Poucos percebem que admoestações públicas para coisas que não comprometem pontos importantes da doutrina, como a divindade do Senhor Jesus por exemplo, são um ótimo combustível para a carne daquele que corrige, pois ela acabará aproveitando a oportunidade para se gloriar aos olhos de todos. Às vezes a repreensão pública ocorre por algum irmão menos experiente ter sugerido um hino ou uma passagem bíblica que não estaria em conformidade com o caráter daquela reunião em particular. Por exemplo, um hino de experiência pessoal ou uma passagem evangelística durante a ceia do Senhor.
Mais ofensivo que o deslize por falta de experiência ou conhecimento eu considero alguém interromper o andamento da reunião para fazer uma admoestação pública repreendendo o irmão. Isso inevitavelmente atrai os holofotes para o que faz a repreensão e humilha o que falhou. Coisas que não ferem doutrinas fundamentais devem ser tratadas em particular, fora do andamento das reuniões e longe dos olhos e ouvidos de outros irmãos. Devemos tratar nossos irmãos como tratamos nossos filhos, evitando constrangê-los e envergonhá-los em público para não desanimá-los.
Se existe necessidade de um melhor ensino sobre o assunto ou motivo do deslize, que aquele que sentir essa necessidade traga o tema em uma próxima reunião, mas sem endereçar a este ou àquele irmão. Igualmente perverso seria usar da reunião para mandar recados, tipo ler uma passagem ou dar um hino que tenha o mesmo efeito de cozinhar cabritos. Refiro-me a Êxodo 23:19: "não cozerás o cabrito no leite de sua mãe.". O sentido aí é usar o que Deus deu para alimentar e dar vida como instrumento de morte. É o que fazemos quando escolhemos passagens bíblicas e as disparamos contra algum irmão com o claro objetivo de feri-lo.
O apóstolo Paulo trata de algo assim ao escrever aos Gálatas: "Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. Mas prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro." (Gl 6:1-4).
Provar cada um a sua própria obra significa não comparar-se a outros para se promover e nem usar outros de "escada". Em humorismo o termo "escada" é usado para o parceiro do comediante que constrói a escada ou levanta a bola para o comediante principal cortar e finalizar. O "escada" nunca é famoso porque só serve de alavanca para o outro, e nossa carne adora usar outros de escada para sermos vistos como mais cultos e esclarecidos. Em meu papel de responder dúvidas na Web eu preciso lidar com isso todos os dias porque minha carne adora se promover às custas da ignorância alheia. Não é novidade que todos temos nossa carne, a questão é saber se nós a alimentamos ou a lançamos na morte.
Levar "as cargas uns dos outros" significa colocar-me sob o mesmo fardo daquele que necessita ser admoestado. Uma coisa é atirar de longe e de cima minhas críticas na direção de um irmão ainda novo na fé e pouco experiente em certos assuntos. Outra é eu me colocar ao lado dele e, com a mão sobre seu ombro e sofrendo suas dificuldades, sussurrando em seu ouvido a maneira correta de se agir sem constrangê-lo em público. Eu nunca deveria querer me promover às custas do vexame alheio, e pode ter certeza de que todos os dias sou tentado a fazer isso ao responder dúvidas das mais absurdas. Quão grande minha necessidade de ser lembrado a todo momento da Lei de Cristo: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo" (Gl 6:2). Nosso combustível para agir deveria ser "o amor de Cristo" (2 Co 5:14), não o desejo de vanglória e autopromoção.
Às vezes nos esquecemos de que a assembleia deve funcionar como um organismo, com cada membro do corpo funcionando de forma interligada e dependente dos outros. Infligir sofrimento vexaminoso a um irmão e não me sentir triste com isso revela que existe algo de muito errado com minha comunhão e que estou me considerando independente do corpo. Se a mesma reprimenda pública que fez meu irmão se envergonhar causou em mim um sentimento de superioridade e vanglória, é melhor eu avaliar quem está mais errado nessa situação. Eu deveria sentir a mesma fraqueza que fez meu irmão deslizar em algo de somenos importância. "De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele." (1 Co 12:26).
Esclarecimento: Este texto é dirigido aos que estão congregados somente ao nome do Senhor com base nas instruções dadas nas epístolas. Alguém que frequente uma "igreja" do sistema religioso, onde existe um homem à frente dirigindo o culto, programas, bandas etc. provavelmente não irá entender o texto. Sugiro que antes procure saber como e onde os cristãos são exortados a congregar fora dos sistemas denominacionais criados pelos homens. O link a seguir pode ajudar:
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