"Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo
Seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos pois a Ele fora do arraial,
levando o Seu vitupério" (Hb 13:12-13).
Há muito mais
envolvido no tocante convite "saiamos a Ele", do que uma mera fuga
dos absurdos da superstição ou dos esquemas de um lucrativo negócio religioso.
Existem homens que conseguem explicar tudo, usando de poder e eloquência. São
pessoas que se encontram muito longe de qualquer pensamento de atender ao
chamado do apóstolo. Quando os homens estabelecem um "arraial", saem
fazendo seus comícios que giram em torno de um padrão que contenha algum dogma
importante da verdade, um credo ortodoxo, uma linha doutrinária mais clara, ou
algum ritual esplêndido. É preciso ter muita inteligência espiritual para se
discernir a verdadeira força que há nas palavras: "Saiamos", e muita
energia espiritual e poder de decisão para agir.
Deve haver discernimento
e ação, pois é perfeitamente evidente que a atmosfera de um arraial é
perniciosa para a comunhão pessoal com um Cristo rejeitado. Nenhuma vantagem
religiosa pode jamais substituir a perda dessa comunhão. Existe em nosso
coração a tendência de nos deixarmos levar por um formalismo frio e
estereotipado. Foi sempre assim na igreja professa. Formalismos podem talvez
ter tido origem em poder real; podem ter sido resultado de verdadeiras
intervenções do Espírito de Deus. A tentação está em se manter um estereótipo
quando o espírito e poder já não existem. Em princípio, isto é estabelecer um
arraial.
O sistema judaico
podia se gabar de ter tido origem divina. Um judeu podia triunfantemente
apontar para o templo com todo o seu esplêndido sistema de adoração, seu
sacerdócio, seus sacrifícios, seu mobiliário, e demonstrar que tudo aquilo
havia sido dado diretamente pelo Deus de Israel. Ele podia citar o capítulo e
versículo de tudo o que estava conectado com aquele sistema. Onde está o
sistema, seja ele antigo, medieval ou moderno, que possa ter a mesma pretensão
com igual peso de autoridade? E ainda assim, a ordem era: "Saiamos".
Este assunto tão
profundamente solene diz respeito a todos nós. Estamos sempre prontos a
abandonar a comunhão com um Cristo vivo e mergulhar em uma rotina morta. Daí o
poder prático das palavras: "Saiamos pois a Ele". Não se trata
de sair de um sistema para entrar em outro - de um conjunto de opiniões para
outro - de um grupo de pessoas para outro. Não, mas sair de tudo aquilo que
possa ser caracterizado como um arraial; sair a Ele que sofreu fora da
porta. O Senhor Jesus está tão completamente fora da porta agora quanto Ele
estava quando sofreu lá há quase vinte séculos. O que foi que O levou para
fora? O mundo religioso daquela época. O mundo religioso daquela época é, em
espírito e princípios, o mesmo mundo religioso de hoje. O mundo continua sendo
mundo. Cristo e o mundo não têm nada em comum.
Em muitos de seus
aspectos, o mundo cobriu-se com um manto de cristianismo, mas apenas o
suficiente para se assegurar que seu ódio a Cristo possa, sob a superfície, se
aprimorar para formas cada vez mais destrutivas. Não nos enganemos. Se andarmos
com um Cristo rejeitado, acabaremos sendo também pessoas rejeitadas. Se nosso
Senhor "padeceu fora da porta", não podemos esperar reinar do lado de
dentro da porta. Se andarmos em Suas pegadas, para onde elas nos levarão?
Certamente não será aos lugares elevados deste mundo ímpio e sem Cristo.
Seu caminho, que do
mundo não granjeou sorrisos,
O levou à cruz, onde
aguardavam terríveis castigos.
Ele é um Cristo
desprezado - um Cristo rejeitado - um Cristo fora do arraial. Oh, querido
cristão, saiamos a Ele levando Sua vergonha. Não busquemos o favor do mundo, já
que ele crucificou e continua odiando nosso Amado, a Quem devemos tudo tanto
agora como sempre. Ele é Aquele que nos ama com um amor que as muitas águas não
poderiam apagar. Vivamos para Ele que morreu por nós. Enquanto nossas
consciências repousam no Seu sangue, deixemos que as afeições de nosso coração
se entrelacem com Sua Pessoa, de modo que nossa separação deste "presente
século mau" não seja apenas uma fria questão de princípios, mas uma
apaixonada separação pelo fato de Aquele, que é o Objeto de nossas afeições, não
estar ali.
Que o Senhor possa nos
livrar desse costume tão comum em nossos dias que é o de agirmos por interesse,
atitude essa à qual não falta religiosidade, mas que é inimiga da cruz de
Cristo. O que é necessário para permanecermos firmes contra essa terrível forma
de mal não são opiniões peculiares, princípios especiais ou uma fria exatidão
intelectual. Precisamos de uma profunda devoção à Pessoa do Filho de Deus; uma
completa consagração de coração, corpo, alma e espírito, ao Seu serviço; um
desejo sincero por Sua gloriosa vinda. Possamos, portanto, eu e você, nos unir
em um só clamor que saia do fundo de nosso coração, a dizer: "Não tornarás
a vivificar-nos, para que o Teu povo se alegre em Ti?" (Sl 85:6).
C.H.Mackintosh, Christian Treasury, Ago/94.
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