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A Viagem de Paulo de Bons Portos até Malta - G.H. Hayhoe

Na reimpressão deste pequeno livro algumas ligeiras mudanças foram feitas para esclarecer alguns pontos. Eu confio que isso seja para mostrar novamente o senso de humilhação que tem aquele que fala sobre ‘manter a palavra de Cristo e não negar o Seu Nome’ nestes últimos dias. (Ap 3:8). E, contudo, para aquela mesma assembleia (Filadélfia) houve encorajamento pela Sua palavra: "Eis que venho sem demora: guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa." (Ap 3:11).


Como fraquezas e falhas tornaram-se mais aparentes por toda parte, é agora muito fácil deixar o caminho da obediência e escolher as posições populares dos dias de hoje. Mas se estivermos humilhados diante do Senhor descobriremos que ainda há um caminho para a fé, independente da maneira como as trevas aumentem, e Ele dará graça e poder para andarmos nesse caminho. Possa Ele nos manter para Sua glória até que ouçamos Sua voz e vejamos Sua face. “Amém. Ora vem, Senhor Jesus.” (Ap 22:20).

A Viagem de Paulo de Bons Portos até Malta (e suas lições)

Ao lermos aquilo que Deus registrou para nós sobre a viagem de Paulo a partir de Bons Portos até Malta, no capítulo 27 de Atos, nos alegramos pelo belo relato de Seu cuidado infalível para com os Seus. Ele que está interessado em cada detalhe de nossas vidas, faz tanto as ondas como o vento obedecer a Sua vontade. Que possamos aprender a confiar mais Nele, pois, “Ele faz bem todas as coisas”, e é sempre merecedor da nossa total confiança. Mas, embora seja isso muito abençoado em si mesmo, cremos que há também muitas lições profundas para aprendermos dessa viagem memorável. Quando o Espírito de Deus entra em tais detalhes como os que temos aqui, temos certeza que Ele está descrevendo algumas importantes figuras para nossas mentes, e assim temos que tirar proveito disso. Vamos, então, olhar para o capítulo cuidadosamente e em oração buscar graça do Senhor para aprender as lições que Ele tem para nós aqui.

O livro de Atos nos mostra, historicamente, o início da igreja (a assembleia). A igreja de Deus foi formada em Jerusalém no dia de Pentecostes e à medida que avançamos no livro podemos seguir com grande interesse a energia do Espírito de Deus reunindo de entre os judeus, samaritanos e gentios, um povo para Seu Nome (At 15:14). Como as assembleias foram formadas pelo Senhor, acrescentando Ele diariamente aqueles que se haviam de salvar (At 2:47), notamos o cuidado que Deus estava tendo para manter uma unidade entre eles. Há UM só corpo (Ef 4:4). Os samaritanos não receberam o Espírito Santo até que Pedro (um judeu) impôs suas mãos sobre eles. Os gentios também foram introduzidos pela oração de Pedro, mas nesse caso ele não impôs as mãos sobre eles para que recebessem o Espírito. Pedro estava assim usando a chave do reino dos céus, dada a ele em Mateus 16.19, para abrir a porta para os judeus e os gentios, e Deus estava trabalhando em Sua perfeita sabedoria para ocultar qualquer pensamento de uma igreja para os judeus e outra para os gentios, onde não há servo ou livre: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (I Co 12:13). Certamente essa verdade foi perdida para muitos queridos filhos de Deus atualmente, pois vemos igrejas Nacionais, Independentes e de vários outros nomes imaginados, que são organizadas por homens e tendo-os como cabeça delas. A Palavra de Deus nos ensina muito claramente que Cristo é a Cabeça do corpo, a igreja (Ef 1:20-23), e há somente uma igreja verdadeira, assim como há uma só Cabeça, igreja composta por todos os verdadeiros filhos de Deus os quais são habitados pelo Espírito Santo. Nós não temos que nos unir a ela, pois, no momento em que um pecador aceita Cristo como seu Salvador ele passa a fazer parte dessa igreja pela operação do Espírito Santo. Deus opera a unidade!

Vendo como, então, Atos nos mostra essas coisas de uma forma histórica, não é surpresa encontrar no fim desse livro que Deus nos deu um esboço profético preciso, em figura, da história da igreja até que ela esteja segura no lar, em glória com Cristo. Alguém pode perguntar o motivo de nos ser dado isso em figura. A resposta é simples: Deus tem sempre mantido a esperança da vinda de Cristo como uma esperança presente diante de Seu povo. Essa é uma esperança presente para nós hoje, mas essas figuras na Palavra de Deus nos mostram como essa verdade pôde ser perdida, e depois recobrada nesses tempos do fim por poucos que têm mantido, com pouca força, Sua Palavra e que não negam Seu Nome. (Ap 3:8)

E ainda, apesar de tudo, se pararmos para meditar sobre isso e considerarmos a causa do fracasso da igreja e, por outro lado, a graça incomparável de Deus a qual acompanha Seus próprios propósitos, seremos levados a pensar em duas coisas. Primeiro, assim como Daniel que viveu em algum tempo similar na história de Israel, podemos dizer, “A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti” (Dn 9:7). Certamente, como vemos, não podemos socorrer a dividida e espalhada condição da igreja de Deus se estivermos em comunhão com os pensamentos de Deus sobre isso, mas podemos colocar nosso rosto no pó, fazendo nossa parte nisso, como Daniel fez. De fato, são os que estão ‘perto’ que podem sentir primeiro e mais tal situação.

