Palestra proferida por: R. Gill em uma
conferência em Chicago, Estados Unidos, no ano de 1926.
Tenho o
desejo, amados amigos cristãos, de tratar de um certo assunto que já conquistou
a atenção de alguns de nós em uma ou duas reuniões recente mente, e gostaria de
pedira compreensão de alguém aqui que porventura já nos tenha ouvido tratar do
mesmo assunto. Há aqui outras pessoas para as quais o assunto é novo e creio
ter a mente do Senhor ao voltar a tratar disso.
O assunto
que tenho em mente é este: Por que nós, que estamos reunidos ao nome do Senhor,
nos reunimos desta maneira? Por que o fazemos?
Fui
criado naquilo que creio ser a verdade, e naquilo a que normalmente se referem
coma "a verdade". Posso me lembrar de meus tempos de infância quando
meus pais costumavam me levar para um lugar diferente deste. Posso recordar com
bastante clareza coma costumávamos ir juntos à Igreja Episcopal - a Igreja da
Inglaterra, coma era chamada - e me lembro do efeito que aquilo produzia em
minha mente juvenil; o tapete vermelho sobre o piso, os bancos de carvalho
entalhados e os vitrais coloridos das janelas; o canto do coral, as majestosas
entonações do órgão e outras coisas semelhantes. Eu aprovava tudo aquilo demo
da medida de compreensão de qualquer menino.
Depois de
algum tempo fui levado a uma capela Batista, e aquela capela já era alga que eu
não aprovava com a mesma facilidade. Parecia ser um lugar muito inferior
comparado com Igreja da Inglaterra. Não tinha nada além das paredes caiadas,
não h avia vitrais coloridos e, que me lembre, nem mesmo um órgão e muito menos
algum pregador eloqüente. Não sabia a razão daquilo tudo; só que havia sido
levado para ali.
Passou-se
um intervalo de tempo depois daquilo, e acabei sendo encaminhado a um terceiro
lugar. Tratava-se de uma sala no segundo andar de uma rua comercial na cidade
de West Hartlepool, Inglaterra. Ali descobri umas vinte pessoas sentadas em
bancos, com uma mesa no centro da sala. Para minha mente juvenil, aquilo
parecia ser um estranho quebra-cabeça. Tudo ma tão simples, tão primitivo. Não
havia qualquer atrativo; e nem eu conseguia entendera razão de meus pais terem
me levado ali.
De
acordo com a bíblia
Passaram-se
alguns anos e, no devido tempo, acabei tomando meu lugar entre aquelas pessoas,
crendo ser aquele o lugar certo para se estar. Mas mesmo então, se alguém
tivesse me perguntado por que eu estava ali, eu teria tido uma grande
dificuldade em dar uma resposta inteligente. Oh, se me interrogassem sobre o
assunto, é bem capaz que eu dissesse que freqüentava aquele lugar porque cria
estar de acordo com a Bíblia. Mas isso não iria significar muito, não é mesmo?
Quase todo mundo teria dado a mesma resposta. Um Presbiteriano, um Episcopal ou
Metodista teria falado o mesmo; um Batista teria dito isto, e até mesmo um
Adventista e os membros da, assim chamada, Ciência Cristã.
Precisamos
ter algo mais definido do que uma resposta como esta, como a razão para
ocuparmos o lugar que ocupamos. Nós que estamos reunidos ao nome do Senhor
Jesus nem sempre somos capazes de dar uma explicação inteligente e bíblica do
assunto. Eu descobri que assim sucede. Será que é suficiente dizer: "Nós
nos reunimos de uma maneira simples, como faziam os cristãos em
Pentecostes"? Será que isto já explicaria tudo? Talvez, se não se
dispusesse de muito tempo para explicar; mas para o bem de nossas almas, é bom
que saibamos qual é o fundamento doutrinário sobre o qual nos apoiamos.
Quais são
os princípios das Escrituras - as doutrinas envolvidas- as verdades de Deus
ligadas à posição que ocupamos?
