Você já deve ter escutado pessoas dizendo que a Bíblia estaria cheia de erros, e algumas chegaram a essa conclusão pelo fato de nossa Bíblia não ser baseada no texto original, porém em sucessivas cópias de manuscritos. Então, considerando que os manuscritos que deram origem à Bíblia moderna foram copiados muitas vezes, existiria a possibilidade de alguém ter feito alterações nessas cópias. Alguns alegam que a igreja católica teria reservado os manuscritos originais, produzindo outros para introduzir neles os erros. Outra alegação é a de que a Bíblia também não seria digna de crédito por não ser um documento histórico, e sim um conjunto de lendas, ideias e costumes de uma época. Outros dizem que a Bíblia não serve para uma civilização tão moderna e bem instruída quanto a nossa. Segundo estes, ela podia ter sido muito boa para controlar as civilizações selvagens e bárbaras da antiguidade, porém em nossos dias não precisaríamos de um livro assim por estarmos mais desenvolvidos e melhor informados. Resumindo, estas e outras opiniões tentam de várias formas minar a legitimidade deste livro que conhecemos como a Palavra de Deus. Será que elas têm fundamento?
Ao abrirmos o Evangelho de Lucas em seu primeiro capítulo, encontramos: “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.” (Lc 1:1-4).
Lucas escreveu o seu evangelho e o livro de Atos dos Apóstolos, porém ambos são praticamente um mesmo texto, escritos em sequência cerca de 30 ou 40 anos após o desenrolar dos fatos. Muitos alegam que tudo o que foi escrito naquela época, ou seja, os evangelhos, as cartas e o livro de Apocalipse, seria fruto da imaginação de seus autores. Mas quando lemos o início do Evangelho de Lucas notamos logo que ele escreve como se fosse um repórter, um jornalista. Antes de criar o texto que leva o seu nome, ele diz ter entrevistado pessoas, conversado com muitos, e procurado investigar se era aquilo mesmo que tinha acontecido. A minha convicção, e também de muitos cristãos, é que os evangelhos foram escritos por inspiração divina, mas sabemos que Deus usou homens para escrevê-los. É possível perceber isto claramente pela diferença de estilo entre os diferentes evangelhos, entre as diferentes cartas dos diferentes apóstolos, enfim, entre todos os livros que compõem a Bíblia. Foram homens que os escreveram, porém divinamente inspirados para a tarefa.
Alguns acham que escrever por inspiração divina seja algo como ver a mão do escriba se movendo sozinha como se ele entrasse numa espécie de transe e recebesse assim a mensagem vinda de Deus. Mas não é o que acontece. Deus usa o ser humano integralmente e o mantém no pleno domínio de seus próprios sentidos. “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas”, escreve Paulo em 1 Coríntios 14:32. O Espírito Santo de Deus inspirou as palavras na mente dos diferentes escritores da Bíblia como se as ditasse em forma de pensamentos audíveis, e fez com que cada profeta ou apóstolo as escutasse da maneira como elas foram ditadas, e as escrevesse assim.
Ao falar desse processo de inspiração palavra a palavra, Paulo explica assim: “Deus no-las revelou [as palavras] pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus... As quais [coisas] também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as [palavras] que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.” (1 Co 2:10-13). Em diversas passagens do Antigo Testamento encontramos Deus dando uma ordem direta aos seus profetas e dizendo coisas como “escreve num livro todas as palavras que te tenho falado.” (Jr 30:20). Mesmo assim cabia ao homem a responsabilidade de transformar as palavras ditadas pelo Espírito de Deus em um texto fiel às suas intenções. E este cuidado fica claro no modo de agir de Lucas guiado pelo Espírito Santo. A introdução de seu evangelho mostra que, embora inspirado, seu texto é também um documento histórico, não uma mera lenda.