A segunda coisa é o lado positivo de tudo isso. A graça imutável de Deus – sim, ela é enaltecida e melhor conhecida por causa do fracasso. Quem conhece a graça de Deus como Esdras e Neemias, e como eles viram Sua tremenda provisão e cuidado na restauração deles ao verdadeiro lugar - a Jerusalém? Quão maravilhosamente Deus Se comprometeu por eles, capacitando-os para construir a casa e o muro apesar de toda oposição do inimigo. Deus nos quer confiantes Nele e não em qualquer coisa do homem. O homem sempre se mostrou a si mesmo como um total fracasso em todas as coisas com que se compromete como responsável. Mesmo se o testemunho do fim for tão pequeno como o remanescente de Israel quando o Senhor Jesus nasceu em Belém – somente Simeão e Ana restaram – podemos ainda fazer como eles, “... e falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém” (Lc 2:38). Suas esperanças estavam centradas em Cristo, o Messias e eles não foram desapontados. Se nossa esperança estiver em algum braço da carne podemos estar certos de encontrar desapontamentos; mas todas as coisas serão feitas boas em Cristo – o Homem segundo o conselho de Deus. 

Antes de prosseguir com nosso capítulo, talvez seja preciso mencionar o que alguém sentiu profundamente a respeito de uma observação feita por um irmão que já partiu para estar com o Senhor: “Se qualquer pessoa falar de separação do mal sem estar humilhado, tome cuidado para que sua posição não venha a ser simples e unicamente aquela em que, em todos os tempos, tem constituído seitas e produzido doutrinas heréticas”. Ninguém deve ter pensamentos que exaltem qualquer homem e muito menos qualquer grupo de cristãos. Somente Cristo é Digno! Todos nós temos nossa parte no fracasso, digo novamente, mas sabemos que a verdade, perdida pela igreja por séculos, foi retomada para nós nestes últimos dias e há um grave risco de a perdermos novamente. Que possamos temer diante da Sua Palavra – que haja mais do espírito daquele pequeno grupo que retornou do cativeiro na Babilônia, o qual jejuou e orou enquanto buscava ao Senhor, “caminho seguro para nós, para nossos filhos e para todos os nossos bens” (Ed 8:21). Quão maravilhosamente suas orações foram respondidas, porque a confiança deles estava em Jeová, o Deus de Israel.

Os discípulos que perguntaram ao Senhor a respeito da páscoa: “Onde queres que a preparemos?” não ficaram desapontados, pois, “... indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa" (Lc 22:9,13). Também, nenhum verdadeiro filho de Deus será desapontado se perguntar ao Senhor a mesma coisa nos dias de hoje. Sua promessa ainda é verdadeira, “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus...” João 7:17. Que cada um de nós perguntemos ao nosso próprio coração se estamos verdadeiramente querendo fazer Sua vontade tal como está revelada em Sua Palavra.

Com essas coisas em mente e com um senso (eu creio) de nossa própria insignificância, podemos abordar o assunto – confiantes, contudo, no Deus de toda a graça e orando para que esse pequeno artigo possa ser usado para benção de Seu povo.

A primeira parte da viagem a partir de Cesareia até Bons Portos (versos 1 – 7) é relatada em poucas palavras, porém, é na jornada a partir de Bons Portos até a terra segura na ilha, e em seus detalhes, que se pode notar uma parte cheia de profundas instruções para nós. Podemos olhar para o navio como uma figura do testemunho exterior da igreja, para as pessoas a bordo como os verdadeiros filhos de Deus e para Paulo como na posição da verdade chamada “doutrina de Paulo” (IITm 3:10) e incluindo todos os que são cristãos genuínos. Quando falamos ‘cristãos genuínos’ queremos dizer a respeito da linha da verdade a qual é distinta e peculiar a esse período da igreja, e a qual nos conecta com o céu e com Cristo a Cabeça da igreja lá em cima.

Os que estavam a bordo do navio decidiram que iniciariam a viagem a partir de Bons Portos – todavia, não de acordo com o conselho de Paulo, mas de outros. Bons Portos talvez nos fale do início – da feliz unidade vista nos ‘bons’ dias da história da igreja. Tudo estava bem enquanto eles andaram na verdade e no temor de Deus (At 9.31), mas tal posição nunca é agradável para a carne e pode ser mantida somente enquanto andamos com Deus. “O tempo” é sempre uma grande prova e assim, lemos: “E, passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegação, pois, também o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava” (At 27:9). É sempre comparativamente fácil iniciar na senda da fé, mas a carne nunca pode continuar nela. “Navegar” conforme a sabedoria humana é sempre “perigoso”, e nós precisamos da Palavra de Deus para nos guiar. Nós devemos ter nossa consciência guiada pelas Escrituras em todo o tempo, pois, somente nesse caminho podemos reivindicar Suas promessas, “Então andarás confiante pelo teu caminho, e o teu pé não tropeçará” (Pv 3:23).