Não creio
que tenha que pedir desculpas por tratar deste assunto, já que vivemos numa
época em que tudo se encontra sob ataque. Não existe uma única coisa que não
esteja sendo atacada - cada fundamento da fé - e é bom que nós que amamos o Senhor,
e que procuramos conhecer qual é a vontade do Senhor, estejamos fortalecidos e
edificados em nossa "santíssima fé" (Jd 20). Creio que, à medida que
o Senhor me capacitar, gostaria de tratar deste assunto em três partes nesta
tarde, conforme se seguem:
Em primeiro lugar, gostaria de sugerir
que nós nos reunimos assim por causa da dignidade do nome do Senhor Jesus.
Segundo: Nós nos reunimos assim porque
desejamos dar ao Espírito Santo o lugar que Lhe pertence.
Terceiro: Nós nos reunimos assim porque queremos
obedecer a ordem das Escrituras que dizem, "Saiamos, pois, a Ele fora do
arraial, levando o Seu vitupério" (Hb 13:13).
Quarto: Porque entendemos ser bíblico estar
no terreno do um só corpo.
São estes
os quatro subtítulos sob os quais desejo fazer algumas observações nesta tarde.
Que
nome levamos?
Quanto ao
primeiro - o nome para o qual nos reunimos: Que nome levamos? Se as pessoas
perguntassem a você a que "igreja" você está ligado, o que
responderia? Creio que alguns aqui já se sentiram embaraçados para responder a
esta pergunta. Não há dúvida de que existem várias maneiras como esta pergunta
poderia ser feita, mas porventura não é bom sermos bem claros sobre isto, ou
seja, que reconhecemos somente o nome do Senhor Jesus Cristo? Nenhum ou no
nome. Alguns dirão: "Vocês são chamados irmãos de Plymouth', não
são?" O que você diria diante disto? Creio que alguém poderia dizer:
"Sim; sim, somos chamados assim, mas não nos chamamos assim". Não
podemos evitar que nos chamem desta maneira. O nome pelo qual nos chamamos é de
santos de Deus, reconhecendo a dignidade do nome do Senhor Jesus Cristo, e
reunidos a este nome.
Poderíamos
ler algumas passagens das Escrituras que tratam deste ponto, começando, talvez,
com Filipenses 2, versículos 8 ao 11:
"E,
achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte,
e morte de cruz. Por isso, também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um
nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho
dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua
confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai."
Vamos ver
também o primeiro capítulo de Colossenses, versículos 1 5 a 18:
"O
qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nEle
foram criadas todas as coisas que há nos céus e na Terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as
coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo, da
igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha
a preeminência."
Podemos
também voltar para o primeiro capítulo de Efésios enquanto tratamos desta linha
de pensamento, nos versículos 20 e 21.
"Que
manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e pondo-O à Sua direita
nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de
todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro."
O
nome do Senhor Jesus
Este
nome, portanto, conforme descobrimos, é único nos pensamentos de Deus. Não
existe, na estima de Deus, nenhum outro nome como este. Ele permanece único,
tanto agora como para sempre. Se abrirmos no livro de Apocalipse, iremos
descobrir que não existe nenhum nome no céu maior do que este nome. As hostes
angelicais são vistas ali se prostrando e adorando diante dAquele mesmo Ser
bendito cujo nome é tão exaltado. O nome do Senhor Jesus, devo admitir, é digno
de ser aceito como o centro de reunião. Trata-se de algo bendito estar em
harmonia com o pensamento do céu a este respeito.
Os
primeiros cristãos estavam reunidos nesse nome. Foi assim que passaram a ser
chamados de "cristãos". Os crentes foram chamados cristãos pela
primeira vez em Antioquia. O que significa o termo "cristão"?
Significa um seguidor de Cristo. Porventura eles tinham outros nomes? Não, pois
não existiam Batistas ou Presbiterianos ou Congregacionais naquele tempo. Eles
eram chamados "os de Cristo" ou "seguidores de Cristo".
Este era o único nome que estava associado a eles. E eles não adotaram nenhum
outro nome e, queridos santos, trata-se de algo bendito não termos nenhum outro
nome hoje.
Todavia,
nossas convicções a este respeito são tanto positivas como negativas. Vamos
abrir, por exemplo, em 1 Coríntios, onde vemos o outro lado da questão.
"Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família
de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós
diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo
dividido? foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de
Paulo?" (1 Co 1:11-13). Nenhum nome deve ser tomado como base para o
sectarismo. Até mesmo o nome de Cristo não é para ser desvirtuado deste modo.
