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A vigilancia na assembleia - Bruce Anstey

Em uma assembleia biblicamente reunida haverá liberdade para vários irmãos exercitarem seus dons e sacerdócio, mas não devemos pensar que na assembleia não há governo. As Escrituras indicam que existem certas regras (liderança administrativa) na Igreja. Na assembleia biblicamente reunida haverá aqueles que tomarão a liderança administrativa para assegurar que a santidade e a ordem sejam mantidas.


Normalmente o Senhor guia uma assembleia local no que tange às responsabilidades administrativas por meio dos que “tomam a liderança” (1 Ts 5:12-13; Hb 13:7,17,24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17 – Tradução de J. N. Darby). Essa frase na versão King James da Bíblia e na versão de João Ferreira de Almeida foi traduzida como “aqueles que presidem sobre vós”, mas é um pouco equivocada, nos levando a pensar que exista uma casta especial de homens que esteja “sobre” o rebanho – o clérigo. É evidente que essas versões da bíblia estiveram nas mãos de clérigos que de alguma forma influenciaram na tradução. O uso da palavra “bispo” é outro exemplo. Ela deveria ter sido traduzida como “supervisor” ou “supervisão.

Tomar “a liderança” nessa função não significa liderar no ensino público ou pregar, mas tem a ver com questões administrativas da assembleia. Confundir essas duas coisas é interpretar de forma equivocada a diferença entre dons e ofícios, que são duas esferas distintas na Casa de Deus. Alguns daqueles que “tomam a liderança” podem não ensinar publicamente, mas quando são capazes são muito bons e úteis (1 Tm 5:17). Estes homens devem conhecer os princípios da Palavra de Deus e serem capazes de expô-los para que a assembleia compreenda o curso da ação que Deus tomaria em um assunto em particular (Tt 1:9). Estes homens não constituem a si mesmos para o desempenho deste papel, nem mesmo são constituídos pela assembleia – como é frequente na Igreja professa atualmente – mas eles são levantados pelo Espírito Santo para este trabalho (At 20:28). A assembleia irá reconhecê-los pelo cuidado devotado aos santos, pelo conhecimento dos princípios das Escrituras e pela demonstração de bom discernimento.

Há três palavras usadas nas epístolas para descrever estes líderes responsáveis na assembleia local.

- Primeiramente, “anciãos” (Presbuteroi). Essa palavra se refere àqueles avançados em idade – implicando maturidade e experiência. No entanto, nem todos os homens mais velhos da assembleia necessariamente atuam no papel de líderes (1 Tm 5:1; Tt 2:1-2)

- Em segundo lugar, “bispos” ou supervisores (Episkopoi). Essa palavra se refere ao trabalho que eles fazem – pastoreando o rebanho (At 20:28; 1 Pe 5:2), cuidando das almas (Hb 13:17) e admoestando (1 Ts 5:12).

- Em terceiro lugar, “guias” ou líderes (Hegoumenos). Isto se refere à capacidade espiritual que possuem em liderar e guiar os santos.

Os pontos acima mencionados não se referem a três diferentes posições na assembleia, mas sim a três aspectos de um trabalho que esses homens fazem. Isto pode ser visto pela maneira como o Espírito de Deus usa os termos alternadamente – compare Atos 20:17 com 20:28 e Tito 1:5 com 1:7. No livro de Apocalipse os que possuem esta função são chamados de “estrelas” e também de “anjo da igreja (local) (Ap 1 a 3). Como “estrelas” eles devem ser testemunhas da verdade de Deus (dos princípios de Sua Palavra) como portadores de luz na assembleia local, trazendo luz sobre os vários assuntos enfrentados pela assembleia.

Isso é ilustrado em Atos 15. Após ouvir sobre os problemas que estavam atribulando a assembleia, Pedro e Tiago trouxeram luz à questão. Tiago aplicou um princípio da palavra de Deus e julgou da forma como ele acreditava que o Senhor desejaria que eles fizessem (vss. 15 a 21). Como “o anjo da igreja”, eles agem como mensageiros que levam a mente do Senhor à assembleia no cumprimento das coisas. Isso também é ilustrado nos versículos 23 a 29.