Há algo muito triste nas palavras “o jejum já tinha passado”. Essa devoção do início, o ‘jejum e oração’ que caracterizava a igreja no começo (At 13.3) tinha passado e lembrando o comentário de alguém que diz: “Não há substituto para a comunhão”.  

Quando não há quieta comunhão com Deus e a espera na Sua presença, podemos ter certeza que haverá problemas adiante. Que essas práticas possam exercitar o coração de cada um de nós e que possamos buscar andar em obediência e no poder do Espírito de Deus, ao invés de em caminhos de prudência humana.

Esse estado de coisas suscitou a admoestação de Paulo, “Senhores, vejo que a navegação há de ser incômoda e com muitos danos, não só para o navio e a carga, mas também para as nossas vidas” (At 27:10). Isso nos lembra da admoestação aos anciãos de Éfeso, avisando-os dos lobos cruéis que entrariam no meio deles, predizendo a respeito da ruína do testemunho ‘após sua partida’ (At 20:29,30). Vocês percebem, amados santos de Deus, que se nós abandonarmos a doutrina de Paulo, se nos recusarmos a andar na verdade que Deus deu à igreja através dele, então nós também estaremos caminhando para problemas da mesma maneira que o navio na figura descrita? Lembremo-nos da exortação, “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus” (IITm 1:13). Não devemos somente reter as doutrinas – embora seja a coisa mais necessária em si mesma – mas ‘na fé e no amor’, pois a verdade que conhecemos deve ter seu poder sobre nossas vidas para a glória do Senhor.

Todavia, apesar do aviso, a palavra de Paulo foi deixada de lado (At 27:11) e o navio do testemunho foi guiado pelos seus ‘controladores e pilotos’. Assim, o homem assumiu coisas de suas próprias mãos, e como aqueles da Ásia, apartaram-se de Paulo (IITm 1:15) para seguir suas próprias ideias. Como isso foi verdadeiro após a morte dos apóstolos e numa grande medida antes da morte deles. O porto não era considerado um lugar cômodo (espaçoso e conveniente), assim, não devemos nunca esperar que a verdade de Deus seja espaçosa e conveniente o suficiente para satisfazer a multidão, e encontramos então que, ‘os mais deles foram de parecer que se partisse dali’ (At 27: 12). Se fizermos um traçado das escrituras poderemos ver claramente que a maioria nunca escolheu andar no caminho da obediência. Não é verdade que houve sempre uns poucos que escolheram o caminho estreito? Que tenhamos cuidado ao seguir a multidão, que seja com olhar simples, fazendo Cristo o Objeto de nosso coração, e Sua Palavra o guia para nossos pés. Teremos doce paz nesse caminho, embora sejam poucos os que teremos como companhia.

Depois da admoestação, por algum tempo Paulo permaneceu em silêncio, e a história nos mostra que ‘a doutrina de Paulo’ e o chamado celestial da igreja estiveram perdidos por muitos séculos após a morte do apóstolo. Mas Paulo ainda estava a bordo e assim as preciosas verdades, sobre as quais temos falado, estiveram escondidas dentro da abençoada Palavra de Deus por muitos longos anos completamente despercebidas e ignoradas. O navio, entretanto, começou por Fênice – porto espaçoso e conveniente – o centro do comércio! Esse é o desejo de muitos verdadeiros cristãos – uma igreja como Fênice, uma igreja mundana. Essa é a tentativa de fazer o cristianismo aceitável para o mundo, adaptando-o ao esquema do progresso do mundo. Estranhamente o vento sul soprou de maneira branda. Parece que Deus estava dando a eles o que desejavam. Não é comum ouvirmos cristãos, que andando em caminhos de desobediência, falam do ‘vento sul soprando brandamente’ – das bênçãos que estão tendo? Isso pode ser visto da mesma maneira como quando a igreja primitiva estava à deriva no mundo, mas, como observamos anteriormente, o tempo é um grande testador, e assim foi na nossa figura. Era aquele o propósito deles o qual supunham que o tinham alcançado. Perguntemos a nós mesmos, queremos nossos planos e propósitos ou os de Deus? Sabemos que temos a verdade porque temos a Palavra de Deus para aquilo que cremos, ou apenas supomos que estamos certos quando na realidade estamos seguindo nossas próprias ideias? Como é bom ser capaz de dizer, “Assim diz o Senhor” e andar no caminho de Sua escolha.

Que excelente porção está associada a estas palavras, “fazer vela” (afrouxar a vela). Que triste dia foi esse na história da igreja primitiva quando eles deixaram Bons Portos para alcançar Fênice. Observe também como eles navegaram próximos de Creta. Toda a verdade não é dada de uma vez. Alguns cristãos dirão que não há praticamente nenhuma diferença entre um grupo e outro, mas pergunto, eles ‘afrouxaram as velas’? Seja um metro ou uma milha, esse é o caminho do afastamento. Geograficamente Fênice não é longe de Bons Portos e frequentemente parece haver apenas um passo da verdade para a frouxidão, mas que passo perigoso é! Da mesma maneira essa jornada mostrou-se perigosa. E também, eles nunca chegariam a Fênice, pois o Senhor os impediu. Da mesma forma o Senhor ama muito aos Seus para permitir que eles se estabeleçam neste pobre mundo.