Nenhum
outro nome
Podemos
olhar também o terceiro capítulo desta mesma epístola, versículos 4 ao 7:
"Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não
sois carnais? Pois quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais
crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um? Eu plantei, Apolo regou; mas
Deus deu o crescimento. Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que
rega, mas Deus, que dá o crescimento". Estes versículos confirmam aquilo
com que, creio eu, todos aqui estão de acordo; ou seja, Que não existe
autorização, segundo o pensamento de Deus, para se adotar qualquer outro nome
além do nome de Cristo, e que não existe qualquer base bíblica para se adotar
qualquer outro nome.
Além do
mais, se você adota um outro nome, um dia terá que deixá-lo. Suponha que você
adote para si qualquer nome que venha ao seu pensamento - por exemplo, um Irmão
Plymouth. Você não poderá levar este nome para o céu. Por que? Porque não
existe lá nenhum espaço reservado para os Irmãos Plymouth. Suponha que você se
denomine um Congregacional. Terá que deixar isto também. Não existe uma vaga
reservada para os Congregacionais, e quando chegarmos ao céu e conversarmos com
os redimidos, como certamente o faremos, não iremos achar lá um sequer que se
faça diferente dos outros por meio de algum nome sectário. Lá só haverá um
nome: O nome do Senhor Jesus, o Centro de todos- o Centro do trono - o Cordeiro
que um dia foi morto. Aquela Pessoa, e o Seu nome, irá representar tudo o que é
glorioso e bendito ali; o Centro que irá atrair todos os olhares, e o Centro
das afeições de cada coração será aquele Ser bendito.
Se é esta
a vontade de Deus agora com respeito ao Seu Filho, e se é esta a vontade de
todo o céu em um dia vindouro no que diz respeito ao Filho de Deus, não
deveríamos nós também estar concordes com a estima que é assim depositada nEle,
e renegarmos todos os outros nomes? Queridos santos de Deus, são estes os
pensamentos que têm estado diante de nós.
Reunidos
ao Seu Nome
Gostaria
de abrir também no capítulo 18 de Mateus, versículo 20. "Porque, onde
estiverem dois ou três re unidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles".
Este versículo diz respeito ao assunto que estamos tratando. Fala do povo do
Senhor estar reunido ao (ou para) o Seu nome. Que lugar bendito é este.
Repare,
todavia, que existe uma responsabilidade associada a levar o nome do Senhor.
Vamos voltar a Deuteronômio onde encontramos este pensamento apresentado de uma
forma simples. Leia o capítulo 5, versículo 11 - apenas a primeira parte:
"Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão". Estar reunido ao nome
do Senhor Jesus não é simplesmente uma questão de usar tecnicamente o Seu nome.
Acredito que exista o reconhecimento do que este nome envolve. Você não pensa o
mesmo? Estar reunido para o Seu nome, envolve o reconhecimento do que este nome
implica - o nome do Senhor Jesus Cristo - o reconhecimento do Seu Senhorio. Se
alguém segue naquilo que é contrário à Sua Palavra e à Sua vontade,
dificilmente se poderia chamar a isso de estar reunido ao nome do Senhor Jesus
Cristo! Estar reunido para o Seu nome envolve mais do que atuar mecanicamente.
Existe nisto algo que atinge nossos corações e nossas consciências também. Deve
existir o reconhecimento, na prática, do Senhorio de Cristo, a fim de que a
verdade possa ser acompanhada do conteúdo que a torna válida. Nenhuma passagem
das Escrituras nos autoriza a adotarmos qualquer outro nome além do nome do
Senhor Jesus como o Centro para o Seu povo.
O segundo
ponto de que falamos foi: Nos reunimos assim porque concedemos ao Espírito de
Deus o lugar que Lhe pertence. Parece um modo estranho de se falar, não é
mesmo? Algo de muito sério deve estar faltando para justificar o use da
expressão "conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar"l Quem é o
Espírito de Deus? A terceira Pessoa da Divindade. O fato de Ele ser normalmente
mencionado como a terceira Pessoa da Divindade, não traz consigo nenhuma idéia
de inferioridade. O Espírito de Deus é Deus. Não existe diferença de importância
entre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O fato de cada uma destas
Pessoas divinas ser divina, de cada uma delas ser Deus, traz consigo a
impossibilidade de qualquer grau de comparação entre elas. Cada uma é uma
Pessoa infinita. O Espírito de Deus está aqui na Terra. Em nossas reuniões de
estudo vimos algumas passagens relacionadas ao Espírito de Deus.