Como já foi dito, não há nomeação oficial de anciãos/supervisores/guias para este trabalho hoje, como houve na Igreja primitiva (At 14:23; Tt 1:5), porque não há apóstolos (ou pessoas delegadas pelos apóstolos) na terra para ordená-los. Isso não significa que o trabalho de supervisão não possa continuar. O Espírito de Deus continua levantando homens de Deus para exercer a supervisão na assembleia biblicamente reunida (At 20:28). Esses certamente seriam aqueles que um apóstolo iria ordenar se vivesse em nossos dias.

Na carta de despedida de Paulo aos anciãos de Éfeso, ele fornece uma descrição do caráter e trabalho de um ancião/supervisor/guia, usando a si mesmo como exemplo (At 20:17-35). Primeiramente ele destaca o que os mesmos devem ser:

- Coerentes (vs. 18);
- Humildes (vs. 19);
- Compassivos (v. 19);
- Perseverantes (vs. 19);
- Fiéis (vs. 20);
- Comprometidos (vss. 21-24);
- Enérgicos (ou decididos) (vss. 24-27).

Na sequência ele destaca o que eles devem fazer:

- Pastorear o rebanho (vs. 28);
- Vigiar contra duas ameaças: lobos adentrando e homens atraindo discípulos após si (vss. 29-31);
- Utilizar os recursos dados por Deus para aquele trabalho – oração e a Palavra de Deus (vs. 32);
- Ter o ministério de dar (vss. 33-35).

A manutenção da santidade e da ordem

O propósito do governo na igreja é manter a santidade e a ordem na casa de Deus. Isso, tem a ver, principalmente, com duas coisas:

- O cuidado com o que adentra a assembleia. Isso envolve princípios de recepção.
- O cuidado com o que (ou quem) está na assembleia. Isso envolve disciplina na Igreja, caso necessário.

Princípios de recepção

Importar-se com a glória de Deus com relação ao que trazemos à comunhão, é algo que praticamente não existe na cristandade hoje. Ora, a Bíblia ensina que a assembleia deve ter cuidado em não trazer alguém à comunhão que possa estar envolvido com o mal, seja esse mal moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local é responsável por julgar o mal no seu meio excomungando os que praticam o mal (1 Co 5:12), então é natural que se tenha cuidado com o que ou quem é trazido à assembleia.

Tem sido dito, e com razão, que a assembleia local não deve possuir uma comunhão aberta e nem fechada, mas sim, uma comunhão vigiada. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todos os membros do corpo de Cristo a quem a disciplina bíblica não proíbe. Se, por um lado, todo cristão possui o direito de estar à mesa do Senhor, por outro nem todo cristão possui necessariamente o privilégio de estar nela, pois este privilégio pode ser perdido por seu envolvimento com alguma forma de mal.

Quem decide quem deveria estar em comunhão?

É importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. Isto é algo que compete à Palavra de Deus. A razão é que a mesa não é dos irmãos, a mesa é do Senhor (1 Co 10:21). As preferências e gostos pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com a recepção. A decisão vem totalmente da Palavra de Deus. Quando não existir um motivo bíblico para recusar a alguém a comunhão à mesa do Senhor, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já tiver sido batizado, for são na fé e piedoso em seu andar, não existe motivo para ser rejeitado. O nível de conhecimento das Escrituras não é um critério neste sentido. Ainda que seja um crente limitado em seu conhecimento, as Escrituras dizem: “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas” (Rm 14:1).