O brando vento sul não continuou por muito tempo e então, que mudança! Ele foi seguido por um “tufão de vento chamado euro-aquilão” (At 27:14). Tal é o caminho quando seguimos os “conselhos dos controladores e pilotos” e colocamos de lado a verdade de Deus para seguir nossos próprios desígnios. O navio não poderia “navegar contra o vento” (At 27:15). Tal história nos mostra que uma má doutrina após outra entrou na igreja primitiva e aqueles que escolheram permanecer na posição onde os ‘vasos para honra e para desonra’ estavam todos juntos (IITm 2: 20,21), logo acharam-se a si mesmos totalmente impotentes para fazer qualquer coisa – eles tiveram que se ‘deixar ir à toa’. Embora tivessem feito várias tentativas para reparar o navio, consideraram que isso seria inútil pois o lugar estava cheio de bancos de areia (vers. 16, 17 – tradução da Nova Versão Internacional). Mesmo os que eram piedosos nos dias da igreja primitiva, após a morte dos apóstolos, não puderam reparar o dano que foi feito. Não deve isso ser um aviso para nós hoje? Se permitirmos um pequeno mal, será apenas uma questão de tempo até que haja tanto dano ao navio do testemunho até que não possa ser reparado (I Co 5:6)

Agora, entretanto, que foi permitido ao velho navio seguir em tal condição, somos nós chamados para repará-lo? Não, a ruína existe e devemos estar diante de Deus e admitir isso, mas a palavra de Deus nos chama para nos purificarmos dos vasos de desonra na grande casa do cristianismo professo, e “seguir a justiça, a fé, amor e paz com os que de coração puro invocam ao Senhor” (II Tm 2:22) 

Como dissemos, as tentativas para reparar o navio foram inúteis e ao invés das coisas melhorarem ficaram gradualmente piores. “No dia seguinte eles aliviaram o navio”. As coisas consideradas não essenciais foram lançadas fora e o que é ainda pior, as coisas chamadas não essenciais são muitas vezes as que concernem à glória de Cristo e à Sua obra completa (às quais as más doutrinas sempre atacam) e à verdade da igreja, tão amada ao coração de Cristo, o Qual “amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela” (Ef 5.25). Portanto, não precisamos nos surpreender que após aliviar o navio, no dia seguinte, lançaram fora sua armação (At 27:19). Até os instrumentos mais necessários para o controle apropriado do navio foram lançados fora. Assim vemos o curso do afastamento da verdade de Deus. É algo gradual que começa quando ‘afrouxamos a vela’. Possa o Senhor nos dar tal valor à verdade que sigamos andando nesse caminho da verdade a todo custo. 

O vigésimo versículo nos mostra o sentido completo da idade das trevas. “E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.” O chamado celestial se foi, pois, “não aparecendo nem sol nem estrelas por muitos dias” e assim, toda a esperança de salvação foi então perdida. Somente Deus poderia levantar um testemunho conforme Seu pensamento em meio a tal treva. Usamos a palavra ‘meio’ porque Bons Portos nunca mais foi recuperado, nem também o navio do testemunho foi restaurado ao que era visto no princípio, mas Deus os trouxe de volta, no coração, ao ponto de partida, portanto, o vigésimo primeiro versículo é muito marcante em seu contexto.

Os que estavam a bordo não tinham comido por vários dias. A Palavra de Deus, como alimento para a alma, e como o único guia para a pessoa e também para a assembleia, foi perdida durante o tempo das trevas. Mesmo no tempo de Lutero, no período conhecido como Reforma, a doutrina de Paulo não foi recuperada, apesar de ter sido um tempo de grandes bênçãos para todo aquele que pode de coração agradecer a Deus. Essa foi, porém, outra tentativa de ‘reformar’ ou reparar o ‘navio’. O ‘sol e as estrelas’ (o chamado celestial da igreja) não foi visto, até que Deus, em Sua infinita bondade, levantou um testemunho da verdade, no início do século 19. Paulo esteve em silêncio por longo tempo, mas aqui ele “levantando-se no meio deles, disse, os senhores deviam ter aceitado meu conselho de não partir de Creta, pois assim teriam evitado esse dano e prejuízo” (At 27:21). Sim, “Paulo levantando-se”! Entre toda a perplexidade e escuridão, ele os relembra do início das coisas. Eles não deveriam ter deixado Bons Portos. Nunca poderiam voltar lá outra vez, como já comentamos, mas no coração eles poderiam retornar. Paulo os chama, então, para fazer isso; e é exatamente o que Deus, pelo seu Espírito, fez no início do século 19. Ele reuniu um testemunho entre a confusão da cristandade para expressar a verdade de um corpo – a igreja – e seu chamado celestial. Esse foi o pensamento de Deus no início – a verdade foi perdida e agora, neste tempo do fim, está sendo recuperada.

Paulo não disse a eles para reparar o navio, pois isso seria impossível, mas pelo contrário, ele falou a eles que o navio (o testemunho exterior com tal) seria perdido. Entretanto, as palavras, “pois nenhum de vocês perderá a vida, apenas o navio será destruído” (At 27:22), nos fala de uma preciosa verdade, “Há um só corpo” (Ef 4:4). Todos os redimidos, embora tão dispersos aqui, serão levados em segurança à glória. Nenhum será perdido. Agora, embora o navio esteja perdido, aqueles identificados com Paulo no testemunho são chamados a lembrar – sim, a expressar – essa verdade abençoada de um só corpo entre a ruína. Realmente, que privilégio! Possa o Senhor nos ajudar a valorizar isso cada vez mais, apesar das crescentes trevas.   