J. R. R. Tolkien, autor de “O Senhor dos Anéis”, foi uma das maiores autoridades do mundo em lendas europeias, tanto é que seu livro traz muito desse seu conhecimento transformado em um romance épico. “O Senhor dos Anéis” é uma imensa mescla de lendas. Tolkien era também cristão e conhecedor da Bíblia. Outro autor, seu amigo e colega de ensino, era C. S. Lewis, um ateu. Lewis alegava que os evangelhos não passavam de um conjunto de lendas, porém Tolkien, com seu conhecimento do assunto, explicou a ele que os textos não traziam qualquer característica de lenda, uma vez que para se formar uma lenda é preciso tempo e, principalmente, a ausência de testemunhas para contestar a sua veracidade. Os evangelhos, por sua vez, formam um conjunto de fatos registrados enquanto seus protagonistas e a maior parte das testemunhas ainda viviam. Não faria sentido alguém escrever uma lenda quando ainda existia tanta gente capaz de contestar o que havia sido escrito. Quando o apóstolo Paulo fala da morte e ressurreição de Cristo no capítulo 15 de sua primeira carta aos Coríntios, ele menciona que mais de quinhentas pessoas tinham visto Cristo ressuscitado, e a maior parte delas ainda vivia enquanto escrevia sua carta. É difícil você enganar um número tão grande de pessoas com uma lenda.
Tudo nos evangelhos nos leva a crer que seus autores narraram os fatos exatamente do modo como eles ocorreram. O tempo passado entre os acontecimentos e seu registro era muito pequeno para a narrativa ser considerada uma lenda. Além disso, os evangelhos são tão ricos em pormenores que seria impossível alguém escrever uma lenda com tamanha riqueza de detalhes.
Há outras coisas importantes a serem consideradas. Quando você cria uma lenda, ou compõe um romance, o herói de sua história dificilmente será alguém como Jesus, que é o tema central dos evangelhos. Nós o vemos antes da cruz em agonia por saber o que viria sobre si, dizendo: “Pai... afasta de mim este cálice.” (Mc 14:36). Da mesma forma, dificilmente os autores do texto falariam de seus próprios defeitos, como alguns fazem nos evangelhos. Nos evangelhos e no livro de Atos temos os apóstolos e outros discípulos fazendo coisas que não são propriamente corretas. Como Pedro poderia falhar como falhou? E como iria permitir que suas falhas ficassem registradas se elas não fossem realidade? Qualquer outro teria maquiado situações constrangedoras, como fizeram com a história do Brasil que estudamos na escola. Hoje sabemos o quanto ela foi alterada para que seus personagens fossem apresentados como heróis, íntegros e irrepreensíveis. Até mesmo as biografias de homens famosos trazem muitas partes inventadas ou alteradas, para não deixarem transparecer o que realmente eram. Por estas e outras razões não existe fundamento para dizermos que os textos bíblicos são uma obra meramente humana ou uma lenda.
Mais um detalhe deve ser considerado. Se os evangelhos não passassem de lendas judaicas do primeiro século, a primeira coisa que seus autores fariam seria colocar homens como testemunhas da ressurreição de Cristo, jamais mulheres. Isto porque, na sociedade daquela época, as mulheres não eram tomadas como testemunhas, e a menos que aquelas mulheres tivessem realmente visto a ressurreição de Jesus, os autores dos evangelhos não teriam registrado aquilo do modo como fizeram.
A outra alegação dos críticos, de que a Bíblia não serve para os nossos dias, é baseada em conclusões tiradas a partir da cultura em que essa pessoa vive. Na passagem do capítulo 24 do Evangelho de Lucas encontramos dois discípulos caminhando decepcionados, pois confiavam que Jesus seria aquele que libertaria Israel. Enquanto eles conversam com o próprio Jesus, sem que o tivessem reconhecido, um deles diz: “Nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel”. Eles enxergavam a vida, morte e ressurreição de Cristo dentro do contexto cultural no qual estavam inseridos. Desde a infância eles haviam sido ensinados que o Messias viria para libertar Israel e agora eles falavam disso para o próprio Messias ressuscitado que tinha vindo com uma missão muito mais ampla do que simplesmente libertar Israel; que tinha vindo salvar pecadores. Os discípulos estavam diante de uma Pessoa e de um evento muito maior, mas não conseguiam enxergar isso através das lentes culturais que traziam.