Podemos
voltar outra vez ao capítulo 14 do Evangelho de João, versículos 1 6 e
17:"E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique
convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber,
porque não O vê nem O conhece; mas vós O conheceis, porque habita convosco, e
estará em vós".
Ele
me glorificará
Agora
podemos ler o capítulo 15, versículo 26: "Quando vier o Consolador, que Eu
da pane do Pai vos hei de enviar, Aquele Espírito de verdade, que procede do
Pai, Ele testificará de Mim". Também no capítulo 16, versículos 13 a 14:
"Mas quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a
verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos
anunciará o que há de vir. Ele Me glorificará, porque há de receber do que é
Meu, e vo-lo há de anunciar". Estes versículos, e muitos outros que
poderíamos ler, nos mostram que o Espírito de Deus está aqui na Terra.
O peso
que isto tem não é suficientemente compreendido entre nós. Uma Pessoa Divina
está aqui na Terra. Deus está aqui na Pessoa do Espírito Santo. Esta é uma
verdade maravilhosa! Trata-se de uma verdade fundamental! Deus habita na Terra
na forma do Espírito. Como tal Ele está aqui na Terra e para um propósito
determinado. Que propósito é este? "Bem", talvez você diga, "Ele
está aqui para convencer pecadores". Isto é verdade, sem dúvida nenhuma.
Mas naquilo que diz respeito ao nosso tema nesta tarde, Ele está aqui para
outro propósito. E qual é? Ele está aqui para tomar das coisas que são de
Cristo, e mostrá-las para nós. Ele está aqui para glorificar a Cristo. É por
esta razão que Ele está aqui. É este o Seu ofício.
Amados
amigos cristãos, aqui vemos algo estranho a respeito da Bíblia. No Antigo
Testamento podem ser encontradas as mais amplas instruções quanto a todos os
cultos do povo terrenal de Deus. Cada ritual foi previsto. Tudo estava ligado
aos sacrifícios; até as vestimentas dos sacerdotes; todos os vasos do
santuário; tudo minuciosamente previsto de modo a não haver qualquer
possibilidade de alguém cometer um erro, a menos que fosse por falta de
cuidado.
O
Espírito de Deus está aqui para guiar
Mas já
que o Espírito Santo encontra-Se na Terra, você irá reparar como são poucas as
instruções que temos quanto às cerimônias a serem celebradas pela Igreja. Onde
é que encontramos instruções minuciosas quanto à maneira da assembléia proceder
quando se reúne? Veja, por exemplo, a reunião que é tão preciosa aos nossos
corações - o partimento do pão - e recordação da morte do Senhor. Onde está o
capítulo que nos diz como devemos proceder? Não existe um tal capitulo. Não
existe um versículo que nos diga que a reunião do partimento do pão deveria
começar com um hino e que depois disso um irmão deveria se levantar e orar ao
Senhor ou louvá-lo, e que então outro hino deveria ser dado, e que no final de
trinta ou quarenta minutos os símbolos deveriam ser distribuídos, ou por quanto
tempo mais a reunião deveria continuar. Por que razão não existe nenhuma
passagem das Escrituras cobrindo estes pontos? Porque o Espírito de Deus está
aqui para reger e conduzir tudo da maneira que Lhe agrade. (Estou apenas
assinalando que não existem instruções escritas para estes detalhes. Não estou
criticando o modo como é feito.) O Espírito de Deus está aqui para guiar e
reger na Igreja, e Sua direção e regência na Igreja é feita com a finalidade de
que Cristo seja glorificado. É este o Seu propósito - o objetivo que Ele tem em
vista.
Bem, isto
coloca diante de nós uma grande, importante e solene verdade. Na cristandade,
de um modo geral, recusa-se conceder ao Espírito de Deus o Seu lugar. Onde na
cristandade, nas denominações, encontro que esteja sendo concedido ao Espírito
de Deus o lugar que Lhe é devido? Onde é que Ele pode guiar, dirigir ou reger
(e é este o Seu gracioso ofício) se algum homem está guiando e dirigindo e tem
um programa já elaborado com antecedência? Se este já decidiu quais os hinos
que serão cantado e quem deverá orar- onde entra, então, o Espírito de Deus
nisso tudo? Isto é o que normalmente se faz, não é mesmo? Sim, é. Que lugar é
dado para o Espírito de Deus? Nenhum.
