Hebreus 13:12-13
No último
capítulo da epístola aos Hebreus o Espírito de Deus, referindo-se aos
"corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo
sacerdote para o santuário, são queimados fora do arraial", segue dizendo:
"Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue,
padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu
vitupério" (Hb 13:11-13).
Muitos se
encontram confusos quanto ao que significa aqui a expressão
"arraial", todavia é de grande importância entendermos isto, pois
aqueles que amam o Senhor Jesus Cristo são exortados a saírem do arraial;
"saiamos, pois a Ele".
Tendo por
finalidade aprender o significado do termo (e é nosso dever procurarmos
aprender), devemos, antes de mais nada, descobrir a quem, primeiramente e
principalmente, esta epístola foi endereçada, e com a ajuda de Deus tudo se
tomará claro.
A
epístola aos Hebreus foi escrita a judeus que professavam estar convertidos e
que haviam nascido e sido educados sob a lei dada por Deus a Israel no Monte
Sinai. Naquela ocasião, estavam no deserto, acampados como arraial, e ali Deus
lhes ordenou um sistema de adoração na carne, que, embora perfeito no seu
devido lugar, não exigia, e nem supunha, que os adoradores fossem nascidos de
novo. Sob tal sistema os israelitas, como nação, fracassaram completamente.
Devemos,
a seguir, esclarecer o sentido que o Espírito de Deus deu ao
"arraial" na época em que o apóstolo escreveu as exortações acima.
O nono
capítulo nos diz que havia ordenanças de um serviço instituído por Deus, e um
santuário terreno, formado por um tabernáculo feito por mãos humanas, e erigido
na Terra, que era o lugar de adoração dos israelitas.
Naquele
tempo eles tinham um sacerdócio estabelecido; homens de uma certa família que
eram separados para que ficassem entre os adoradores e Deus, dos quais Aarão
era o sumo sacerdote. E o sacerdote era o ministro daquele santuário, e sem ele
os adoradores não podiam adorar.
Todos os
anos aquele sumo sacerdote oferecia uma expiação para os pecados do seu povo,
além de outros sacrifícios que eram oferecidos continuamente; e como já foi
observado, tais adoradores não eram necessariamente pessoas convertidas, apesar
de alguns o serem, mas formavam uma companhia mista de crentes e incrédulos,
todos eles permanecendo sobre um fundamento, que era o de se guardar a lei para
alcançar justiça.
Ora,
aquele sistema incluía como adoradores toda a nação de Israel que habitava
então no arraial. Na época em que o apóstolo escreveu, a nação havia se
estabelecido na terra prometida, com seu centro de adoração posto no templo em
Jerusalém. O Espírito de Deus chama a isso de "arraial", para fora do
qual os "irmãos santos, participantes da vocação celestial" eram
exortados a sair.
Aprendemos,
portanto, que o judaísmo, ou seu sistema de adoração na carne, era o
"arraial" no tempo de Paulo. E, querido leitor cristão, acaso não
fica logo claro que qualquer sistema de adoração com caráter e natureza judaica
e, conseqüentemente, qualquer sistema ao qual a carne e a vista ou seja, o
próprio mundo - possam em maior ou menor medida se filiar, é o arraial de
nossos dias? Sabemos, conforme é revelado pelo próprio Filho de Deus, que
"Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em
verdade" - algo impossível de ser feito pela carne (Jo 4:24). É preciso
que o homem seja nascido do Espírito e selado com o Espírito. Em João 4:21,
nosso Senhor diz: "Mulher, crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte
nem em Jerusalém adorareis o Pai". Havia chegado o tempo quando os lugares
de adoração na Terra - montanhas e templos feitos por mãos - seriam deixados de
lado. O homem na carne já tinha sido completamente testado e provado como sendo
totalmente incapaz de obedecer a lei de Deus, ou de adorá-Lo. Agora tinha se
iniciado uma nova ordem de coisas: homens nascidos do Espírito, habitados pelo
Espírito, adorando em espírito e em verdade, não em um templo ou tabernáculo na
Terra, mas no santo dos santos, ou seja, no próprio céu - o único lugar de
adoração que existe hoje - no qual temos ousadia de entrar pelo sangue de
Jesus.