Todavia, nem sempre se pode determinar de imediato se alguém é são na fé e piedoso em seu andar. Quanto maior a confusão no lugar de onde a pessoa tiver saído, seja do meio cristão ou do mundo, maior a dificuldade de se tomar uma decisão. Se for este o caso, agir com sabedoria pode significar pedir à pessoa que tem o desejo de estar em comunhão que aguarde. Isto não significa que a assembleia esteja afirmando que tal pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia até ser o caso, porém os irmãos podem estar indecisos quanto a isso e por esta razão devem esperar até que estejam convencidos de não ser este o caso, uma vez que são eles os responsáveis diante de Deus pelas pessoas que recebem em comunhão. As Escrituras ensinam: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios” (1 Tm 5:22). Este versículo fala da comunhão pessoal com alguém individualmente, mas o princípio é amplo o suficiente para guiar os santos na comunhão coletiva à mesa do Senhor. Alguém maduro e piedoso não se sentirá ofendido com isso, pois certamente nenhum cristão piedoso iria querer que a assembleia violasse um princípio bíblico. Na verdade, todo esse cuidado deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma comunhão de cristãos onde existe a preocupação com a glória do Senhor e a pureza da assembleia.

Os testemunhos pessoais não seriam suficientes?

Outro importante princípio relacionado a este assunto e que precisa ser compreendido é que a assembleia, biblicamente falando, não faz coisa alguma baseada no que diz apenas uma testemunha. Tudo o que se refere à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio: “Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra” (2 Co 13:1). Confira também o que diz em João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base em seu próprio testemunho. As pessoas naturalmente costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como as próprias Escrituras afirmam: “Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos” (Pv 16:2). E também: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória” (Jo 7:18). Por isso pode ser preciso pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão que aguarde. Assim que os irmãos na assembleia local conheçam melhor a pessoa que deseja estar em comunhão, ela poderá ser recebida com base no testemunho desses.

Este é um princípio que encontramos através das Escrituras. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a este princípio quando Se apresentou a Israel como seu Messias. Ele disse; “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31). Em seguida Ele continuou apresentando quatro outros testemunhos que comprovavam quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar dos vários testemunhos que testificavam dele como sendo o Messias, o Senhor advertiu os judeus de que chegaria um tempo quando eles, como nação, receberiam um falso messias (o Anticristo) sem testemunhas. Ele disse: “Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5:43). Assim o Senhor reprovou a prática de se receber alguém com base em seu próprio testemunho.

Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a igreja no princípio tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, porém foi rejeitado. Apesar de ser verdade tudo o que ele disse aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal, ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, testificando de sua fé e caráter, de modo que então já era o testemunho de duas pessoas, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo “andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo” (At 9:28).


Outro princípio para se receber alguém é que existe a necessidade de se colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém diz ser cristão, é preciso que prove isso deixando de lado todo pecado conhecido. Em 2 Timóteo 2:19 diz que “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”. Veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1. Se essa pessoa não se apartar da iniquidade, seu modo de agir não estará de acordo com sua profissão de fé. Isto é ainda mais importante em uma época de ruína e abandono do testemunho cristão, quando o que não falta são doutrinas e práticas perniciosas de todos os tipos.

Se uma pessoa professa má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois se o fizer ficará em comunhão com o mal que ela traz em seu ensino. (Compare 2 Jo 9-11 e Rm 16:17-18). Não falamos aqui das diferenças de opinião que as pessoas possam ter a respeito de assuntos como o batismo, por exemplo, mas de coisas que digam respeito aos fundamentos da fé cristã. As Escrituras dizem: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15:5-7). Se alguém que professasse má doutrina fosse recebido, como se poderia dizer que a assembleia estaria concorde e “a uma boca” glorificando a Deus? Os irmãos na assembleia estariam dizendo uma coisa e essa pessoa dizendo outra. O resultado seria confusão. Paulo disse aos Coríntios: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Co 1:10).

Associações eclesiásticas

Quando a questão envolve pecado eclesiástico, é preciso paciência e discernimento para identificar isso em alguém. Existe uma diferença entre alguém estar associado ao erro clerical por ignorância e uma pessoa ativamente envolvida e promovendo tal erro. Um crente que talvez ignore a ordem bíblica para a adoração e o ministério cristão pode querer partir o pão à mesa do Senhor vindo de uma denominação criada por homens e onde seja adotada uma ordem clerical. Ainda que essa pessoa esteja associada ao erro eclesiástico, ela não está envolvida com o mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por sua piedade no andar e professar sã doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tenha se desligado formalmente de sua associação com aquela denominação.