Mesmo dentro do condicionamento cultural em que vivemos você encontrará limitações para se entender a amplitude daquilo que a Bíblia ensina. Experimente mostrar a um jovem criado no Ocidente o que dizem os evangelhos e as cartas dos apóstolos sobre as relações sexuais, que devem ocorrer apenas no matrimônio e entre um homem e uma mulher. É bem provável que o jovem ocidental rejeite tal ideia. Ele dirá que isso era para o primeiro século, não para hoje, quando existe liberdade para as pessoas terem relações sexuais fora do casamento e inclusive entre pessoas do mesmo sexo. Mas se você mostrar outra coisa que Jesus ensinava, por exemplo, perdoar os inimigos, esse jovem ocidental dirá: “Ah, com isso eu concordo; é politicamente correto amar, perdoar, não revidar etc.”. Veja que das mesmas páginas da Bíblia você consegue extrair dois assuntos, um que é refutado imediatamente por alguém criado em uma cultura ocidental moderna, e outro que é imediatamente aceito pela pessoa dentro da mesma cultura.
Agora tente mostrar estes mesmos assuntos tirados da Bíblia para um fundamentalista islâmico e a reação será inversa. Ele irá concordar com a parte do Novo Testamento que ensina que as relações sexuais devem ficar restritas ao casamento e que sexo entre dois homens ou duas mulheres seria uma aberração. Porém, não irá concordar com a ideia de perdoar um inimigo e irá considera-la até absurda, pois no islamismo ele foi ensinado de acordo com a velha máxima da Lei mosaica que dizia: “Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.” (Êx 21:23-25) . Veja que considerando apenas duas culturas já é possível perceber que cada uma irá enxergar a Palavra de Deus dentro do seu contexto cultural e ambas acabarão rejeitando o completo teor da Bíblia, apesar de concordarem com fragmentos de seu ensino.
Outro tema normalmente usado pelos céticos e pelos que se opõem à fidelidade da Bíblia é o da escravidão. Se a Bíblia fosse a Palavra de Deus, como ela poderia admitir a escravidão ou não combatê-la? O problema é que quando encontramos servos ou escravos na Bíblia, logo pensamos na escravidão no Brasil e em outros países no período colonial. Os escravos dessa época eram pessoas negras, sequestradas na África por outros negros que as vendiam aos europeus, discriminadas pela cor da pele por estes e tratadas como animais. É assim que enxergamos a escravidão, pois é assim que ela está inserida em nossa memória cultural. Mas se você voltar no tempo aprenderá que os escravos nos tempos bíblicos não eram nem um pouco parecidos com os do Brasil colônia. Eles não eram diferenciados pela cor de sua pele e podiam até pertencer ao povo de Israel. Um israelita podia dar-se a si mesmo como escravo para o pagamento de uma dívida, e também recuperar sua liberdade mediante pagamento. Portanto, estamos diante de um modelo de sociedade completamente diferente daquela que conhecemos.
Por esta razão, não é tarefa simples pegar uma Bíblia e dizer que ela está errada, como fazem muitos céticos e inimigos da Palavra de Deus. Nosso referencial está por demais influenciado pelo contexto cultural em que vivemos para que nossa conclusão sobre a Bíblia seja imparcial. Querer julgar a Bíblia por aspectos como os que mencionei aqui denota, além de ignorância, uma boa dose de soberba daquele que tenta fazê-lo, pois o ser humano sempre achará que a sua cultura está acima de todas as outras como referencial. As pessoas de minha geração se lembram do modo como nos vestíamos na década de 1960 e das gírias que falávamos. Hoje nossos filhos riem das roupas que veem nas fotos antigas, mas para nós elas eram a última moda. Naquela época achávamos que o nosso modo de vestir devia ser o referencial adotado por todos, e zombávamos das roupas dos mais velhos do mesmo modo como a geração atual zomba de nossas roupas de então. Mas logo virá uma próxima geração e será ela que irá rir dos costumes dos jovens de hoje. Portanto, ainda que nenhuma cultura seja permanente, a Bíblia é permanente. E ela deve permanecer tendo este caráter, mesmo que algumas coisas nela nos deixem intrigados, nos desagradem ou estejam fora de nossa compreensão.