Portanto,
se existir hoje algum sistema de adoração que tenha um santuário terreno - um
templo feito por mãos, com um sacerdócio ordenado, ou uma classe de homens
separados para ocuparem um lugar especial entre Deus e os adoradores, sem os
quais estes não possam adorar; onde os adoradores são uma mistura de pessoas
convertidas e inconversas sob uma determinada lei; isto é - e deve ser
efetivamente - o "arraial". Trata-se, como sistema de adoração, de
judaísmo em sua natureza e caráter, apesar de poder abrigar verdadeiros
cristãos e incluir pessoas que, com maior ou menor fidelidade, continuam
pregando o Evangelho.
É o
Espírito Santo - é Deus - falando, Quem diz, por intermédio do apóstolo, a todo
e qualquer dentre os Seus filhos queridos que estejam em qualquer tipo de
sistema como este: "Saiamos, pois, a Ele (Cristo) fora do arraial, levando
o Seu vitupério".
"Mas"
- alguns poderão perguntar - "porque não permanecer no sistema e procurar
fazer o melhor possível ali mesmo?" Porque, "o obedecer é melhor do
que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros" (1
Sm 15:22). Porque Deus não quer cristianismo e judaísmo misturados - o vinho
novo em odres velhos. Porque Deus não quer o mundo e a Igreja colocados em jugo
desigual (2 Co 6). Porque Jesus Cristo veio como um "Sumo Sacerdote dos
bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por
mãos" (Hb 9:11). Ele foi expulso pelos que adoravam na carne (adoradores
do judaísmo), e sofreu fora da porta, no Calvário; provando que a adoração na
carne não é algo mal; pois se eles amassem a Deus, teriam respeitado Seu Filho.
Sim, embora aqueles adoradores na carne pudessem mostrar nas Escrituras, aos
homens sábios do Oriente, onde o Cristo haveria de nascer, nenhum deles
moveu-se a fim de buscá-Lo, mas ficaram todos angustiados e aflitos com o
simples pensamento de que Ele houvesse chegado.
E agora,
ressurreto de entre os mortos, Ele entrou no santo lugar feito sem a ajuda de
mãos, no próprio céu; não por sangue de bodes e bezerros, "mas por Seu
próprio sangue", "havendo efetuado (não uma redenção para um ano
somente, mas) uma eterna redenção" (Hb 9:11-12). Portanto, agora o Homem
na glória, o Deus-Homem, é nosso Ministro - "Ministro do santuário, e do
verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem" (Hb 8:2).
E embora
seja verdade que Deus antigamente tenha falado muitas vezes, e de muitas
maneiras aos pais, pelos profetas, Ele nos honrou ainda mais nestes últimos
dias em que nos falou por Seu Filho (Hb 1:1). Aqui o Espírito de Deus coloca o
Filho de Deus acima e adiante de todos os profetas.
E apesar
de ser verdade que Moisés era o apóstolo (e ele
foi fiel em toda a sua casa como um servo), e que Aarão era o sumo sacerdote
chamado e escolhido por Deus para aquela nação de adoradores na carne - Israel
- nós cristãos devemos considerar como o Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa
profissão a Cristo Jesus, exaltando assim a Cristo acima e adiante de Moisés e
Aarão (Hb 1:1-2; 3:1-6).
Sob a lei, havia sido ordenado e instituído pelo próprio Deus que
os sacrifícios de bodes e bezerros deviam ser oferecidos uma sombra das coisas
melhores que viriam; mas agora, Cristo Se ofereceu a Si mesmo, e ressuscitou e foi apresentar o Seu próprio
sangue a Deus por nós, havendo assim, por uma única oferta,
aperfeiçoado para sempre aqueles que são santificados (Hb 10). Deste modo o
sacrifício de Cristo é posto acima, e no lugar de todos aqueles outros
sacrifícios que jamais podiam tirar os pecados. O que é real havia chegado e
tomado o lugar das sombras.
