórdia") tem muito a ver com a formação do caráter, segundo o padrão daquilo que é o homem que deseja corresponder ao desejo do coração de Cristo hoje, como é apresentado em Suas palavras dirigidas a Filadélfia.
Antes de seguirmos, vamos considerar o significado do lugar, Silo, para o qual Samuel foi levado. Nas Escrituras a palavra "Silo" tem dois significados. É o nome de uma pessoa em Gênesis 49:10. "O Cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a Ele se congregarão os povos." O significado de "Silo" aqui aplicado a uma pessoa é "de quem é", ou "a quem pertence o direito". Certamente essa Pessoa é Cristo o Senhor. Foi quando Ele consumou a obra da redenção, quando Deus O ressuscitou de entre os mortos, que era Ele, o Único, "a quem pertence o direito" de reunir para Si. Quer olhemos para a Igreja de Deus, ou para a reunião futura de Israel e das nações no milênio, ou elevemos nosso olhar para o céu, em Apocalipse 5, vemos Um no meio do trono - existe só Um cujo nome é Silo - a Ele, "de quem é", deve pertencer a congregação do povo. Só Ele é Silo. Só Ele é digno. Digno é o Cordeiro. Oh, não nos esqueçamos jamais de Suas palavras - e que significado elas têm - "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí, estou Eu no meio deles" (Mt 18:20). E isto nos leva ao segundo significado: Silo como um LUGAR.
O Senhor, o verdadeiro Silo, primeiro reuniu a Si próprio, ou formou a assembléia, pelo Espírito Santo em Pentecostes (At 2). Neste sentido Josué 18 é um tipo de Pentecostes. O significado de "Silo" como um lugar é "quieta tranquilidade"; o próprio lugar do Senhor, o lugar de quieta tranquilidade. E o que foi senão isso o que houve quando Ele ressuscitou de entre os mortos? Quais foram as primeiras palavras do Silo ressuscitado aos Seus discípulos reunidos? "Paz seja convosco" (Jo 20:19). E mostrou-lhes Suas mãos e Seu lado. Ele havia terminado a obra; Ele havia feito a paz por Seu sangue - eterna, perfeita paz - cabe a Ele o direito de pronunciar paz. Você já escutou a Sua voz dirigindo-se a você?
Silo foi o lugar onde Jeová quis colocar o Seu nome no início. "E toda a congregação dos filhos de Israel se ajuntou em Silo, e ali armaram a tenda da congregação" (Js 18:1). Que figura de Pentecostes! Todos os crentes estavam juntos, reunidos para Ele, "a Quem pertence o direito". Não estavam reunidos a Pedro, mas ao Senhor. Pedro era o pregador, mas Cristo, o Senhor exaltado, era o Silo a Quem todos foram reunidos.
Assim, no princípio, tudo foi feito em Silo, diante do Senhor. Naquele tempo havia muitos que ainda não tinham recebido sua herança, mas Josué não ficou indiferente; ele diz: "Até quando sereis negligentes a passardes para possuir a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos deu?" Missionários foram enviados a fim de que todos pudessem desfrutar da posse. Saíram de Silo, e retornaram a Silo, e a terra foi entregue a eles em Silo (Js 18:3-10). Por isso lemos: "Disse-lhes pois Jesus outra vez: Paz seja convosco, assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós" (Jo 20:21). Assim Ele os enviou como missionários para tornar conhecidas a paz e o perdão de pecados. E é só à medida que bebemos de Sua preciosa paz para nossas almas, e desfrutamos em quieta tranquilidade a certeza de nossos pecados perdoados, e que somos aceitos no favor do Amado, que podemos esperar ser usados para levar outros a tomarem posse desse presente desfrutar da herança que Deus nosso Pai nos deu em Cristo. Oh, sairmos de Sua pacífica presença, em busca de outros, do mesmo modo como Ele saiu do Pai.
Seria algo extremamente bendito se pudéssemos permanecer meditando mais em Silo como uma figura do que a Igreja foi, conforme edificada por Cristo. Encontraremos, na história futura de Silo, uma verdadeira figura da triste história da Igreja.
Se agora olharmos para o livro de Juízes, veremos que "serviu o povo ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que prolongaram os seus dias depois de Josué, e viram toda aquela grande obra do Senhor, a qual Ele fizera a Israel". Então Josué morreu, e toda aquela geração. "E outra geração após deles se levantou, que não conhecia ao Senhor, nem tão pouco a obra que fizera a Israel" (Jz 2:7-13). Vem então a triste história de como praticaram o mal e serviram a outros deuses. Abandonaram o Senhor e serviram a Baal e Astarote; e por centenas de anos não se ouve uma palavra sequer de Silo, o lugar onde o Senhor havia primeiramente colocado o Seu nome.