Os homens tentam adaptar a Palavra de Deus aos seus interesses e o resultado é sempre ridículo. Existe uma edição da Bíblia da qual foram excluídas todas as passagens ruins, como as que falam do lago de fogo e da condenação eterna. Apenas as palavras bonitas, agradáveis e politicamente corretas foram deixadas. O problema é que as pessoas que fizeram essa edição se consideraram mais sábias que o próprio Deus, quando ousaram dizer o que estaria correto e o que não estaria. No momento em que alguém decide julgar o que é certo e o que é errado essa pessoa acaba assumindo a função de Deus, caso seja ela ou sua opinião o referencial adotado. É mais ou menos como um casamento. Imagine você se casar com uma pessoa que concorde com tudo o que você diz. Você diz que gosta de azul, e ela concorda. Você gosta de feijão, e ela adora feijão. Você decide pintar a casa de uma determinada cor e ela diz que sempre sonhou em ter uma casa assim. A princípio pode parecer muito bom viver com uma alma gêmea nos mínimos detalhes, mas não demoraria muito para você achar que está vivendo com uma pessoa sem qualquer personalidade. A opinião dela seria sempre igual à sua nos mínimos detalhes, o que seria o mesmo que você se casar com um clone seu. Chegaria um momento quando nem mesmo haveria diálogo entre vocês, pois um saberia de antemão o que o outro iria falar e estaria de acordo de qualquer maneira.
Deus quer ter um relacionamento com você, mas não nas bases que você estabelecer, e sim nas bases que ele estabeleceu. E se ele realmente é Deus e a Bíblia a Sua Palavra, esta não irá concordar com você em tudo. Se concordasse, não seria mais a Palavra de Deus, e sim de alguém idêntico a você, com os mesmos gostos, as mesmas ideias e opiniões. É importante entender isto, pois quando você entende, percebe que não terá o poder de julgar a Bíblia, mas será ela o gabarito pelo qual você será julgado. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” (Hb 4:12-13). Portanto, ela denuncia quem nós realmente somos e não gostamos nem um pouco disso. Ela revela que somos pecadores, descendentes de seres criados por Deus que um dia decidiram viver segundo a própria vontade e por isso mergulharam na ruína. Se você duvida que o ser humano é intrinsicamente mau, abra o jornal de hoje para ver a quantas anda o mundo habitado por uma humanidade avessa a Deus. Algumas pessoas ainda dizem que se Deus existisse, que se Deus fosse realmente bom, o mundo não estaria assim. Realmente, se o ser humano tivesse permanecido submisso a ele para que ele dirigisse todas as coisas, o mundo não estaria do jeito que está. Mas o homem excluiu a Deus de seus planos e o resultado está aí para ninguém poder contestar que o caos toma o lugar do vazio do homem avesso a Deus.
Outro argumento bastante frágil contra a Bíblia é dizer que a igreja católica teria escondido os manuscritos originais e produzido outros, a partir dos quais teria sido elaborada a Bíblia que temos em mãos. Para aceitar tal argumento você precisaria ter acesso aos originais para comparar, o que nem mesmo os adeptos dessa teoria alegam possuir. A verdade é que a Bíblia que temos foi produzida a partir de muitas cópias de muitos manuscritos e nem todos se encontram no Vaticano. A maioria dos manuscritos e fragmentos, nos quais se baseia o texto bíblico, está fora de Roma, em universidades e museus de todo o mundo, e em grande medida eles concordam entre si. Hoje é possível você pegar, por exemplo, o livro de Isaías de sua Bíblia, o qual foi traduzido de uma cópia de cópias dos originais, e compará-lo com o manuscrito descoberto nas cavernas de Qumran próximas ao Mar Morto em 1947. Naquele ano um pastor de ovelhas descobriu uma série de cavernas que continham diversos vasos, e dentro deles muitos manuscritos. O de Isaias encontrado ali é setecentos anos mais antigo do que o que foi usado na atual versão da Bíblia e, no entanto, os textos são considerados idênticos. Ninguém sabe quantas cópias foram produzidas nos setecentos anos que se passaram entre o manuscrito encontrado em Qumran e o que foi utilizado em nossa Bíblia atual, mas isto já dá uma ideia da fidelidade do trabalho dos escribas e copistas da antiguidade e, acima de tudo, do cuidado de Deus em preservar a sua Palavra.