Sem dúvida, os versículos seguintes nos trazem algumas importantes considerações referentes ao caráter do testemunho. Há dois pontos mais importantes os quais talvez correspondam a estes encontrados na igreja de Filadélfia. Eles guardaram Sua Palavra e não negaram Seu Nome (Ap 3:8). Assim, Paulo disse, “creio em Deus, que acontecerá do modo como me foi dito” (At 27:25) – ele guardou Sua Palavra; e também disse: “a quem pertenço e a quem sirvo” (At 27:23) – ele não negou Seu nome. Num dia de ‘abandonos’ como atualmente, é da maior importância nos mantermos firmes como Paulo disse. A mensagem dele teve que ser recebida por fé por aqueles que estavam a bordo, pois embora todas as coisas parecessem incertas naquela época, a fé sempre pode dizer, “creio em Deus”. Sua palavra imutável estabelece todas as coisas! Assim, sejamos ‘de bom ânimo’ pois o fim da jornada será brilhante, embora o mar esteja revolto!

A vinda do Senhor para os Seus – o arrebatamento – é simbolizado para nós na palavra que mostra o navio sendo lançado sobre certa ilha. Assim, à meia noite – como aqueles que ouviram o clamor: “Aí vem o esposo; saí-lhe ao encontro” (Mt 25:6) – suspeitaram os marinheiros que estavam perto de ‘alguma terra’ (At 27:27). E nós também estamos chegando perto do nosso lar celestial! Vamos sondar como aqueles fizeram e encontraremos que esse evento abençoado está se aproximando. Na primeira sondagem encontraram vinte braças, depois somente quinze. Sim, em breve ouviremos Sua voz abençoada e veremos Sua face adorável. Portanto, procuremos ser como o que espera seu Senhor. Enquanto estavam esperando e aguardando pelo dia não estavam ociosos, pois os versículos que se seguem nos mostram que havia muita atividade a bordo, com Paulo, cujo conselho foi atrás menosprezado, falando mais uma vez. Eles não deixaram o vento e as ondas os desencorajar por muito tempo, porque criam em Deus. 

Os primeiros passos tomados após a descoberta da posição deles estando próximos de ‘alguma terra’ são muito instrutivos. “E, temendo ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro âncoras, desejando que viesse o dia” (At 27: 29). Encontramos aqui a atitude apropriada daqueles que procuram, em dias de confusão e trevas, manter um testemunho de acordo com os pensamentos de Deus. Eles temeram que pudessem cair sobre rochedos – havia humilhação e o sentimento do próprio desamparo. Eles esperavam no Senhor e a confiança deles estava somente Nele. Também, a atitude deles não estava restrita a somente uma parte do mundo. Isso aconteceu ‘nos quatro cantos’, e o Espírito de Deus trabalhou em poder reunindo almas para Cristo – a Âncora. Outra coisa impressionante a respeito do testemunho em seu início era que ‘desejavam o dia’. O esplendor da esperança de Sua vinda estava diante de seus corações. Que lugar abençoado quando estavam assim reunidos admitindo a fraqueza em que estavam, e considerando somente Cristo como a Âncora deles.

O inimigo rapidamente se empenhou para arruinar o trabalho de Deus e alguns marinheiros tentaram fugir do navio fingindo que lançavam âncoras (At 27:30). Não há dúvida que isso fala sobre independência, e nos lembra daqueles que deixaram o testemunho coletivo que tinha sido levantado por Deus para seguirem caminhos de suas próprias escolhas. Independência não é de Deus. Somos membros uns dos outros e o único pão sobre a mesa na Ceia do Senhor fala do corpo de Cristo como um, composto por todos os verdadeiros filhos de Deus (ICo 10:17). O Senhor Jesus orou por unidade no testemunho em sua bela oração em João 17:21. “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. Essa unidade foi vista no dia de Pentecostes quando ‘estavam todos concordemente no mesmo lugar’ (At 2:1), mas o fracasso veio rapidamente e estragou tudo. Entretanto, pode o fracasso do homem alterar Seus pensamentos sobre a igreja, a qual Ele amou e pela qual entregou-Se a Si mesmo? Não, nunca! “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje e eternamente” (Hb13:8).

Observe que a tentativa de fugir do navio – sair de forma independente – foi ‘fingindo’ que jogavam as âncoras. Tal atitude é usada por aqueles que se colocam no terreno da independência, mesmo nos nossos dias. Eles nos falam que estão trabalhando para um mesmo fim, pregando o mesmo evangelho, usando a mesma Âncora (Cristo) como os que permanecem no navio do testemunho, mas não nos esqueçamos das palavras do Senhor: “...quem comigo não ajunta, espalha” (Mt 12:30)

Se não estamos juntando com Cristo e para Cristo estamos na verdade espalhando o rebanho – como isso é solene! Não podemos esperar que o Senhor recompense tais atividades, pois Sua Palavra declara que ‘se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente’.