Todavia Deus não abandonou o Seu povo, mas levantou juízes; e apesar de alguns deles serem homens estranhos, mesmo assim Deus cuidou de Seu povo e os livrou. Houve Débora, Gideão, Jefté e Sansão, mas nenhum desses jamais chega a mencionar Silo.
Foi exatamente o que aconteceu após a morte de Paulo e de toda a sua geração. Levantou-se outra geração que não conhecia o Senhor e Seus caminhos, como foi no princípio. Foi aí que o diabo ensinou a doutrina da revelação progressiva. Mas o Senhor, em Seu terno cuidado, levantou indivíduos, e por meio deles livrou a Igreja de uma ruína completa com a perda de toda a verdade. Mas durante séculos Cristo nunca foi outra vez conhecido ou reconhecido como o verdadeiro Silo. E o que é pior, numa atitude blasfema, um homem foi posto para ocupar o Seu lugar como o centro e cabeça da Igreja. E até mesmo durante a Reforma, pelo que sabemos, nenhum dos reformadores chegou a recuperar a única verdadeira posição, perdida por tanto tempo, da Igreja como reunida a Ele "a Quem pertence". Eles escaparam de muito paganismo, mas nunca conheceram a Cristo como o único Centro verdadeiro em torno do Qual os dois ou três deveriam estar reunidos em perfeita tranquilidade. Na maior parte, retiveram o nacionalismo mundano, ou princípio de Babilônia, de confundir a Igreja com o mundo. É notável que se trata da mesma idolatria prevalecendo na Cristandade, como foi em Israel, durante seus séculos de trevas. A observância de dias, o voltar-se para o oriente, a adoração da rainha do céu, imagens de santos, como antes foram Júpiter, Astarote, etc.
Mas será que durante aqueles séculos da história de Israel, o verdadeiro Silo não existiu? Sim, certamente existiu, e Deus com certeza o manteve como antes. Há um versículo que prova que Ele o fez: "Assim pois a imagem de escultura, que fizera Mica, estabeleceram para si, todos os dias que a casa de Deus esteve em Silo" (Jz 18:31). Não foi assim que aconteceu durante a história negra da Cristandade? Durante todo o tempo em que eles estabeleceram seus altares e as imagens que haviam feito; durante todo aquele tempo continuou sendo verdade que o único verdadeiro princípio da Igreja era Cristo no meio, o verdadeiro Silo, o Único a Quem pertence o direito de reunir os Seus redimidos para Si na Terra, assim como será no céu. E não há duvidas de que alguns poucos desconhecidos devem ter desfrutado da quieta tranquilidade da Sua bendita presença. Neste sentido também o Senhor permaneceu o mesmo, de maneira que o verdadeiro lugar de Silo foi pouco conhecido na Cristandade, assim como fora, em tipo, em Israel.
Antes de seguirmos adiante, vamos perguntar a nós mesmos: Somos verdadeiros adoradores? Podemos cantar a canção de Silo? Sim, A Canção de Silo. Cantar - você dirá - como podemos cantar enquanto a Igreja encontra-se em um tal estado, com o juízo ao alcance da mão? Era exatamente o que acontecia quando Ana cantou aquela canção de Silo; ela era como uma cotovia. Você poderia perguntar à cotovia: Como é que você pode cantar? Não vê a neblina que cobre tudo? É assim que canto, responderia a cotovia, cada vez mais alto, bem acima da neblina, no celestial azul das alturas. Assim cantou Ana, cada vez mais alto. Existirá maior crescente de gozo nas Escrituras? Do mesmo modo como o sol enche o céu da cotovia, o Senhor estava ali diante da alma de Ana.
Ela não se regozijou em Silo como um lugar, mas no Senhor que é o Silo. É a pessoa que faz o lugar. "O meu coração exulta no Senhor... porquanto me alegro na Tua salvação" (1 Sm 2:1). No espírito de Apocalipse 3, como alguém de Filadélfia, ela diz: "Não há santo como é o Senhor; porque não há outro fora de Ti: e rocha nenhuma há como o nosso Deus" (v. 2). Quão fácil é escorregarmos disso; quão fácil nos ocuparmos com os homens! A Pessoa do Santo era de tal importância para ela, que excedia todos os outros. Que preferência! E que cântico!