Como você pode perceber, os argumentos levantados contra a Bíblia costumam ser bastante frágeis quando examinados com o devido cuidado. O que não podemos é ter medo deles e adotar a postura de quem prefere nem ouvir falar do assunto. Podemos confiar que Deus teve o devido cuidado de preservar este livro que se denomina a si mesmo de “Palavra de Deus” para que nós tivéssemos acesso a ele séculos ou milênios após seus textos originais terem sido produzidos.
Quero convidá-lo a ler uma passagem no Evangelho de Lucas, o mesmo que foi tão criterioso ao registrar os fatos que ocorreram por ocasião do nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus.
“E eis que no mesmo dia iam dois deles para uma aldeia, que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido. E aconteceu que, indo eles falando entre si, e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles. Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem. E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais tristes? E, respondendo um, cujo nome era Cléopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias? E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus Nazareno, que foi homem profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram. E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas agora, sobre tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; porém, a ele não o viram. E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. E chegaram à aldeia para onde iam, e ele fez como quem ia para mais longe. E eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque já é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, estando com eles à mesa, tomando o pão, o abençoou e partiu-o, e lho deu. Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes. E disseram um para o outro: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras? E na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém, e acharam congregados os onze, e os que estavam com eles, os quais diziam: Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu a Simão. E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no partir do pão.” (Lc 24:13-35).
Os dois discípulos questionam Jesus, que está ao lado deles, mas não o reconhecem porque seus olhos estão espiritualmente vendados: “És tu só peregrino em Jerusalém, e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias?” (Lc 24:18). Os discípulos estavam limitados em seus pensamentos. Eles falavam das mulheres, que tinham tido uma visão de anjos dizendo que Jesus estaria vivo, e tudo aquilo os deixava confusos. Porém Jesus os repreende: “Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” (Lc 24:25-26). Ele não apenas mostra que os profetas do Antigo Testamento eram dignos de crédito em tudo o que haviam escrito, mas vai além ao revelar ser ele o tema central das Escrituras: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” (Lc 24:27). Se ele começou por Moisés, que escreveu o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia, e terminou falando de “todas as Escrituras”, fica evidente que Jesus deu o seu aval divino ao que hoje chamamos de Antigo Testamento.
Os discípulos não haviam conhecido pessoalmente os profetas do Antigo Testamento, porém para Jesus os seus escritos eram dignos de crédito e para os discípulos deviam ser também. Hoje podemos ler o profeta Isaías falando do Servo sofredor, daquele que viria irreconhecível e iria para o matadouro como ovelha muda, e no Salmo 22 Davi relata os sentimentos daquele que seria colocado entre ladrões e os detalhes de sua morte em cruz. Davi escreveu que nenhum de seus ossos seria quebrado, que em sua sede ele beberia vinagre, teria suas vestes repartidas entre os soldados e que estes lançariam sorte sobre elas. Se para Davi e Isaías aquelas coisas eram ainda futuras, para nós é história e todas elas se cumpriram na vida e morte de Jesus. Se o próprio Senhor autenticou o testemunho dos profetas do Antigo Testamento, temos razões para crer também no testemunho dos apóstolos e profetas do Novo Testamento. O apóstolo Pedro, ao falar das cartas de Paulo, as colocou no mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento. Ele escreveu: “Em todas as suas epístolas [de Paulo], entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras” (2 Pe 3:16).
