Enquanto meditava recentemente nessa passagem das escrituras em 2 Coríntios 12, me ocorreu que, apesar de o escopo da passagem ser realmente individual, podemos muito bem ser consolados e encorajados aplicando esses princípios coletivamente (ao menos em parte) a um pequeno testemunho de crentes reunidos ao nome do Senhor Jesus Cristo. Paulo sentia prazer nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por Cristo, “porque quando estou fraco”, disse ele, “então sou forte” (2 Co 12:10).
Como um tal paradoxo poderia ser verdadeiro? Por Paulo descobrir que a graça de Deus lhe era suficiente em sua reconhecida fraqueza, para que "o poder de Cristo" pudesse habitar nele. Acaso não seria assim também coletivamente, quando pequenas reuniões de crentes compartilham desse mesmo exercício como indivíduos e se sentem satisfeitos em assumir um lugar de fraqueza e insignificância neste mundo, e tudo para a honra de Cristo? Então todo o crédito por qualquer bênção trazida por meio desses é creditada a Cristo. Não tenho dúvidas de que isso estaria em conformidade com "a mente de Cristo" (1 Co 2:16).
Isso não quer dizer que a fraqueza nas assembléias cristãs nunca seja culpa do mundanismo e do abandono do "primeiro amor" (Ap 2:4). Infelizmente devemos reconhecer que com frequência é este o caso. Mas foi o próprio Senhor Jesus quem encorajou alguns dos seus e, por extensão, os “dois ou três” ou mais que mais tarde seriam reunidos ao seu nome, quando lhes disse: "Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino." (Lc 12:32). Essa tendência natural de temer pode existir pela expectativa das perseguições vindouras, mas no contexto da palavra do Senhor para eles aqui, ele parece referir-se ao medo de não terem um lugar neste mundo, de serem pobres e desprezados como um pequeno grupo de seus seguidores.
Para a assembléia em Filadélfia o Senhor Jesus oferece este encorajamento: "Eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome." (Ap 3:8). Essa certeza é notável na medida em que Jesus os convida serem encorajados pelo bendito fato de que ele agirá por eles e pela própria glória que pertence a ele, abrindo as portas que eles foram incapazes de abrir, e em virtude de a pequenez do poder deles estar associada à devoção que eles têm por sua Palavra e seu Nome.
Em evidente contraste Paulo faz uso de ironia para desafiar os pensamentos elevados que os da igreja em Corinto tinham de si mesmos, ao escrever: "Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós vis." (1 Co 4:10). O fato de poucos versos depois ele falar deles como estando "ensoberbecidos" (1 Co 5:2) também indica que a assembléia em Corinto havia desde cedo dispensado o espírito de dependência no Senhor, espírito este que vem justamente por se considerar fraco e sem importância no mundo.
Durante toda a era da igreja, começando não muito tempo depois de ela ter sido estabelecida em poder no início desta dispensação, foram os santos pobres, desprezados e fracos que tiveram a aprovação do Senhor por causa de sua dependência dele. Temos a certeza disso primeiro pela pessoa e testemunho de Paulo, pois no final de seu caminho de serviço ele foi abandonado por todos ou desprezado pela maioria na profissão cristã. (2 Co 10:10; 12:15; 2 Tm 1:15; 4:10-17). O registro inspirado também nos diz que a igreja em Esmirna, no capítulo 2 de Apocalipse, era pobre (ainda que rica espiritualmente), e a fraqueza e devoção de Filadélfia são mencionadas no capítulo 3 do mesmo livro.
A história da igreja testemunha os mesmos princípios de riqueza na pobreza e poder através da fraqueza. Afinal, o cabeça da igreja "foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós." (2 Co 13:4). Os Paulicianos dos sétimo e oitavo séculos foram severamente perseguidos e dizimados por procurarem seguir o espírito e a doutrina de Paulo. Os Valdenses do final da Idade Média apresentaram um brilhante testemunho de Cristo, em contraste com um cenário de grandes trevas espirituais na massa da profissão cristã.
Os primeiros Anabatistas do século 16, embora severamente perseguidos (e até certo ponto equivocados), desafiaram o status quo do casamento igreja-estado que perdurava por mais de mil anos, um erro que o movimento Protestante, muito maior que o dos Anabatistas, nunca entendeu de fato e nem renunciou até os dias de hoje.
O movimento do século 19 conhecido como Irmãos de Plymouth, de muito maior alcance, mas em grande parte impopular, beneficiou-se de uma época relativamente tolerante e também da erudição e fé de muitos que vieram antes, de modo que, na opinião de um erudito evangélico, teve um impacto significativo no cristianismo evangélico apesar de bastante desproporcional em número. A verdade dispensacional, a expectativa pela iminente vinda do Senhor, e um retorno aos primeiros princípios do corpo de Cristo e da casa de Deus, são o resultado de portas que foram abertas pelo Senhor para esses irmãos.
Não se trata de algo virtuoso serem poucos, desprezados e fracos, mas mesmo assim os santos podem ser encorajados por saberem que o Senhor Jesus registra isso e recompensa, não apenas cada um, mas também as reuniões ou companhias de santos que buscam, em dependência dele, levar um claro testemunho para o seu Nome.
Sabendo disso, onde você estaria inclinado a investir em sua profissão cristã? Em algum sistema religioso que conta com mais de um bilhão de pessoas que reivindicam ser uma sucessão dos apóstolos e tem usado seu poder na política e nas consciências para reinar sobre a terra, enquanto o Senhor Jesus foi-se daqui a fim de receber para si mesmo um reino? (Lc 19:12). Ou estaria você inclinado a se associar a uma denominação evangélica que reivindica possuir audiências de milhões a cada domingo e que usa de seu poder para influenciar eleições como as americanas? Ou quiçá com a maior e mais vibrante igreja de sua cidade, por encontrar ali o poder sendo manifestado na música, na programação e no pastor?
"Quem despreza o dia das coisas pequenas?" (Zc 4:10) foi a palavra dita por Jeová sobre o pequeno contingente de apenas algumas dezenas de milhares de judeus que ele trouxe de volta de seu cativeiro para construir o segundo templo, uma mera sombra daquele construído por Salomão e que havia sido habitado pela glória de Deus. (Zc 4:8-10; Ed 3:8-13; 2 Cr 7:1-3). Portanto, tenhamos o cuidado de não desprezar a pequenez ou aparente fraqueza no testemunho coletivo de alguns que o Espírito de Deus trouxe de volta aos princípios bíblicos, os quais ele levantou para dar testemunho desse maravilhoso nome do Senhor Jesus Cristo.
Traduzido de "Fear not little flock" - John Kulp
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