A questão é: quando uma associação inconsciente com o erro eclesiástico se torna mal eclesiástico? Cremos que a resposta é simplesmente quando a vontade da pessoa está envolvida nisso. Para detectar essa vontade é preciso que a assembleia tenha um discernimento sacerdotal. Em casos assim a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer a opinião que Ele tem a respeito do assunto. Em condições normais os irmãos deveriam permitir que essa pessoa partisse o pão, esperando e confiando que Deus estaria trabalhando em seu coração e que ela iria abandonar o lugar de onde veio após ter participado da ceia do Senhor, continuando a partir daí congregada com aqueles reunidos ao nome do Senhor.

Isto é ilustrado na passagem em 2 Crônicas 30 e31. Ezequias permitiu que o povo de Judá, e também alguns das dez tribos separadas, participassem da Páscoa e adorassem ao Senhor no divino centro em Jerusalém. Depois de fazerem isso, eles voltaram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelos homens sejam condescendentes com a idolatria; estamos falando apenas do princípio encontrado ali). O que é interessante notar neste caso é que Ezequias não lhes falou para agirem assim! Aquilo foi uma resposta vinda de seus corações pelo simples fato de terem estado na presença do Senhor em Jerusalém.

Todavia, se alguém deseja continuar indo a ambos os lugares regularmente, isto não deveria ser aceito. Como assinalou J. N. Darby, “Pontos de vista eclesiásticos diferentes não representam razão suficiente para colocar fora uma alma. Mas se alguém deseja estar entre os irmãos um dia e no próximo entre os sectários, isso não deveria ser permitido e tal pessoa não deveria ser recebida, pois, ao invés de usar da liberdade que pertence a ela para gozar da comunhão espiritual entre os filhos de Deus, avança na pretensão de mudar a ordem da casa de Deus e perpetuar a divisão dos cristãos. Fica claro que uma pessoa assim não estaria sendo honesta com nenhuma das partes.” Darby também afirmou que a degradação e a corrupção aumentam cada vez mais no testemunho cristão, ficando cada vez mais difícil colocar em prática este princípio. À medida que os dias se tornarem mais sombrios será necessário um discernimento cada vez maior. Atualmente algo assim só tem acontecido esporadicamente.

O visitante ocasional

W. Potter disse: “Eu não concordo com o pensamento de que, às vezes, a participação na Mesa do Senhor é feita, por assim dizer, por conveniência. Por exemplo, como aqueles que entre nós têm parentes que os visitam, sendo estes membros de alguma denominação, e que vêm à reunião e desejam participar conosco da Ceia ‘simplesmente como cristãos’. Pode ser que eles sejam íntegros e tenham uma consciência reta. Porém, eles simplesmente vêm pela ocasião da visita, e não se importam de romper com os amigos com quem reúnem no momento. Nesse ponto eu não concordo.

“Parece-me que, em tais casos, a nossa responsabilidade não é a de recusar a participação deles, mas de colocá-los a par da razão pela qual estamos reunidos, que a nossa posição é um protesto prático contra a falta de base bíblica para as denominações, e que eles, ao participarem conosco no ato da Ceia naquele momento, identificam-se conosco nessa posição, que é de protesto contra aquilo que eles estão conectados e defendem confessadamente. Estariam eles dispostos, mesmo que por ora, a se identificarem conosco? Onde as almas são exercitadas, é outra questão, e parece-me que alguém se sentiria realmente muito à vontade em sentar-se à mesa com eles.

“Não é o exercício da alma o que importa? Assim nenhuma regra pode ser estabelecida. Certamente não viria do Senhor a exigência de que uma alma piedosa e exercitada, conectada com qualquer uma das denominações “tradicionais”, cortasse seus laços com a sua igreja, antes que nós permitíssemos que viesse participar conosco à Mesa. Fazer isso, parece-me, é negar praticamente o terreno sobre o qual estamos reunidos.