Portanto temos as Escrituras do Antigo e Novo Testamento, mas o que fazemos com elas? Quando você dá uma Bíblia de presente a alguém, a primeira coisa que a pessoa faz é procurar em suas páginas o que deve fazer ou como deve viver para agradar a Deus e ser recompensada com bênçãos nesta vida e na vida além. “O que devo fazer pra ser salvo? O que devo fazer pra ser feliz? O que devo fazer pra ser abençoado? O que devo fazer pra ser curado das minhas doenças? O que devo fazer pra ganhar dinheiro?” Estas são as primeiras indagações de quem começa a ler a Bíblia. É como se tivesse nas mãos um manual do tipo “O que devo fazer”. Mas a Bíblia não é um livro escrito sobre aquele que lê. Ela certamente foi escrita para você, mas não é um livro sobre você. Toda ela é sobre Jesus. “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” (At 24:27).
No início da Bíblia encontramos os livros escritos por Moisés, um grande herói do ponto de vista humano. Devemos seguir a Moisés? Não! Moisés já nos falava de Jesus quando os israelitas ainda eram prisioneiros no Egito. Deus ordenou a eles que sacrificassem um cordeiro e passassem seu sangue sobre os batentes exteriores das portas das casas onde viviam. Aquele cordeiro era uma figura de Cristo, pois séculos mais tarde, no Novo Testamento, isso fica claro quando João Batista aponta para Jesus e diz: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (Jo 1:29). Se continuarmos voltando no tempo até Adão e Eva, descobriremos que Adão foi colocado num sono profundo, o seu lado aberto, e uma costela tirada a partir da qual Deus criou uma esposa para ele. Cristo na cruz foi colocado no sono profundo da morte, o seu lado foi rasgado pela lança do soldado e dali saíram o sangue da expiação e a água da purificação, que expiam o pecado do pecador e o deixam apto para ter acesso à presença de Deus sem ser destruído. Foi do lado aberto de Jesus que saíram os elementos necessários para Deus formar aquela que é a Igreja, a noiva de Cristo.
Nos tempos de Moisés o povo andou pelo deserto carregando a “Arca da Aliança”, e aquela arca era uma figura de Cristo. Assim como Cristo andou pelo deserto deste mundo, aquela arca de madeira — figura da humanidade que vem da terra — viajava escondida sob uma cobertura de pele de animais marinhos e um tecido azul. Qualquer um podia ver em Jesus algo de celestial enquanto ele caminhava neste mundo, mas nem pecado, nem tentação alguma podia ter acesso a ele, do mesmo modo como nada podia atravessar aquela capa de peles impermeáveis que cobria a arca. À semelhança da arca, ainda que os homens conseguissem ver o exterior de Jesus, ninguém via sua glória interior, representada pelo ouro que revestia a arca por dentro e por fora. Dentro dela estavam as tábuas da Lei dadas a Moisés, o que nos fala do único que realmente pôde cumprir toda a Lei, o Filho de Deus, perfeito, puro e sem pecado. Em sua peregrinação pelo deserto os israelitas bebiam água de uma rocha que tinha sido ferida pela vara de Moisés, e aquela rocha também era uma representação ou figura de Cristo.
Já deu para você perceber que a Bíblia inteira é sobre Cristo? Não se trata de um livro para você ter em mãos e procurar em suas páginas o que deve fazer para ser salvo. Pelo contrário, a Bíblia é o livro cujas páginas mostram o que Cristo fez por você. É disso que as Escrituras falam desde o princípio. O que Jesus fez para você ser salvo, o que ele fez para limpar os seus pecados, o que ele fez pra Deus lhe perdoar, o que ele fez pra Deus lhe aceitar, o que ele fez para você poder ir para o céu. O que Jesus fez, não o que você fará! Porque se alguém fizesse qualquer coisa em prol da própria salvação, a glória seria da pessoa e o céu estaria cheio de soberbos dizendo “Cheguei aqui porque fui muito honesto, dei muitas esmolas, ajudei muitas pessoas etc.”, enquanto outros diriam “Estou aqui porque fui um grande artista, muito trabalhador, um grande cientista, médico ou inventor etc.”. Todas estas coisas que nós valorizamos numa pessoa neste mundo, e costumam ser citadas em funerais, seriam consideradas como créditos para a salvação. Porém no céu só existe um tipo de pessoa, aquela que diz: “Estou aqui porque Cristo morreu por mim; estou aqui porque eu era um pecador perdido e Jesus foi à cruz pagar por meus pecados, derramou ali o seu sangue para minha purificação; ressuscitou ao terceiro dia para minha justificação.”.