Está Jesus de Silo assim também diante de nossas almas? Se assim o for, como é que podemos deixá-Lo? "Senhor, para quem iremos nós?" (Jo 6:68). Será que nossas obras demonstram que Ele é suficiente para nós, e que não podemos aceitar nenhum outro além dEle? "Por Ele são as obras pesadas na balança" (v. 3). Os homens poderosos, e os fracos, são todos revelados na Sua presença. Seus maravilhosos caminhos são conhecidos em Silo. Leia cada sentença. Quão necessárias são elas aos filhos de Deus que agora se encontram em Silo! "Ele abaixa e também exalta." Poderia haver algo que provasse mais distintamente a inspiração do Espírito Santo do que este cântico em Silo? A fé de Ana e seu cântico se elevavam ao nível de um tema totalmente desconhecido então. A Igreja, da qual isto é uma figura, era algo ainda oculto (Ef 3:9).
Oh, se fôssemos mais como Ana, ao invés de sermos esmagados pelo estado atual prevalecente na cristandade, e até mesmo no lugar ou posição que agora corresponde a Silo como um lugar, o lugar da Sua presença, de quieta tranquilidade. Sim, ao invés de olharmos para o estado de coisas até que nossos corações venham a naufragar dentro em nós, possamos, como Ana, e como a cotovia, nos elevar acima disso tudo, e nos regozijar somente no Senhor.
Voltemo-nos agora para o menino Samuel. Somos daquela família, salvos de despencarmos no abismo - o próprio contraste com a casa de Eli? "E o mancebo Samuel servia ao Senhor perante Eli: e a Palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta" (1 Sm 3:1). Possa ser este o nosso espírito, como uma criança dependente do Espírito Santo e ministrando ao Senhor, buscando agradar a Ele, a servir de maneira aceitável diante dEle. Bendita ocupação! Ainda que seja perante Eli: isto é, perante o ministério oficial destes dias, que permite que o mal que condena apenas de boca. Nossa senda é seguirmos adiante; todo verdadeiro serviço é aquele que é feito para o Senhor. Sim, seja perante aqueles que dizem estar fora do arraial, e que acatam ligações com doutrinas falsas, ou perante aqueles no arraial, com todo o mal que lhe é próprio nestes dias de fim. O caminho da criancinha é bem simples; mas suas responsabilidades são muito grandes nestes dias, como veremos adiante.
Outra bendita característica do menino Samuel também em nossos dias, para um andar assim com Deus, é esta: "A Palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias". Se isto não estiver ocorrendo comigo ou com você, é porque não estamos andando com Deus. Talvez você diga que pertence a uma sociedade que conta com milhares de milhares. Não lemos que existissem milhares de Enoques, antes do dilúvio, que tenham andado com Deus. É a Palavra do Senhor é preciosa para você? Vai a bendita Palavra se tornando mais preciosa para você à medida que vai sendo mais atacada?
A noite chegou, e agora as trevas, espessas trevas, descem sobre a Terra. E as trevas da infidelidade são preferidas em lugar da luz do evangelho da glória de Cristo. E aqueles que fingem ser as grandes luzes da Igreja, são eles próprios trevas. Que figura desses vemos no velho Eli. Ele ficava ali deitado em seu lugar, e seus olhos já começavam a escurecer a ponto de não poder enxergar. Não é isso o que está acontecendo com a cristandade oficial? Seus olhos estão se escurecendo, não podem enxergar. O Senhor está falando em Sua Palavra hoje, todavia eles não podem escutar.
Note bem que momento solene foi aquele. Foi "antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor, em que estava a arca de Deus" (1 Sm 3:3). Porventura não acontece o mesmo no momento atual? A cristandade recusa a verdade por amor de si mesma. E será que o Espírito Santo permanecerá e brilhará para sempre? Não. Oh, qual será o fim dessas hostes de ministros infiéis, que negam o Senhor que os comprou, e da Cristandade que adora as coisas do jeito que estão? Paulo diz: "Por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade" (2 Ts 2:11-12).
Leia também o testemunho do Espírito Santo em 2 Pedro 2:1-3. Mas quem é que tem ouvidos para ouvir o que o Espírito diz para a assembléia? Eli, no seu tempo, não teve ouvidos para ouvir. Os "Elis" de hoje não têm ouvidos para ouvir. E é certo que o Senhor não falou com Eli. Ele chamou a criança. Ele falou para a criança. Isto é notável: "Porém Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e ainda não lhe tinha sido manifestada a Palavra do Senhor" (v. 7). Podemos facilmente entender que os filhos de Eli não conheciam o Senhor. Mas o que quer dizer isto, que Samuel, a criança desmamada, ainda não conhecia o Senhor?