Em relação às assembleias que professam estar reunidas ao nome do Senhor, eu acredito tratar-se de outra questão. Elas professam estar reunidas ao Seu nome, e devem saber por que estão em separação de nós e nós delas. Se alguns deles têm o desejo de participar da mesa conosco, as suas razões para isso devem ser examinadas e medidas tomadas de acordo com o que for encontrado. Há sempre mais conhecimento entre eles, como verdade divina, do que com os santos nas denominações, e creio que, em geral, eles não são  tão ignorantes das causas das divisões entre nós, como alguns deles, às vezes, fazem-nos pensar”.

Em Israel havia “porteiros” e “guardadores de porta” que cuidavam dos portões e guardavam as portas da casa de Deus (1 Cr 9:17-27). O dever deles era deixar entrar os que deveriam estar dentro e recusar a admissão dos que deveriam ser mantidos fora. Da mesma forma hoje, em uma assembleia nos moldes bíblicos, haverá este tipo de cuidado.

Outro tipo de ilustração no Antigo Testamento demonstra esse cuidado no recebimento. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino na terra onde o Senhor colocou Seu nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia ao seu redor grande perigo por conta dos inimigos. Consequentemente, eles não abriam as portas para permitir que as pessoas adentrassem a cidade até que “o sol aquecesse” [literalmente “meio-dia”] (Ne 7: 1-3.). Eles se certificavam de que não havia nenhum vestígio de “escuridão” ao redor antes de receberem as pessoas na cidade. Até aquele momento, os que queriam entrar tinham que esperar. Enquanto a escuridão da cristandade aumenta nestes últimos dias, são necessários cuidados deste tipo no recebimento.

Disciplina na Igreja

Uma assembleia nos moldes bíblicos também exercerá disciplina quando necessário. Se os anciãos que cuidam do rebanho virem uma pessoa  com um mau comportamento, de alguma forma, eles vão agir para corrigi-la (Hb 13:17). Isto será feito para a glória do Senhor, mas também em amor para com o indivíduo que está se extraviando. Eles vão se sentir responsáveis por agir a este respeito, porque sabem que a Palavra de Deus diz: “Se tu deixares de livrar os que estão sendo levados para a morte, e aos que estão sendo levados para a matança; se disseres: Eis que não o sabemos; porventura não o considerará aquele que pondera os corações? Não o saberá aquele que atenta para a tua alma? Não dará ele ao homem conforme a sua obra?” (Pv 24: 11-12). Como vigias sobre o muro, eles são responsáveis ​​por “tocar a trombeta” para soar um alerta quando veem algum perigo. Ao fazê-lo, eles livram suas próprias almas, porque Deus os considera responsáveis ​​(Ez 33:1-6; Hb 13:17).

Existem três principais áreas de preocupação em que um indivíduo pode se extraviar. Em cada caso, os que cuidam do rebanho e são responsáveis ​​por manter a santidade e a ordem na casa de Deus vão tentar lidar com o problema antes que ele fique fora de controle. Se eles puderem corrigir o curso que uma pessoa está percorrendo antes que ela atinja um ponto em que a assembleia deverá colocá-la fora da comunhão, terão feito um bom trabalho e terão livrado essa pessoa de muita dificuldade e sofrimento em sua vida (Tg 5:19-20). Isso pode ser feito por qualquer um que se preocupa com a pessoa, mas os anciãos/supervisores são primeiramente responsáveis ​​por este trabalho. Por conseguinte, eles vão tomar certas ações preliminares com a pessoa no erro, dependendo do rumo no qual a pessoa está. Isso mostra que a maior parte de toda a disciplina da Igreja deve ser exercida para com uma pessoa que ainda está em comunhão.

