No dia de Pentecostes, e por algum tempo em seguida, parece que os novos convertidos não se sujeitavam a nenhum exame relativo à realidade de sua fé, nem por parte dos apóstolos e nem pelos demais. "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas" (Atos 2:41). Dessa forma, o receber da Palavra era o terreno para o batismo, e para a comunhão; mas a obra era inteiramente feita pelas mãos de Cristo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar. (Atos 2:47, in fine). A mentira de Ananias e Safira foi prontamente detectada. Pedro age na sua devida posição, mas o Espírito Santo estava lá em alegre majestade e poder, revelando a Pedro. Logo, Pedro diz a Ananias: “por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?”.
Todavia, esse estado virgem das coisas logo passou. O fracasso se estabeleceu – o Espírito Santo estava entristecido, e tornou-se necessário examinar os pretendentes, para ver se os seus motivos, objetivos e estado de alma estavam de acordo com a mente de Cristo. Nós estamos hoje nas condições das coisas descritas em 2 Timóteo 2. Apenas devemos ter comunhão “com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Após a igreja ter-se tornado essa mistura contendo professos meramente nominais, enorme cuidado era necessário no recebimento de pessoas à comunhão. Não era suficiente que a pessoa professasse ser convertida e alegasse admissão à igreja baseado nas suas próprias palavras: ela deveria submeter-se a ser examinada por cristãos experientes. Quando alguém professa reconhecer o pecado, e arrepender-se diante de Deus, e fé no Senhor Jesus Cristo, sua confissão deve ser examinada por aqueles que passaram pelo mesmo tipo de experiência. E mesmo quando a confissão é manifestamente genuína, precisa haver um divino cuidado, com amor, na recepção; algo desonroso para Cristo, lesivo para eles, que pudesse expor a assembleia à fraqueza, poderia acabar sendo aceito, mesmo que inconscientemente. É aí que deve haver o discernimento espiritual. E isso é agir com verdadeira caridade para com o pretendente, e nada mais que um cuidado necessário à honra de Cristo e à pureza da comunhão. A comunhão cristã seria posta ao fim se as pessoas fossem recebidas apenas com base nas suas opiniões sobre si mesmas.
Em Atos 9 vemos o funcionamento prático desse princípio no caso do grande apóstolo. E com certeza, se ele não pôde ser aceito sem adequado testemunho, quem iria questionar? Deveras, seu caso era peculiar, mas mesmo assim pode ser utilizado como ilustração prática para o nosso assunto.
Encontramos tanto Ananias em Damasco, quanto a igreja em Jerusalém, questionando a realidade da conversão de Saulo, apesar de ter sido um fato milagroso. Certamente ele havia sido um inimigo declarado do nome de Cristo, e isso tornava os discípulos ainda mais cuidadosos. Ananias hesitou em ir batizá-lo até estar completamente satisfeito com sua conversão. Ele questiona o Senhor sobre o assunto, e após escutar Seus pensamentos, vai direto a Saulo; isso lhe dá a certeza de que Saulo foi enviado pelo mesmo Jesus que lhe apareceu no caminho de Damasco, e confirma a verdade do que se havia estabelecido. Então Saulo é bastante confortado, recebe de volta sua visão, e é batizado.
De forma semelhante, quanto à ação da igreja em Jerusalém, lemos “E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo. Então, Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor, e este lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus”. Paulo é um homem modelo para a igreja em diversos aspectos, e nisto também. Ele é recebido na assembleia – como todos os pretendentes devem ser recebidos – no terreno de um adequado testemunho como cristão genuíno. Da mesma forma que deve haver cuidado divino para que sejam detectadas pessoas como o mago Simão, toda a generosidade e paciência devem ser exercitadas com os tímidos e duvidosos. Assim, deve-se procurar consistência e vida em Cristo. (ver Rom. 14, 15; 1 Cor. 5 e 2 Cor. 2) O caminho da igreja é um caminho estreito.
O papado demonstrou na história sua desesperada impiedade ao aplicar com maldade a prerrogativa da igreja de reter e remir pecados, e disso decorreram todas as abominações do absolutismo sacerdotal. O protestantismo foi ao outro extremo – provavelmente temendo a simples aparência do papado – e deixou de lado a disciplina quase que completamente. O caminho da fé é seguir a palavra do Senhor.
Extraído de "Miller's Church History" - Andrew Miller
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