Nos
credos das igrejas ortodoxas - das igrejas evangélicas - há muitos cristãos
(graças a Deus por eles), mas, no entanto, embora seus credos reconheçam a
presença do Espírito Santo, na prática eles negam a Sua presença, pois suas
cerimônias são efetuadas como se não existisse tal Pessoa. Seu credo O
reconhece, mas na prática O negam. Esta é realmente uma condição triste. Mais
do que isto. Algo está radicalmente errado nisso tudo. Amados santos de Deus,
existe uma razão para nos reunirmos como fazemos. Desejamos dar ao Espírito de
Deus o lugar que Lhe pertence.
Como
o Espírito de Deus quer
Agora,
com relação a estes últimos comentários, vamos abrir em 1 Coríntios 12:4:
"Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo". Versículo 7:
"Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for
útil". Versículo 11: "Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas
coisas, repartindo particularmente a cada um como quer". Não como o
ministro quer, mas como o Espírito de Deus quer.
Vamos
abrir também em 1 Coríntios 14:28-33: "Mas, se não houver intérprete,
esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três
profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for
revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar,
uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os
espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de
confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos", e assim por
diante.
Não tenho
tempo para falar aqui das manifestações sobrenaturais, mas quero declarar que
creio que elas cessaram e não têm lugar hoje na Igreja. Na Igreja o Espírito é
Aquele que guia e rege. É a Sua vontade que deve ser obedecida, não a vontade
do homem. Esta é uma das razões de nos reunirmos assim. Quando nos reunimos como
uma assembléia, nos reunimos de maneira que o Espírito de Deus tenha espaço
para agir por meio de quem Ele quiser.
Nenhum
programa estabelecido
Quando
nos reunimos, por exemplo, para recordar o Senhor na Sua morte, não temos
qualquer programa estabelecido. Se algum irmão estiver selecionando um hino em
sua casa, estará cometendo um erro. Não tem base bíblica para fazê-lo. E se
outro irmão escolher de antemão algo que acha bonito para ler no final da
reunião, estará cometendo um erro. Não se deve fazer assim. O Espírito de Deus
deve ter a direção nestas coisas. Não sabemos quem irá distribuir os símbolos
[o pão e o vinho]. Não sabemos quem irá sugerir um hino, ou quem irá se
levantar e louvar a Deus. Não temos um programa. Não seria correto se o tivéssemos.
O Espírito de Deus deve ser Aquele a dirigir conforme a Sua vontade na reunião
da assembléia.
É
adequado que nos reunamos e nos comportemos de um modo tal que o Espírito de
Deus possa ter liberdade para agir por meio de quem Ele quiser. Na reunião de oração,
não é conveniente que se convide um irmão a orar ou que se peça a outro que dê
um determinado hino. Não; o Espírito de Deus é Quem deve fazê-lo. Não estou
dizendo que tudo acontece com perfeição em nossas assembléias, pois somos
falhos, e podemos ser lembrados disto de vez em quando, mas o terreno sobre o
qual estamos, e os princípios que sustentamos são de Deus. Nos reunimos assim
para dar espaço ao Seu Espírito.
Em Wales,
há muitos anos, Evan Roberts reuniu, em um grande salão público, alguns milhares
de pessoas que haviam sido salvas. Eles estavam ali para uma cerimônia especial
naquele dia. O que havia de peculiar naquela ocasião era o fato de não ter sido
preparado nenhum programa de antemão. Além disso, quando a congregação chegou e
todos os assentos estavam ocupados e havia pessoas em pé até nos corredores e
portas, todos observaram que no centro do salão havia uma cadeira vazia.
Ninguém poderia se sentar naquela cadeira. Ela estava reservada, como um
símbolo - um lembrete - de que o Espírito de Deus estava presente. Naquele dia
o desejo de Evans Roberts, e creio que de outros fiéis também, era que não
tivessem nenhum programa estabelecido, mas que o Espírito de Deus pudesse ter
liberdade para dirigir e reger. Aquilo gerou muitos comentários. Houve até uma
notícia no jornal sobre aquela experiência extraordinária - uma cerimônia sem
um programa preestabelecido e sem um ministro! O dia passou alegremente, e com
uma clara evidência da direção do Espírito. Podemos agradecer a Deus pelas
convicções de fé de Evans Roberts e outros cristãos, mas porque não continuou
sendo assim depois? É isto que nos dá o segundo motivo para nos reunirmos do
modo como nos reunimos. Queremos dar ao Espírito de Deus o Seu lugar e ofício
em nosso meio.