Os cenários seguintes dão o procedimento geral. É reconhecidamente difícil delinear o porquê de estas coisas não poderem ser arregimentadas e tratadas como se estivéssemos consultando um manual ou livro; cada caso deve ser tratado em seu próprio mérito, e não existem dois casos idênticos. A Escritura pressupõe que aqueles que fazem este trabalho são pessoas espirituais que irão lidar com esses casos com discernimento “espiritual” (Gl 6:1; 1 Co 2:15).

Uma pessoa mundana - (com andar imperfeito). Isso pode incluir um grande número de desordens morais nas quais uma pessoa poderia estar envolvida (1 Co 5:11, etc.).

- Aqueles que se importam com o rebanho vão tentar “restaurar” a pessoa surpreendida em alguma falta, com espírito de mansidão, indo a ela com a Palavra de Deus (Gl 6:1; Jo 13:14). Eles procurarão alcançar o coração e a consciência da pessoa de uma forma gentil e carinhosa, num esforço para afastá-la do curso que ele ou ela possam se encontrar.

- Se isso não alcançar a pessoa, o próximo passo será o de “alertar” a pessoa em uma repreensão privada (1 Ts 5:14). Isso seria mais firme e direto.

- Se a pessoa persiste em seu curso, mas não em um pecado em particular que exija a excomunhão, aqueles que assumem a liderança na assembleia podem encorajar os santos a se “afastarem” da pessoa para que sua consciência seja tocada, assim, ela poderá julgar-se a si mesma (2 Ts 3: 6-15).

- Se um pecado em particular se torna manifesto e exige a excomunhão, a assembleia terá que agir na tomada de uma decisão de julgamento obrigatória para “colocar para fora” a pessoa que está entre eles. (Mt 18: 18-20; 1 Co 5:11-13).

UMA PESSOA HERÉTICA/HEREGE- (com erros doutrinais). Esta seria uma situação em que uma pessoa adota doutrinas errôneas consideradas heterodoxas.

- Os responsáveis ​​na assembleia tentarão corrigir o indivíduo de seu erro e “intimá-lo” a não ensinar outra doutrina que não seja a ortodoxa (1 Tm 1:3).

 - Se a pessoa insiste em ensinar suas ideias errôneas na assembleia, a assembleia é responsável por “julgar” os seus ensinamentos e chamá-la a ficar em silêncio nas reuniões (1 Co 14:29). Isso poderia ser chamado de “a disciplina do silêncio”.

-  Se as doutrinas da pessoa têm caráter de blasfêmia, tocando a Pessoa e a obra de Cristo, a assembleia deverá colocá-la fora de comunhão. O apóstolo Paulo fez isso com Himeneu e Alexandre, entregando-os a Satanás, para que “aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1:20). A assembleia não pode entregar diretamente a Satanás como um apóstolo podia fazer, mas pode colocá-la fora de comunhão, onde Deus julga.

- Se os santos entram em contato com essa pessoa na profissão cristã em geral, elas devem se “afastar” dos tais que têm ensinamentos errôneos e que pervertem a fé dos santos (2 Tm 2:16-19).

A PESSOA QUE CAUSA DIVISÃO (com espírito herege). Esta é uma pessoa que cria divisão na assembleia, tendo um espírito partidário em alguma causa. Este é mais um mal eclesiástico e, geralmente, é o mais difícil de detectar-se entre todos os males. J. N. Darby disse: “impiedade Eclesiástica é sempre o pior.” Uma vez que isso é prejudicial para a saúde da assembleia, deve ser tratado.

- Os irmãos devem identificar e “evitar” aqueles que provocam divisões e escândalos na reunião (Rm 16:17-18). Nota: Isso não quer dizer: “note os que seguem em divisões”, mas aqueles que “causam” divisões. Isto significa que devemos distinguir entre os líderes e os liderados quando um espírito de partidarismo surge na assembleia.

- Aqueles que pressionam em questões que dividem os santos muitas vezes fazem isso liderando uma rebelião contra os que tomam a dianteira da assembleia. Os que pecam por trazer acusações infundadas contra um ancião, a assembleia deve “repreendê-los na presença de todos” (1 Tm 5:19-20). A repreensão pública está ordenada para quando alguém divide os santos em linhas de partidarismo (Gl 2:12-14).

