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"Todos os que lançarem mão da espada" - John Kulp

Estas palavras de suave repreensão foram ditas pelo Senhor Jesus a Seu discípulo, Pedro, logo após Judas ter traído o Mestre. Pedro tinha acabado de sacar sua espada com a qual cortou a orelha de um servo do sumo sacerdote, quando Jesus disse-lhe: "Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão." (Mateus 26:52; João 18:11). O Senhor deixou bem claro que Ele não desejava que Seus discípulos se levantassem em defesa dele, independente de quais fossem suas boas intenções.


Mas o que pode não ser tão claro para os cristãos é este comentário enigmático do Senhor Jesus, encontrado apenas no evangelho de Mateus, no qual ele parece estabelecer uma relação de causa e efeito entre usar uma arma letal e sofrer a morte por sua instrumentalidade. Que lição Ele quer ensinar a Pedro e, por extensão, a todos os Seus discípulos ao longo dos séculos?

Creio que podemos descartar um par de possíveis significados dessas palavras tomadas pelo seu valor nominal. Quando Jesus disse "todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão" (Mateus 26:52), parece óbvio que ele não quis dizer que a declaração fosse no sentido mais literal, pois milhões já tomaram da espada e outras armas e viveram uma vida longa, morrendo mais tarde de morte natural. Por outro lado, muitos cristãos que recusaram se defender usando força letal, ou que tiveram objecção de consciência para empunhar a espada em guerras contra potências estrangeiras, sofreram mortes violentas por causa de sua fé e de sua posição em prol da verdade da Palavra de Deus . Para confirmar isso basta apenas observar a morte violenta de Jim Elliot (aos 28 anos) e de seus compatriotas em 1956, os quais poderiam ter facilmente eliminado seus assassinos, índios Auca, usando as armas que tinham, mas optaram por não "tomarem a espada" em defesa própria.

No entanto, estaríamos manuseando descuidadamente as Escrituras se minimizássemos ou passássemos por cima desta palavra do Senhor por ela não poder ser tomada literalmente. Ele nunca disse uma palavra vã, nem uma frase que possamos nos dar ao luxo de tratar levianamente. Você e eu poderíamos ter dito algo parecido com a melhor das intenções durante um momento de aprendizado como aquele, mas depois, quando colocados sob pressão, não sermos capazes de justificar de forma coerente nossa declaração precipitada. Não é assim com o Senhor Jesus; Suas palavras eram cheias de significado, e Ele deixou que seus discípulos procurassem esse significado. "A glória de Deus está nas coisas encobertas; mas a honra dos reis, está em descobri-las." (Provérbios 25:2).

Considere isto: Quando alguém empunha uma arma acaba se prontificando a recorrer à violência, ou talvez mais particularmente, acaba assumindo a responsabilidade de recorrer a meios violentos para obter um fim desejado, seja ele egoísta ou altruísta em sua natureza. Muitos têm admirado os métodos do Dr. Martin Luther King, Jr. e de Mohandas Ghandi, dois homens que defendiam o ideal de resistência não-violenta contra a opressão (embora devemos notar que tomar essa posição não-violenta não salvou nem Martin Luther King e nem Ghandi de mortes violentas nas mãos de assassinos). Eles adotaram a posição da não-violência e colheram uma recompensa por isso, em termos de seus legados entre os seus povos, e em termos da admiração que grande parte do resto do mundo ainda nutre por eles. "Eles já receberam o seu galardão" (Mateus 6:2).

Então que posição um cristão deveria adotar? Parece claro que o Senhor procurou incutir em seus discípulos que adotar uma posição não-violenta é o caminho moralmente mais elevado, e que, ao usar de armas carnais contra contra um mal* o crente acabará no caminho moralmente baixo, onde a morte prevalece e aprovação do Senhor deixa de existir.

Em 1531 Ulrich Zwingli, um líder na Reforma suíça, aparentemente desprezou o exemplo de não-violência dos Irmãos Anabatistas Suíços e pegou em armas juntamente com muitos outros pastores para defender Zurique de uma invasão proveniente dos territórios católicos da Suíça. Ele voluntariamente se colocou sobre o terreno da resistência violenta e logo acabou morto no campo de batalha aos 47 anos de idade. Zwingli até mesmo sofreu a indignidade póstuma de ter Martinho Lutero, em reconhecimento da soberania de Deus, comemorando a notícia de que ele e seus partidários estavam mortos.

Agora você pode estar se perguntando: Se uma morte violenta veio cedo tanto para Jim Elliot como para Ulrich Zwingli, independentemente do respectivo nível moral que eles adotaram (o que, em ambos os casos, pareceu apressar suas mortes), então como podemos alegar que suas posições tivessem quaisquer importância no final?

Minha opinião é que a escolha de Zwingli foi uma escolha tola, e embora ele possa ter sido um verdadeiro crente em Cristo, empunhar a espada nada mais foi do que tentar edificar com a palha que será queimada no final, isto é, uma tentativa carnal de se edificar o "templo de Deus". Mas Jim Elliot morreu edificando o "edifício" com os materiais à prova de fogo, como ouro, prata e pedras preciosas**, um verdadeiro mártir da causa de Cristo. Sessenta anos mais tarde ainda há um consenso geral entre os cristãos de que ele não era nenhum tolo***. Ele escolheu, pela fé, o caminho moral mais elevado de recusar empunhar a espada para se defender da perseguição, resultando em muitos frutos para Cristo neste mundo, "e no mundo futuro, a vida eterna" (Marcos 10:30). Jim Elliot e seus amigos não se aventuraram no terreno da violência e da morte, mas preferiram o caminho da vida e paz espirituais (Romanos 8:6).

* Veja também Mateus 5: 38-40; João 18:36; II Coríntios 10: 3-4
** 1 Coríntios 3:10-17
*** Jim Elliot escreveu em seu diário em 28 de outubro de 1949: "Não é nenhum tolo quem dá o que não pode manter para ganhar o que não pode perder".

Extraído de "Greater Riches", John Kulp
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