Sair
a Ele fora do arraial
A
terceira razão da qual falei foi esta: A questão de se sair a Ele fora do
arraial. Abra no último capítulo de Hebreus para encontrar isto, versículos 10
a 14: "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao
tabernáculo. Porque os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido
pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial. E por isso
também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da
porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério. Porque
não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura." Observe que
estes versículos fazem parte da epistola aos Hebreus. Isto sugere que existe
uma esfera judaica ligada ao que estamos observando. Jerusalém está diante de
nós. Foi daquela cidade -daquela cidade religiosa - que o Senhor da glória foi
expulso. Seu sangue foi derramado fora daquela cidade. Um novo centro foi
estabelecido. A cruz de Cristo se torna agora um centro para a fé. Aquele lugar
fora de Jerusalém, fora da organização religiosa, fala agora aos nossos
corações que O conhecem.
Porque
assim como Ele, em Quem todo o padrão judaico foi expresso e cumprido, morreu
fora da cidade, é fora também que é estabelecido o altar do cristianismo. Não
existe hoje nenhum outro altar. Estabelecer um altar em uma igreja é ridículo!
É uma abominação! Estabelecer um altar em uma igreja hoje é sugerir que o único
sacrifício de Cristo não é suficiente. "Temos um altar". A poderosa
obra foi completada. Uma oferenda foi feita. A obra está terminada. Nada mais h
á para se acrescentar. O Calvário, aquele lugar onde o Rejeitado sangrou e
morreu - aquele lugar cancela todos os altares terrenos.
O
que significa "o arraial"?
Falamos
com freqüência do "arraial", e talvez sem compreendermos
completamente o que significa. Sem dúvida alguma, o "arraial", em sua
aplicação estrita, nos fala do tabernáculo, e da condição dos filhos de Israel
no deserto, embora aqui ele seja claramente aplicado a Jerusalém. Ele coloca
diante de nós a religião organizada e terrena. Jerusalém e seu templo, o lugar
divino de adoração, durante muito tempo levou o selo do favor de Deus, e os
cristãos judeus tinham sido vagarosos em se desligarem daquele sistema no qual
haviam sido criados desde a infância. Todavia, agora eles são exortados a sair.
Vocês já
repararam, amados amigos cristãos, quão singular era o estado de coisas que
existia aqui no final de Hebreus? Repare a data que é dada na tradução King
James [versão inglesa da Bíblia]: 64 d.C. Trinta anos ou mais após o princípio
do cristianismo, eles ainda são encontrados em Jerusalém crentes - seguindo
adiante com o judaísmo, seguindo adiante ainda com o templo e os sacrifícios
que eram oferecidos no templo. Você há de concordar que aquilo era algo muito
estranho! É evidente que sim, e talvez se eu e você tivéssemos vivido naquela
época, não teríamos tido a paciência que Deus teve, mas Ele os suportou. Aqui
já se haviam passado trinta anos e nós os vemos prosseguindo da mesma maneira,
mantendo uma doutrina que misturava a graça e as obras. Isso não era nada
diferente de se misturar água com óleo. Eles foram exortados a sair "...a
Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério".
Há certos pontos associados a este sistema
que eu gostaria de tratar por alguns momentos. As características do arraial
eram quatro.
Primeiro, ele tinha um santuário
terreno. (Originalmente era o tabernáculo; mais tarde foi o templo.)
Em segundo lugar, ele tinha uma ordem
estabelecida de sacerdócio que se colocava entre Deus e os adoradores.
Terceiro, ele tinha uma congregação de
adoradores composta de salvos e não salvos.
Quarto, todos eles juntos e coletivamente,
estavam sob a lei para justiça. Estas quatro características marcavam o
arraial.