- Se a pessoa continua a propagar suas questões e a dividir o rebanho, a assembleia tem motivos para excomungá-la. Semear a discórdia entre os irmãos é uma “abominação” ao Senhor (Pv 6:16-19), e algo que é abominável ao Senhor não deve estar em comunhão à Sua mesa. Por conseguinte, a pessoa deve ser afastada.

- Se alguém na assembleia se encontrar com um líder de uma divisão colocado fora da comunhão ou acompanhar essa pessoa, eles devem “admoesta-lo mais uma vez” (Tito 3:10). Se houver qualquer outro encontro com ele, devem “evita-lo”, porque ele está pervertido (Tito 3:10).

Três razões para Excomunhão

Existem três razões principais pelas quais a assembleia deve afastar da comunhão pessoas que estão no erro.

1) A Glória do Senhor - A assembleia deve ter cuidado de não permitir que o nome do Senhor seja associado ao mal diante do mundo. Quando os coríntios agiram para a glória do Senhor e colocaram para fora a pessoa imoral que estava no meio deles, o apóstolo Paulo escreveu os elogiando e dizendo: “Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio” (2 Co 7:11). Eles agiram com zelo veemente e vingança para a glória do Senhor.
 
2) A santidade na Assembleia deve ser mantida - Há duas razões para isso. Em primeiro lugar, a assembleia é lugar da habitação de Deus (Ef 2:22). Ela deve ser mantida como um lugar adequado para a Sua santa presença. O Senhor habita no meio do Seu povo reunido ao Seu nome (Mt 18:20) e, portanto, a assembleia deve manter o mal fora do seu meio para que continue a ser um lugar adequado para Sua presença. “A santidade convém à tua casa, Senhor, para sempre” é um princípio verdadeiro em cada dispensação (Sl 93:5). “O que usa de engano não ficará dentro da minha casa” (Sl 101: 7; 1 Co 3:17; Nm 5: 1-4). A segunda razão é o caráter de fermento do pecado. A Escritura ensina que a associação com o mal contamina. O apóstolo Paulo disse: “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa” (1 Co 5:6-8; Gl 5:9-12). Se a assembleia não afastar o mal de seu meio, não demorará muito para que outros sejam afetados por ela, porque “as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15:33).

3) A Correção e Restauração do Ofensor - A ação da assembleia de colocar alguém fora da comunhão também deve ter em vista o bem da pessoa que erra. Ela é posta para fora da convivência para que possa ser contristada para arrependimento e restaurada para o Senhor. “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1 Co 5:11). Isto se refere a nem mesmo fazer uma refeição qualquer com a pessoa. Quando a pessoa estiver arrependida e tiver julgado o seu pecado, a assembleia irá recebê-la de volta à comunhão. O apóstolo Paulo disse: “Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor” (2 Co 2:6-8). Esta é uma ação administrativa da assembleia ao desligar alguém.  (Mt 18:18).

A atitude apropriada da assembleia na excomunhão

A assembleia deve ter sempre em pauta o assunto de seus pecados. A sua atitude em excomungar alguém deve ser de luto, reconhecendo que eles falharam em não conseguir alcançar a pessoa quando esta estava caminhando rumo ao pecado. Isto é o que os coríntios não fizeram. Paulo lhes disse: “Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação” (1 Co 5: 2). Cada um na assembleia deve buscar em seu coração perguntando a si mesmo, “O que eu poderia ter feito para evitar a queda dessa pessoa?” Devemos ver que temos parte nisso, em não termos guiado/pastoreado a pessoa adequadamente, ou não termos orado por essa pessoa o suficiente, etc. É sobre isso que se refere o comer a oferta pelo pecado (Lv 6:26).

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Resumo: Uma assembleia biblicamente reunida terá aqueles que irão assumir a liderança administrativa para garantir que a santidade e a ordem sejam mantidas.

Extraído do livro "The Search for a Scripturally Gathered Assembly" de Bruce Anstey



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