O plano deles para fugir trouxe uma palavra especial de Paulo: “Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos” (At 27:31). Rapidamente aqueles homens foram impedidos de seus planos pela palavra de admoestação, e nesse ponto podemos perguntar ao nosso próprio coração se estamos querendo abandonar nosso curso, quando a Palavra de Deus nos mostra que estamos do lado errado. Como seria bom se estivéssemos desejando seguir as Escrituras em todas as coisas e durante todo o tempo. Sem nenhuma dúvida, nós, como indivíduos, e a igreja de Deus como um todo, seríamos poupados de muitas dores se agíssemos dessa forma. Muitas vezes o orgulho toma conta e nos recusamos a ouvir a Palavra quando ela mostra nossos erros. Verdadeiramente, “Deus resiste ao soberbo, mas dá graça aos humildes” (IPe 5:5).   

Os próximos versículos são realmente interessantes, pois Paulo exortou a todos eles que comessem. Com a recuperação da verdade nestes últimos dias, que precioso suprimento de ‘alimento’ tem estado disponível para a cristandade, pois, como comentamos antes, os que estavam a bordo tipificam a todos nós, os verdadeiros filhos de Deus. Esse ‘alimento’ não é nada novo. Ele estava no navio em toda a jornada, mas apesar do rico suprimento que havia, eles mantinham um ‘contínuo jejum’ (At 27:33). Assim, a verdade recuperada por Deus para nós não é nova, mas ela está e tem estado, desde os dias dos apóstolos, contida na abençoada e imutável Palavra de Deus.

Verdadeiramente, é para nossa ‘saúde’ espiritual (At 27:34) a participação nesse rico ministério e tem sido uma grande bênção para todos os que têm participado nisso. Querido leitor, temos eu e você lido os volumes preciosos da verdade que estão agora disponíveis para nós? Temos que ser muito gratos ao Senhor por nos permitir obter essas coisas tão facilmente e ser mais diligentes na medida em que os dias vão escurecendo. Ainda que a verdade da segurança do crente e nossa posição atual ‘em Cristo’ tenha estado perdida por muito tempo, não há dúvida de que o Espírito de Deus nos ensina das palavras de Paulo para aqueles homens: “...porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer um de vós” (At 27:34). Se o leitor dessas linhas tiver qualquer dúvida de sua segurança eterna, deixe-nos dar a você as Palavras do Senhor Jesus, nas quais descansar sua alma: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10:28). Como poderíamos perecer quando estamos ‘em Cristo’ diante de Deus? (Rm 8:1).

Depois disso, Paulo, “tomando um pão, deu graças a Deus na presença de todos; e partindo, começou a comer” (At 27:35). Nem precisamos comentar esse versículo! Aqui vemos, em figura, a ceia do Senhor comemorada mais uma vez de acordo com os pensamentos de Deus. Esse é um privilégio abençoado e devemos nos reunir ao Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo somente (Mt 18:20), no terreno de um só corpo. O pão tem seu significado adicional quando partido de acordo com o pensamento de Deus: “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão” (I Co 10:17). O único pão está em contraste com os 12 pães na mesa nos dias de Israel, os quais representavam as 12 tribos. Agora há ‘um rebanho e um Pastor’ (Jo 10:16) e o ‘um só corpo’ inclui todos os crentes sejam judeus ou gentios (I Co 12:13).

Vale registrar aqui que não é dito no nosso capítulo que todos eles partiram o pão, mas que Paulo partiu o pão e que “tendo já todos bom ânimo, puseram-se também a comer” (At 27:36). Sabemos que todos foram beneficiados e o ‘alimento’ ainda beneficia por ter sido recuperado para os domésticos da fé nesses últimos dias, mas nem todos ‘partem o pão’ no terreno divino. Vamos repetir a pergunta feita pelos discípulos à luz da Sua presença e da Sua Palavra: “Onde queres que a preparemos” (Lc 22:9)

Após tão admirável restauração ao lugar por Ele apontado, pôde o fracasso ter entrado? Sim, o homem sempre falhou em tudo o que Deus confiou a ele em responsabilidade. Assim, o maior de todos os males veio aqui para arruinar essa cena tão brilhante. Estar ocupado com números conduz ao orgulho – a mesma coisa que causou a caída de Satanás, e isso tem sido a ruína de mais homens e mulheres que se têm colocado numa posição de favor, do que qualquer outra coisa. “Deus resiste ao soberbo” (I Pe 5:5). Ele odeia o “olhar altivo” (Pv 6:17). Quando Davi de forma orgulhosa contou o povo para ver quantos tinham sido incluídos durante seu reinado (II Sm 24:3-10), Deus mandou uma praga entre eles que derrubou 70.000 homens. Poderíamos esperar algo diferente quando eles intentavam contar a eles mesmos nesse navio do testemunho? Não, pois vimos que a ação deles marcou outro retrocesso na nossa figura e temos que relatar com pesar os tristes resultados que se seguiram.

