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Jejum - Melqui Araujo

P. Poderia me responder, se o jejum feito para que uma crise financeira seja vencida,ou pra vencer qualquer tipo de problema difícil em qualquer área ,é válido diante de Deus?

R Não. O jejum não tem a intenção de fazer com que o crente vença, na verdade, está em oposição a isto; ele faz com que você perca, e não é de finanças que estou falando. Estou falando de colocar a si mesmo em prejuízo, negando a satisfação do seu próprio corpo para se dedicar a Deus. É negar o pão ao seu corpo, e deixar com que a fome pelo verdadeiro pão, Cristo, seja o mais importante. Basicamente é a renúncia de algo que seja lícito ou bom, em si mesmo, como comida, com a intenção de expressar a sua necessidade por algo que seja maior, Cristo e seus interesses. Você não terá uma experiência profunda com Cristo até que abra mão de si mesmo para viver para Cristo. O jejum é apenas uma parte disto, mas, uma vida em “jejum dos prazeres do mundo” é o estado normal de um cristão saudável em sua fé.

Geralmente o jejum está associado a um estado de tristeza, lamento e arrependimento ( Jz 20:26,1 Sm 7:6 Ne 1:1-11), mas, em algumas circunstâncias, podemos ver oração e jejum diante de grandes crises. Em 2 Crônicas 20, lemos o relato do cronista sobre o rei Josafá, rei de Judá, juntamente com o povo de seu reino orando e jejuando diante de uma crise, uma ameaça militar muito mais poderosa do que os exércitos de Judá. Eram os exércitos de Moabe, Amom e Edom, três nações palestinas. Eles não resistiriam à ameaça daquela poderosa confederação por meio de seus próprios esforços, uma vez que seu poder bélico não podia fazer face à ameaça, portanto, eles recorreram a quem os poderia ajudar, o Senhor dos exércitos.

Mas há uma diferença enorme nas motivações de Josafá. Ele não orou para que pudesse vencer, como se fosse uma troca, algo como : “ Eu oro e jejuo e o Senhor me fará vencer.” Absolutamente, não! Eles oraram e jejuaram porque não podiam contra a ameaça, eram impotentes, e só podiam recorrer ao poder soberano que emana dos céus. Eles oraram e jejuaram porque estavam angustiados, portanto pediram socorro a Deus, e o Senhor os salvou.

Em 2 Samuel 12 ,podemos observar Davi orando e jejuando pra tentar reverter a vontade soberana de Deus em relação à vida de seu filho. Ele se humilha diante de Deus, ora e jejua, buscando a misericórdia de Deus, mas isso não teve efeito, porque a vontade de Deus já estava determinada.

Quando a criança morre, ele se levanta, come pão e, questionado sobre a razão de ter agido assim, ele se justifica dizendo que o jejum não era mais necessário, porque a criança já estava morta, era irreversível. Este caso é excelente para mostrar que nem mesmo a oração e jejum tem poder para modificar o desígnio soberano de Deus, como muitas instituições religiosas tem ensinado. Não se pode comprar a vontade de Deus com devoção piedosa. Você pode orar e jejuar diante de uma crise e ainda assim se ver como um perdedor, porque assim Deus quis e pode ter algo a te ensinar com isso.

É importante entender que, de forma alguma, o jejum foi ordenado à Igreja, diferente da oração, como podemos ler: “ Orai sem cessar” ( 1 Ts 5:17). O jejum é algo individual, que deve ser feito de maneira secreta, sem que ninguém saiba, assim, é algo para os olhos de Deus, não dos homens.(Mt 6:16-18) Jesus já alertava o perigo de se jejuar por motivações erradas, porque há um risco de escorregar e cair na legalidade, como os fariseus.

Em Mateus 9:14-15, o jejum tem seu sentido mais aprofundado para o coração do crente. Os discípulos de Jesus não jejuavam, porque não era apropriado, enquanto tinham o gozo de sua presença. A tristeza não ocupava o coração daqueles discípulos, mas quando ele fosse tirado, eles jejuariam. 

Isso, mais uma vez, nos indica que o jejum está associado à tristeza, mas aqui o significado é amplificado. O jejum nunca esteve associado à Cristo, até aqui. Por que os discípulos jejuariam? Tendo eles experimentado o prazer e a alegria da presença pessoal de Cristo, isso lhes seria tirado, portanto seus corações experimentariam a tristeza da ausência de Cristo e, certamente, clamariam em oração e jejum: “Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!” Entendo que, talvez, a mensagem que reverberaria de seus corações seria algo como: “ Volte, Senhor! Temos saudades de ti.” Só quem experimentou a realidade da presença de Cristo, pode orar e jejuar pela agonia provocada pela sua ausência.