O
santuário terreno
"Bem",
alguém poderá dizer, "isso tudo é judaísmo e já terminou, e Jerusalém foi
destruída". Sim, sem dúvida isto é verdade, mas os princípios aqui
estabelecidos continuam a existir. Uma condição paralela àquela ainda se
apresenta para nós. O que quero dizer é que o santuário terreno ainda existe -
grandes estruturas dedicadas ao, assim chamado, culto a Deus - mas Deus não
habita em templos feitos por mãos humanas. Algumas destas estruturas são muito
bonitas no que diz respeito à sua arquitetura e decoração. Mas são coisas que
não têm valor aos olhos de Deus. Cristo está rejeita do e estamos no lugar da
Sua rejeição, e somos chamados a seguir as Suas pegadas. A ostentação e a
aparência exterior não é o que conta hoje.
Quanto ao
sacerdócio, do mesmo modo como os judeus tinham um sistema de sacerdócio
ordenado com o propósito de se colocar entre o povo e Deus, também em nossos
dias não deixa de ser verdadeiro que a cristandade estabeleceu um sistema de
sacerdócio ligado ao culto professo a Deus - homens ordenados por mãos humanas,
para permanecerem entre os adoradores e Deus. Não é preciso irmos muito longe
para encontrar isto. Trata-se de uma cara característica bem estabelecida nesta
época da cristandade, como todos sabemos.
Quanto ao
terceiro ponto - uma congregação mista de adoradores:não precisamos andar muito
para encontrar isto. Será que é difícil encontrar uma congregação mista, com
posta por pessoas salvas e não salvas que professadamente se reúnem juntas para
adorara Deus? Não teríamos que it muito longe para encontrar isto. É algo
característico de nossa época.
Quanto ao
quarto ponto - permanecer sob a lei para justiça, será que é difícil
encontrarmos tal coisa? Não, não é. Isto também é comum ao nosso redor hoje em
dia. Em muitas igrejas você descobrirá os dez mandamentos escritos sobre a
parede, e as almas são ensinadas que para poderem chegar ao céu não basta
crerem no Senhor Jesus, mas devem também guardar os dez mandamentos.
É
custoso deixar o arraial
Encontramos
estas quatro coisas hoje e, em princípio, elas nos revelam o arraial. A Palavra
de Deus é: "Saiamos, pois, a Ele fora do arraial". Não devemos pensar
que este "saiamos" seja sempre uma questão fácil para aqueles que
estão no arraial. É custoso deixar o arraial. Trinta anos depois de terem recebido
o cristianismo encontramos os cristãos hebreus sendo exortados a saírem do
arraial. Você não acha que deve ter sido difícil para eles - o rompimento com
os muitos vínculos e com amizades antigas? Todavia, por mais duro que fosse, a
Palavra de Deus para eles era: "Saiamos, pois, a Ele fora do
arraial". Procuremos nos solidarizar com aqueles que procedem assim hoje.
Para alguns é fácil; para outros não, mas trata-se de uma senda de dificuldades
e provações. As afeições naturais e os vínculos antigos prendem muitos ao sistema.
Em
relação a isto, veja 2 Pedro 1:5-7: "E... à piedade o amor fraternal, e ao
amor fraternal e caridade" - divino amor. Não basta ir só até o amor
fraternal. O amor divino deve ser o poder propulsor.
"Levando
o Seu vitupério". O vitupério está ligado ao lugar fora. Você já descobriu
isto? Pergunte a um católico a que ele está ligado e ele lhe dirá que está
ligado à Igreja Católica. Ele não se envergonha de dizer isto. Ele está no
arraial e numa de suas partes maiores e principais. Suponha que eu esteja reunido
ao nome do Senhor e alguém me pergunte a que estou ligado. Creio que não sou o
único que sente uma certa medida de embaraço. Digo:
- Estou
ligado a uma pequena reunião.
- Que
tipo de reunião?
- Bem,
uma reunião bem simples.
- Que
nome vocês têm?
- Ora,
não temos nenhum nome.
- Nenhum
nome?
- Nenhum;
bem, nós nos reunimos ao nome de Cristo.
- Mas
vocês devem ter algum outro nome...
- Não,
não temos.
Bem, ele
irá pensar que sou um excêntrico, e depois de seguir por algum tempo falando
acabará se convencendo de que é isto mesmo. "Aquele sujeito deve ser algum
tipo de fanático religioso", sairá ele dizendo.
Existe
vitupério ligado a isto. Nos faz cair no nível de estima dos que nos cercam.