O primeiro efeito da contagem deles foi a total auto-satisfação e uma indiferença, como em Laodiceia, que aparece imediatamente. Eles ‘de nada tinham falta’ (Ap 3:17). Estavam ‘saciados com a comida’ (At 27:38 – Almeida Revisada). É uma coisa ruim quando perdemos nosso apetite para as coisas de Deus – quando pensamos que estamos ‘saciados com a comida’. Existe alguma dúvida que depois disso: ‘eles jogaram o trigo ao mar’? E nesse ponto podemos bem perguntar para nós mesmos o que estamos fazendo com a verdade de Deus. Estamos andando de acordo com ela, e nos alimentando de Cristo, ou estamos jogando a verdade para fora - ‘aliviando o navio’- como se pudéssemos deixar a navegação mais fácil agindo dessa forma? É verdade que isso pode fazer as coisas mais fáceis por um tempo, mas como o navio em nossa figura, certamente haverá um naufrágio à frente. Não podemos passar sem fazer um apelo especial para os nossos queridos jovens aqui. Os que vieram antes de nós ‘compraram a verdade’ (Pv 23:23). Ela custou a eles grande envolvimento, mas nós a recebemos muito facilmente. Será possível que não valorizamos essas coisas preciosas e estamos deixando-as ir embora? Vamos lembrar a nós mesmos daqueles que voltaram da Babilônia e que tiveram os vasos santos ‘pesados’ para eles a fim de que fossem ‘pesados novamente’ quando chegassem em Jerusalém (Ed 8:29).

E, sendo já dia, não conheceram a terra” (At 27:39). A percepção espiritual tinha acabado e não tinham consciência do perigo que corriam. Se nos estabelecemos como habitantes da terra agiremos como se fosse ‘dia’, mas o Senhor quer nos fazer relembrar que esta ainda é a noite de Sua ausência, embora nós mesmos sejamos ‘filhos do dia’ (I Ts 5:5). Quanto mais feliz era o estado dos que estavam a bordo aguardando em silêncio com as quatro âncoras lançadas, apenas aguardando que o dia chegasse. Nós conhecemos a terra para onde estamos indo e devemos esperar pelo momento abençoado quando o Senhor Jesus virá para nos levar e para estarmos com Ele na casa do Pai acima. Muito constantemente somos como aqueles marinheiros cansados que ‘não conheciam a terra’ e que estavam satisfeitos apenas em ‘encalhar o navio’ – um lar aqui embaixo, esquecendo-nos que ‘nosso descanso está no céu, nosso descanso não é aqui’.

O ‘se’ que eles ligaram aos planos deles (At 27:39) mostrou que por terem uma mente mundana não tinham certeza de nada. Que diferente são as palavras das Escrituras as quais nos trazem perfeita confiança quanto nossa porção celestial: “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (IICor 5:1). Sempre é, ‘nós sabemos’ e ‘nós temos’ quando falamos da nossa casa no céu. Somos estrangeiros e peregrinos somente aqui no nosso caminho para a glória acima.

Temos seguido com pesar o afastamento gradual do tempo em que eles estavam comprometidos até quando fizeram a contagem deles mesmos no versículo 37; primeiro, eles jogaram o trigo no mar e depois ‘uma enseada que tinha praia’ encheu seus pensamentos. Enquanto todas essas coisas aconteciam Paulo permaneceu em silêncio e não foi surpresa encontrar que os que estavam a bordo desse ‘navio do testemunho’, os quais tiveram em tão pouco tempo diante deles (figurativamente) a cena de uma feliz comunhão de acordo com os pensamentos de Deus, rapidamente tomaram outro passo muito sério. Se perdermos a compreensão do que é estar reunidos ao Nome do Senhor Jesus e o reconhecimento da autoridade que Sua presença dá àqueles que estão assim reunidos, o resultado é confusão. Assim, aqui “levantando as âncoras, deixaram-no ir ao mar” (At 27:40). O mar fala de confusão. Que figura cheia de tristeza!

O resultado imediato de tudo isso foi que ao invés de uma quieta dependência do Senhor, esperando n’Ele, houve muita atividade, a qual de acordo com a sabedoria e sensatez humanas parecia ser boa e necessária. Primeiro soltaram as amarras do leme para facilitar o desembarque e depois alçaram a vela principal ao vento. Que esplêndida aparência ao olho do homem! Que boa perspectiva de se fazer um bom desembarque! Não podemos aqui comparar a muita atividade dos dias de hoje com isso? Aprendemos, todavia, a não julgar coisas pela aparência exterior, mas pela Palavra de Deus. A forma como Janes e Jambres imitavam as coisas de Deus era muito boa, mas por seus métodos não podiam produzir vida e o desvario deles foi manifesto a todos os homens (IITm 3:7-9). Não foi assim também com esses marinheiros? E será sempre assim com qualquer atividade que não esteja de acordo com a verdade de Deus. Nós nos regozijamos em ver atividades de acordo com os pensamentos de Deus e desejamos somente que haja mais servos devotados trabalhando para Ele, mas o caminho da escolha de Deus é sempre o melhor para a fé – sim, o único caminho seguro. Moisés fez exatamente o que Deus lhe falou para fazer, nada mais, nada menos e não foi movido por todo o encantamento de Janes e Jambres.

Vamos ter em mente também onde as quatro âncoras foram deixadas. Foi no mar! Isso nos leva a perguntar se podemos esperar um testemunho em todo o mundo novamente. Mas, embora as âncoras nunca mais tenham vindo à tona, podemos e nos regozijamos ao pensar na Jerusalém celestial onde, ‘o mar já não existe’ (Ap 21:1). Não haverá mais confusões e naquela cidade a noiva será vista em toda a sua beleza. Que expectativa ter diante de nossas almas num dia de ruína!  