Porventura não significa que podemos conhecê-Lo como Salvador, muito tempo antes de conhecê-Lo como Senhor; e como o Senhor que nos fala individualmente? Aconteceu assim comigo; e creio que há muitos que nunca O conheceram nessa intimidade, a ponto de poderem se comunicar de fato com Ele, e receber dEle comunicação. Onde quer que a organização humana tenha excluído a direção do Espírito, isto é algo que não pode ser esperado que aconteça. Mas até mesmo onde há uma posição professa de se estar reunido a Cristo, esta lição de Samuel, a criança, e de Eli, o velho, requer nossa consideração em oração. Acaso o Senhor já nos falou dessa maneira? Ele falou com a criança. Consideremos cuidadosamente as mensagens.
É anunciado à criança o terrível juízo sobre a casa de Eli. "E disse o Senhor a Samuel: Eis aqui vou Eu a fazer uma cousa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambas as orelhas... Porque já Eu lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu" (1 Sm 3:11,13). E mais ainda, note estas palavras tão solenes: "Portanto jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a iniquidade da casa de Eli com sacrifício nem com oferta de manjares" (v. 14). Será que existe algo mais surpreendente que o juízo de Deus, executado com base neste princípio, tão levianamente tratado pelos homens? Eli deu abrigo ao mal. Mesmo que você esteja pessoalmente livre de um determinado mal, ainda assim, se estiver associado com aqueles que praticam pecado, ou que professam falsa doutrina, você está claramente sendo considerado culpado do próprio mal. "Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas." "De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra." "Destes afasta-te." (Ap 18.4; 2 Tm 2:21; 3:5).
Estas passagens não podem ser ignoradas sem que se fique impune. A iniquidade da casa de Eli não seria nunca mais expiada com sacrifício ou oferta pelo pecado. Todavia é exatamente este o princípio defendido por tantos, que até mesmo professam estar reunidos a Cristo. Não podemos fazer nada mais além de insistirmos nisso como uma verdade da maior importância. O juízo caiu sobre Silo exatamente por causa disso.
E o menino deve contar cada detalhe a Eli. "Então Samuel lhe contou todas aquelas palavras, e nada lhe encobriu." Por mais dolorosa que seja, a verdade em sua totalidade, ela deve ser dita. Note que essa era a única falta de Eli. "E disse ele: O Senhor é, faça bem parecer aos Seus olhos." (v. 18).
"E crescia Samuel." Com que frequência isto é repetido. E mais, "e o Senhor era com ele". E será que não temos observado justamente o contrário? Aqueles que não conhecem o Senhor no seu coração, não crescem. Não há progresso espiritual na verdade divina. Pode existir grande excitação e atividade, mas o Senhor não está com eles.
Outra marca da aprovação do Senhor era esta: "E nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra". Todos sabiam que o Senhor estava falando por meio de Samuel. E assim será hoje também, ainda que sejamos pequenos, e o próprio retrato da fraqueza, Deus irá usar os Seus servos, e suas palavras serão agora ouvidas, muito além de Dã a Berseba.
Se compararmos isto com Apocalipse 3, a mensagem a Filadélfia, nada poderia ser mais espantoso. Ali vemos o próprio e bendito Senhor; aquilo que Ele é para os que têm pouca força. O mesmo acontece aqui em nosso Samuel. É o Senhor, o verdadeiro Silo, em Silo, "porquanto o Senhor Se manifestava a Samuel em Silo pela Palavra do Senhor. E veio a palavra de Samuel a todo o Israel". E é isto o que acontece agora. Sim, e será assim até vermos Sua face, a face dAquele que sussurra, "Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa". Sim, bendito Senhor, em meio a toda a agitação desses últimos dias, é este o santo, pacífico refúgio de segurança, e o único também. Tu continuas a Te revelar no meio de dois ou três reunidos para o Teu nome. Sim, o refúgio é o que Tu és para esses.
Há um assunto que gostaríamos de tratar um pouco antes de terminarmos. Vimos que Samuel era da família de Coré, que foi poupada, em pura graça soberana, de ser lançada no abismo. Uma breve genealogia de Samuel é dada, como sendo filho de "Elcana, filho de Jeorão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Sufe, efrateu" (1 Sm 1:1). Se compararmos isto com 1 Crônicas 6.22-28, encontramos ali a genealogia traçada desde Coré até Elcana, o filho de Jeorão, indo até Samuel e seus filhos, Vasni (também chamado Joel) e Abias. A graça resplandece na história de Samuel do princípio ao fim. Lemos, em 1 Samuel 8:1-3, que "sucedeu que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel. E era o nome do seu filho primogênito Joel, e o nome do seu segundo Abia:... porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele, antes se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo". Assim é o homem.