Isto faz parte de nossa herança. Trata-se de algo bendito - algo para se dar
valor e apreciar - algo que trará consigo um galardão peculiar. Você não
encontra este vitupério dentro do arraial, mas fora dele.
Um
só corpo
Quarto.
Cremos que é bíblico estar reunido sobre o terreno do um só corpo. Este é um
assunto muito vasto para ser tratado em poucos minutos.
Efésios
4:4. "Há um só corpo." Esta é uma tremenda verdade!Uma verdade muito
profunda!Uma verdade imensamente bendita! "Um só corpo". Não
duzentos, como poderia apontar o relatório do censo dos Estados Unidos. Deus olha
lá do céu e de todos os grupos de crentes sobre a Terra, nas várias associações
e lugares que são encontrados, Ele não pode reconhecê-los, mas só dizer:
"Há um só corpo". Quaisquer que sejam as associações em que estejam,
todos os crentes constituem o um só corpo. Eles podem querer se denominara si
mesmos usando diferentes nomes. Muitos crentes podem ser encontrados entre os
Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Congregacionais, Episcopais, e não há
dúvidas de que muitos são encontrados em outros lugares também, mas esses nomes
não têm valor algum para Deus. A única coisa que Ele reconhece é que esses
crentes são membros do um só corpo. Pertencem a este corpo. Esta é uma grande,
uma enorme verdade, não é mesmo? A verdade de que nós, que por graça somos dEle,
pertencemos a este um só corpo, e ao único corpo que existe. Nenhum outro há.
No céu isto será perfeitamente manifestado. Aqui não é muito bem manifestado.
Somente o olho de Deus pode ver este um só corpo. Todavia, assim é. Há um só
corpo.
Os
cristãos no princípio se reuniam simplesmente por pertencerem ao um só corpo.
Se eu e você tivéssemos estado em Éfeso na manhã do dia do Senhor e
procurássemos por aqueles que reconheciam o nome e a autoridade do Senhor
Jesus, iríamos descobrir que as condições para que participássemos da comunhão
estariam baseadas única e tão somente no fato de sermos ou não membros do um só
corpo. Eles não nos levariam para um canto para perguntar qual seria nossa
opinião sobre o batismo, sobre a verdade dispensacional, sobre a interpretação
da profecia ou um monte de outras coisas sobre as quais os homens disputam, mas
estariam ansiosos por saber se poderíamos distinta e definitivamente demonstrar
que éramos membros do um só corpo - se éramos idôneos quanto à Pessoa e obra de
Cristo. Se pudéssemos mostrar que éramos idôneos, seria somente com base nisto
que seríamos recebidos entre eles, e somente com base nisto que tomaríamos dos
símbolos [o pão e o vinho], pois é esta mesma verdade que os símbolos
apresentam diante de nossos olhos. (Estou supondo, evidentemente, que nossa
profissão verbal não estivesse em contradição com nossa vida.)
Um
pão
O
pão sobre a mesa do Senhor nos fala não apenas da morte do Senhor Jesus, mas
antes de ser partido ele fala da verdade de que somos um só corpo. Partimos
aquele pão como membros do um só corpo e de nenhum outro modo.
Nosso
tempo já se esgotou e não podemos falar muito mais sobre este assunto tão
abrangente, mas apenas expressar em palavras que continua coerente com o ensino
das Escrituras estar reunido sobre este amplo terreno, reconhecendo cada membro
do corpo de Cristo sobre a Terra como um irmão ou irmã, e reconhecendo o
direito, ou melhor dizendo, privilégio, de cada um como tal de recordar o
Senhor conosco - de tomar daquele um só pão.
É
necessário que se acrescente isto: Embora no princípio estes assuntos fossem
bastante simples, hoje não são tão simples pois existem aqueles que se
denominam cristãos masque não são cristãos, e já não é suficiente aceitar
apenas a palavra humana a este respeito. Hoje em dia todo tipo de pessoa se
denomina cristão. É nosso dever descobrir se realmente é assim. Somos
responsáveis por aqueles que recebemos, e esta responsabilidade não pode ser
deixada sobre eles.
Creio que
o que foi falado está em conformidade com a verdade, e se assim for, o Senhor
irá tomar isto uma bênção aos nossos corações.
Why Do We Meet As We Do?
J.R.Gill
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