Embora seja perfeitamente verdadeiro que Deus tenha dito a Moisés
para levantar o tabernáculo, e a Salomão o templo, para que fosse um lugar de
adoração sobre a Terra sob a lei, agora Ele abriu o céu para nós, e temos
intrepidez para entrar no santo dos santos pelo sangue de Jesus - no próprio
céu ocupando agora o lugar do tabernáculo e do templo em Jerusalém, como o
lugar de adoração do cristão, no qual entramos pela fé e em espírito (Hb 8:1-2;
9:24).
Apesar de Deus haver feito um concerto com Israel no Monte Sinai,
dando ao povo a lei - um concerto de obras - os israelitas falharam sob a lei,
e o cristão não está sob a lei, mas sob a graça, havendo Cristo nos livrado da
lei e da sua maldição, havendo sido feito maldição por nós, e "porque eu,
pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus" (Gl 2:19; Hb
8:9-13).
Portanto, era verdade que tanto inconversos como convertidos
estavam na congregação de adoradores sob a lei; agora, Aquele que é Espírito, e
que deve ser adorado em espírito e em verdade, está buscando os que assim O
adorem. E quem pode fazê-lo? Aqueles, e somente aqueles, que forem convertidos
e selados pelo Espírito de Deus, têm o poder e o coração para isso.
Em resumo, Cristo e cristianismo tomaram o lugar da lei e do
judaísmo, em direto contraste a estes, e Deus não permitirá que misturemos
essas coisas ou, melhor dizendo, Ele não permitirá nem mesmo que tentemos
fazê-lo.
Assim, a ordem é: "Saiamos, pois, a Ele fora do arraial,
levando o Seu vitupério" (Hb 13:13).
Ora, o leitor deve notar que esta não é uma questão de salvação -
não quer dizer que aqueles que estão dentro do arraial não estejam salvos - na
verdade são os salvos, que estão dentro do arraial, que são chamados a sair(e
não há dúvida de que muitas almas estão sendo salvas onde o evangelho estiver
sendo verdadeiramente pregado dentro do arraial); mas trata-se de uma questão
de obediência, e de adorar a Deus em conformidade com os princípios do
cristianismo ou não - certamente algo muito importante aos olhos daqueles que
amam o Senhor Jesus.
Quando a epístola aos Hebreus foi escrita havia muitos milhares de
judeus que criam, e todos eram zelosos da lei, como testemunhou o apóstolo
Tiago (At 21:20). Se compararmos as datas descobriremos que Deus, em
longanimidade, bondade e misericórdia, permitiu que os judeus crentes
permanecessem no "arraial" por, talvez, trinta anos depois do
Pentecostes, e por este motivo o cristianismo e o judaísmo caminharam juntos
durante alguns anos (At 2:46-47; 21:20-25). Mas Deus ainda não lhes havia dito
para que deixassem o arraial. Todavia, depois de Paulo ter ido a Jerusalém, e,
persuadido por Tiago, ter ido ao templo para novamente adorar ali, a fim de
agradar aos muitos milhares de judeus que criam, ocasião em que quase perdeu a
vida nas mãos da porção de adoradores judeus incrédulos, ele foi mandado preso
para Roma, e provavelmente de lá escreveu esta epístola (a julgar pelas datas).
O Espírito de Deus usou o apóstolo para convocar os cristãos que estavam no
judaísmo - o apóstolo Tiago e todos os outros - para que se separassem do
arraial de uma vez por todas. Havia chegado o tempo em que Deus não iria mais
permitir que cristianismo e judaísmo continuassem, ou parecessem continuar,
andando juntos.
Foi uma prova muito grande para aqueles que, nos dias de Paulo,
haviam sido criados como judeus, terem que obedecer a essa convocação, e assim
acontece também hoje. Mas se amamos Aquele que Se entregou por nós,
demonstraremos esse amor obedecendo aos Seus mandamentos e às Suas palavras (Jo
14:21,23). E se existe vitupério prometido para nós se obedecermos, não nos
esqueçamos de que se trata do Seu vitupério. Ele próprio suportou muito mais do
que qualquer um de nós jamais terá que suportar; e Seu amor e Seu poder estão
conosco, e são por nós, para nos conduzir - sim, até mesmo para nos capacitar a
regozijarmos pelo fato de sermos considerados dignos de sofrer por causa dEle.