Em Crônicas olhamos mais adiante, além desta cena, para o reino e a glória. "Estes são pois os que Davi constituiu para o ofício do canto na casa do Senhor, depois que a arca teve repouso... dos filhos dos coatitas, Hemã, o cantor, filho de Joel [ou Vasni], filho de Samuel, filho de Elcana, filho de Jeroão". E a genealogia é agora traçada até Coré. Sim, o altamente privilegiado Hemã, o líder dos cânticos do Senhor, era neto de Samuel. E podemos ler mais adiante de Hemã e de seus irmãos em 1 Crônicas 25, de como Davi os separou para esse feliz serviço de louvor: Asafe, Hemã e Jedutum. Lemos aqui de como profetizaram com uma harpa, para darem graças e para louvarem o Senhor (vs. 2-3). E então são mencionados um por um os nomes dos bisnetos de Samuel: "Deus dera a Hemã catorze filhos e três filhas" (v. 5). "Todos estes estavam ao lado de seu pai para o canto da casa do Senhor... e, ao lado do rei, Asafe, Jedutum, e Hemã." É dado o número - duas vezes 144 - dos que eram instruídos nos cânticos do Senhor (v. 7). Quanto aos filhos de Hemã, o neto de Samuel, você contará dezesseis deles, e cada uma de suas famílias tinha doze - ou, ao todo, dessa altamente honrada família de louvor, dos 288, há 192 da família de Samuel, da família de Coré, salvos de serem lançados no abismo (Nm 16 e 26:9-11).
Tal é a história de Samuel, o menino, o filho de Ana ("graça e misericórdia") e Elcana ("Deus redimiu"). Do princípio ao fim, é tudo irrestrita graça, profundezas de misericórdia. Bendita figura é esta também, daquela redenção que é toda de Deus. Isso tudo não é mais do que um esboço, mas quão cheio de instrução para nós neste momento presente.
Quem é que já não sentiu a doçura que é peculiar aos cânticos, no livro de Salmos, dos filhos de Coré, a família da criancinha desmamada Samuel, salvos de serem lançados no abismo? Podemos nos extasiar nos Salmos 44, 45, 46, 47 e, seguramente, em todos os cânticos dos filhos da família de Samuel. E sentimo-nos seguros de que, se os lermos, expressando o gozo daqueles que foram salvos de serem lançados no abismo, falarão aos nossos corações do inefável deleite que aguarda aqueles agora salvos de serem lançados vivos no abismo. Sim, pois apesar dos corpos do homem rico, e do paupérrimo mendigo, estarem mortos e sepultados, ainda assim eles vivem em toda a realidade, ou do paraíso, ou do tormento sem fim. Sim, ele estava vivo no abismo. Querido crente, nunca nos esqueçamos de que somos como os filhos de Coré. Já fomos salvos de sermos lançados no abismo. Eu e você, se não fosse pela graça, poderíamos estar lá.
Quando a arca entrou em seu descanso, então cantaram os filhos de Samuel, os cantores principais no serviço do cântico santo. Logo a Igreja terá entrado em seu descanso, e se assentará ao redor do trono, no elevado reino de Deus. Tão certo quanto os dias de Saul chegaram ao fim, assim também os dias do ímpio, do homem de pecado, chegará ao fim. E tão certo como o falível reino de Davi e Salomão foi estabelecido, assim também será estabelecido o reino do Infalível que é Santo, Santo, Santo. "E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a Terra. E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono. E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o Teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação" (Ap 5).
Alguém que é maior que Davi, maior que Salomão, Se sentará no trono. O Único que é digno. O próprio Cordeiro de Deus, blasfemado agora aqui neste mundo, e beijado por aqueles que fingem ser Seus ministros. Só havia um Judas no cenáculo, mas agora o nome deles é legião.
"E lá, toda a multidão triunfante,
Comprados pelo sangue mais precioso
Cantará um canto eterno, vibrante,
Junto ao Senhor, que é tão amoroso."
Apenas mais uma pergunta: Você estará lá?


C.Stanley, "Samuel", Selected Writings of Charles Stanley Vol. 2.

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