Estamos neste estado, vivendo em um mundo que odeia o Senhor e também nos odeia. Cristo está no céu, oculto de nossos olhos e, agora, só o vemos por fé. Portanto, nos é apropriado o jejum e oração, enquanto andamos em fraqueza, aguardando que Ele venha nos buscar.

Em uma caminhada cristã, às vezes passamos por momentos de pouco poder espiritual. O trabalho, a família, os negócios, os anseios, as responsabilidades, o entretenimento e muitas outras coisas, mesmo que lícitas. O excesso destas coisas nos tiram o gozo de uma comunhão íntima com o Senhor. O mundo está nos consumindo e não temos mais tanto tempo em comunhão, logo, sentimos fraqueza em nossos corações . Em momentos assim, a oração e o jejum podem nos ajudar. A oração abre a comunicação com o céu e o jejum fecha a porta para a satisfação da carne e, tudo o que temos é o Senhor diante de nossos olhos.

Em Atos 13, vemos o reflexo do que o Senhor Jesus ensinou em Mateus 9 que, na ausência do Senhor, eles jejuariam. Vemos profetas e doutores, servindo, orando e jejuando. Eles estavam adorando em um estado humilhado, de total dependência do Senhor, aguardando por direção. Nesta ocasião, vemos que durante este momento de entrega e abnegação, o Espírito Santo, separou Paulo e Barnabé para uma obra, que resultou em uma das maiores evangelizações do mundo. Isso nos mostra que a oração e jejum se tornaram instrumentais na vida dos crentes no princípio da Igreja, sobretudo para direção no serviço.

É importante notar que, nem toda a Igreja estava presente ali, apenas 5 homens da congregação de Antioquia. Isso, porque, como já mencionamos, o jejum não é ordenado à Igreja. Isso parte da vida devocional de cada crente. Portanto, não deveriam existir imposições para um jejum congregacional liderado por um clero, como vemos nos dias de hoje. Isso não tem base bíblica.

Entendo que, passar por uma crise financeira seja algo de natureza dolorosa, mas a ideia de que jejuar compraria algum tipo de favor de Deus é completamente equivocada e está associada com a “teologia da prosperidade”, onde favores financeiros, crises matrimoniais e filhos rebeldes podem ser consertados oferecendo a Deus sacrifícios pessoais. A oração e o jejum, juntos, são uma entrega pessoal abnegada, não uma garantia do favor de Deus, ou obtenção de bênçãos. Isso é mais uma mentira contada por falsos mestres, onde apelam para o lado religioso legalista que há no homem.

A tentativa é de produzir obras para que Deus retribua os seus sacrifícios pessoais. Estes homens não cessam de fazer apelos até que os incautos abram as suas carteiras ou revelem o número de sua conta bancária e a senha do cartão. São cães gulosos, lobos devoradores, já previstos na carta de Paulo a Timóteo:

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. 2 Timóteo 3:1-5

Ademais, como cristãos, devemos apreender algumas verdades básicas da fé. Uma delas é que já fomos abençoados com todas as bênçãos, mas elas não estão associadas à vida na terra, mas estão associadas as coisas celestiais, como tudo que nos diz respeito. ( Ef 1:3) Isso significa que não devo pedir a Deus auxílio a Deus à respeito das finanças? Absolutamente, não! Certamente Deus se preocupa com cada uma de nossas necessidades e tem deleite em nos ouvir, em espírito dependente, pedindo que Ele nos ajude em todas as coisas. Ele nos ajudará, e isso é uma promessa, contanto que nossa finalidade não seja a avareza. 

 Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei. Hebreus 13:5 

 Além disso, Deus não deseja que o cristão ande em dívidas, que podem ter sido contraídas por um desemprego, doença na família ou algum imprevisto que não estava no orçamento.( Rm 13:7-8) Entenda que o Senhor jamais prometeu tornar algum cristão rico, mas promete o sustento de nossas necessidades e, com isso, devemos estar contentes.(Mt 6:26-34; 1 Tm 6:8) O que quero dizer é que, muitas vezes, já temos o que precisamos, só não temos gratidão ao Senhor pelo seu cuidado. 

 Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Tiago 4:3 

 Se eu estivesse em uma crise, impotente diante de alguma circunstância, como o caso de Davi ou Josafá, certamente oraria e jejuaria, como já esclarecemos aqui. Mas isso não seria na intenção de que Deus me retribua por isso, como se merecesse algo de suas mãos, não mereço. Isso seria para me humilhar diante de sua soberana vontade, expressando de forma dependente e abnegada, através de minha alma e corpo: “Eu dependo e anseio por ti.” 

 por Melqui Araújo

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