Mas devemos sair "a Ele fora do arraial". Onde, fora do
arraial, devo encontrá-Lo, e de que maneira especial Ele será encontrado ali?
Irmão ou irmã: existe um lugar especial fora do arraial onde o Senhor Se digna
estar, e Se manifestar de uma maneira especial e peculiar à fé: "Onde
estiverem dois ou três congregados para o Meu Nome, aí estou Eu no meio
deles" (Mt 18:20-literal). O lugar está, portanto, onde os dois ou três,
ou vinte ou trinta, ou duzentos ou trezentos, estiverem reunidos para o Seu
Nome; e o modo e a forma especial em que Ele Se digna a Se manifestar à fé
nesse lugar não é para ser descrito em palavras. É para ser sentido e desfrutado
por aqueles que crêem e obedecem Suas palavras - a Sua presença verdadeira, mas não, evidentemente, corpórea, no meio
deles. Oh, se todo o Seu querido povo pudesse crer nisto!
Gostaria de acrescentar que isto não elimina o ministério - o
ministério que é divinamente designado - na Igreja de Deus. Há um ministério;
há dons dados aos homens; há evangelistas, pastores, e doutores, para o
"aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação
(não de uma seita, mas) do corpo de Cristo" (Ef 4:11-12). Mas esses dons
não são dados para dirigir os cristãos na adoração; os cristãos são como os
membros do corpo natural de uma pessoa, para o uso de todo o corpo; mas é só na
Cabeça que todos devem buscar a liderança e a direção, especialmente na
adoração. E é Cristo a Cabeça do Seu corpo, a Igreja, do qual todos os cristãos
verdadeiros são membros (1 Co 12:12). Ele verdadeiramente dirige pelo Seu
Espírito onde quer que Ele seja reconhecido como estando presente onde quer que
Ele seja visto como estando no meio, e onde Ele tenha o Seu lugar - o lugar ao
qual somente Ele tem direito, e que só Ele está qualificado a ocupar.
Aquele que coloca os membros do corpo em seus lugares conforme o
Seu querer, usa evangelistas, pastores e doutores, quando e onde Ele escolhe
fazê-lo. E eles buscam a Ele por direção quanto aonde ir, em que lugar e por
quanto tempo ficar, e são responsáveis perante Ele somente pelo uso de seu dom
ou de seus dons.
Mas na adoração nos reunimos, não para escutar uma pregação do
evangelho, não para sermos ensinados por um mestre, não para sermos exortados
por um pastor, mas para dar, pela direção do Senhor em nosso meio por
intermédio do Seu Espírito, louvor, adoração, e ações de graças a nosso Deus e
Pai, ou até mesmo ao próprio Senhor Jesus - algo que não requer nenhum dom
especial da parte de alguém, mas algo que cada verdadeiro cristão andando com
Deus está capacitado a dar o que só Deus é digno de receber, ou seja, a
adoração.
Pode ser uma, duas ou três almas simples, mas que, de coração, se
alternem em serem guiadas, com palavras simples e sem floreios, a servir de
boca para todos os cristãos presentes. E farão assim, não porque sejam mais
capazes ou mais dotadas, ou por terem sido escolhidas por alguém, mas
simplesmente por estarem sendo guiadas pelo Espírito do Senhor. Devemos olhar
para Ele, e reconhecê-Lo, como nossa Cabeça, nosso Sumo-Sacerdote, nosso
Ministro do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor erigiu, e não o homem. Por
meio dEle nosso cântico e palavras de louvor sobem como oferta aceitável para
Deus.
Este modo de adoração espiritual é algo que nunca será eliminado.
Começou na Terra, e como que atrapalhado por estes corpos de humilhação, nunca
é o que deveria ser. Quando recebermos a redenção de nossos corpos; quando não
mais virmos "em espelho, em enigma", mas virmos "face a
face", conhecendo como somos conhecidos; quando não estivermos mais
divididos e espalhados, e misturados com o mundo, como muitos estão, em
adoração, etc.; quando todos os que pertencem a Cristo, comprados por sangue,
estiverem reunidos ao redor dEle em glória, então a adoração que começou na
Terra deverá continuar em glória para sempre, e será plenamente aquilo que
deveria ser.
J.B.Dunlop- What is The Camp?
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