Por fé em Ti posso ter, Senhor,
Uma esperança de esplendor inabalável;
Onde Deus na luz divina brilhará
Em glória que nunca desvanecerá

Não ver mais Teus escolhidos
Em lutas egoístas divididos;
Mas bebendo em paz a viva graça
Que deu a eles corações unidos!           

Onde quer que vejamos a atividade do homem, sempre acharemos que ela tem a vontade do homem ao invés de vermos Deus por detrás dela, e então ela estará destinada a ser um confronto de vontades. Tal é o coração do homem, pois, mesmo um cristão andando na carne desejará seu próprio caminho – assim encontramos os ‘dois mares’. “E a proa (os líderes), encravando-se, ficou imóvel, mas a popa se desfazia com a força das ondas” (At 27:41). 

Os que tomaram o lugar de líderes tornaram-se obstinados e se recusaram a deixar tal lugar causando a dispersão do rebanho por causa da vontade do homem ao invés de serem reunidos de acordo com a vontade de Deus. Irmãos, que aviso para nós! Não nos faz inclinar nossa cabeça e nosso coração quando lemos sobre isso, sabendo muito bem que podemos aplicar isso para nós mesmos? Que nos humilhemos sob Sua potente mão (I Pe 5:6) e permaneçamos ainda humilhados!  

Talvez alguém esteja dizendo: “Agora é tudo uma questão de testemunho individual, pois o navio foi destruído”. Mas aguarde um momento, e vamos observar o refrescante vislumbre da graça de Deus no final. Foram os soldados (falando para nós do inimigo) os que quiseram matar os prisioneiros e Paulo entre eles, mas a mão do inimigo foi parada. Deus prevaleceu, trabalhando atrás do cenário. Paulo nada falou, como tinha feito em ocasião anterior, mas foi poupado e sem dúvida, Deus preservará o testemunho da doutrina de Paulo até o fim. As coisas estavam em tal estado de confusão que não havia nenhum comando para todos a bordo como antes, mas Deus colocou Sua vontade no coração do centurião para preservar Paulo. Talvez Lucas estivesse ‘num navio quebrado/mesma situação’ que Paulo esteve. Outros poderiam dizer que seria inútil tentar achá-lo em meio ao tumulto, da mesma maneira que alguns dizem hoje que é inútil tentar achar aqueles que estão agora no terreno divino, mas repetimos o versículo mencionado no início do nosso livreto “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele” (Jo 7:17). E acrescentamos outro versículo: “…quem busca, acha" (Mt 7:8).

Não obstante, como é doce ver que todos eles chegaram em segurança em terra, e assim sabemos que todo verdadeiro filho de Deus será levado em segurança para casa em glória. Como seria muito melhor, porém, andar no caminho escolhido por Ele do que em nossos próprios caminhos. Alguns podem dizer que isso faz pouca diferença desde que alcancemos o céu, mas isso mostraria uma absoluta indiferença por Seus direitos sobre nós. Será possível que conhecendo o quanto custou ao Senhor nos redimir para Ele mesmo não queiramos agradá-Lo em nossas vidas? E ainda, há um dia de manifestação chegando, quando Deus fará conhecer e premiará aquilo que tem sido de acordo com Seus pensamentos. Aos fiéis de Filadélfia foi dito que o Senhor fará com que outros “venham e adorem prostrados aos teus pés e saibam que eu te amo” (Ap 3:9). Vamos, então, buscar graça para sermos fiéis a Ele o qual nos amou e deu a Si mesmo por nós, e deixar todo o resultado com Ele. 

Os primeiros dez versículos do próximo capítulo nos mostram uma figura muito interessante das bênçãos que virão à terra após a igreja estar segura no lar em glória. ‘A chuva e o frio (tribulação) passam, Paulo é visto novamente e da mesma maneira viremos com Cristo para terra quando Ele estabelecer Seu reino. O povo da ilha foi forçado a mudar a opinião errada sobre Paulo, e quando o Senhor Jesus vier com Seus santos, Ele deverá “ser admirado em todos os que tiverem crido” (IITs 1:10), embora agora “o mundo não nos conhece, porque não conheceu a Ele” (IJo 3:1)

Satanás (a víbora) deverá ser amarrado por mil anos e não mais será capaz de enganar o homem (Ap 20:3). Todos na ilha foram curados (At 28: 9) e assim todos no milênio serão curados com as folhas da árvore da vida (Ap 22:2). Então, os bárbaros honraram a Paulo e a todos que estavam com ele (Atos 28:10), e sabemos que naquele maravilhoso dia de bênçãos que virá para esta terra, “... os reis da terra trarão para ela (a Jerusalém celestial) a sua glória” (Ap 21:24).

Deus escreveu todas essas coisas para nosso aprendizado e devemos tirar proveito dos erros de outros, assim como ser encorajados pela incomparável graça de Deus, que é abundante apesar de nossas fraquezas e fracassos. Não há limite para a graça que vai ao encontro de nossas necessidades como pecadores e é diária para nós na qualidade de Seus filhos amados; e então, “para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus" (Ef 2:7). Que futuro é o nosso!

G.H. Hayhoe


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