Lembro-me de um irmão, que pregava o evangelho numa praça na Bolívia, e foi abordado por um ouvinte, que lhe disse:
— Gostei do que você falou; achei muito bonita a sua pregação, porém só não concordei com uma coisa. Você disse que todos nós somos pecadores perdidos. Mas eu não sou pecador, sou uma pessoa que sempre fez o bem. Eu nunca pensei mal de ninguém, nunca prejudiquei ninguém, nunca matei, roubei ou adulterei. Enfim, sou uma pessoa boa e eu vou para o céu porque eu creio que Deus irá ver a minha bondade e me receberá.
O pregador comentou:
— Bem, então teremos um problema no céu. Você sabe o que vai fazer no céu?
— Não faço ideia.
— Então vou lhe contar. No livro de Apocalipse há uma cena que se passa no céu e lá todos os salvos estão cantando.
— Bem, então eu também vou cantar — disse o homem.
— Pois é aí que está o problema — continuou o pregador — Todos estarão cantando um hino de louvor a Cristo, cuja letra diz: “Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação.” (Ap 5:9). Todos estarão cantando assim e você estará cantando outro hino que diz: “Digno sou de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque fui bom, honesto, caridoso etc. para comprar a mim mesmo para Deus.”. Percebe como você estará cantando fora do tom celestial?
Nenhum de nós possui, em si mesmo, a capacidade ou condições de chegar à presença de Deus apresentando um átomo sequer de bondade. O padrão de Deus é perfeito, pois seu padrão é Cristo, o homem perfeito. Você teria coragem de dizer que é tão perfeito quanto Jesus? Que sua vida é tão santa e pura quanto a dele foi? Não, nenhum ser humano na face da terra poderia se comparar ao Filho Eterno de Deus. Por isso Deus, por não encontrar um ser humano tão perfeito e imaculado quanto Jesus, entregou o seu próprio Filho, o qual se fez carne e habitou entre nós em sua senda até a cruz. Este é o tema central da Bíblia: O Filho de Deus encarnado; Deus vindo ao mundo na condição humana, porém sem pecado. Na cruz Jesus tomou sobre si os nossos pecados e morreu, pois o pecado exigia um juízo e esse juízo era a morte. Você pergunta o que precisa fazer para ser salvo de seus pecados e do juízo eterno? A resposta é: Nada! Tudo o que precisava ser feito Cristo já fez, e a você basta crer que foi assim.
Uma história passada nos tempos da Reforma Protestante falava de um homem muito rico que sofria de uma profunda angústia por não saber o destino de sua alma. Creio que a maioria das pessoas sofre dessa mesma incerteza por não saber o que acontecerá após a morte. Aquele homem começou então a procurar fazer tudo o que podia na tentativa de garantir sua salvação eterna: dava esmolas, ajudava a quem precisasse, procurava fazer o bem e evitar o mal, mas ainda assim não tinha paz com Deus. Alguém lhe disse que em certa cidade na Suíça havia um homem que sabia a resposta do que ele precisava fazer para ser salvo. Ele então viajou vários dias até encontrar aquela pessoa que, na verdade, era um dos cristãos reformados. Quando o encontrou disse estar disposto a fazer qualquer coisa ou a pagar a quantia que fosse necessária, desde que ele lhe dissesse o que precisava fazer para ter a vida eterna. O homem lhe respondeu:
— Você chegou tarde demais. Agora já não há mais nada que possa ser feito! Você chegou com um atraso de mil e quinhentos anos, pois o que precisava ser feito já foi feito por Jesus na cruz. Agora basta você crer nele e aceitar o sacrifício que ele fez em seu lugar para pagar por seus pecados.
É nisto que se resume a mensagem do Evangelho: A obra já foi feita e agora temos ressuscitado esse que morreu na cruz e consumou a obra da salvação, Jesus, o Filho de Deus. Mas se Jesus não tivesse ressuscitado — se no túmulo ainda existissem os restos de Jesus — o evangelho perderia totalmente o sentido. Ossos secos de nada serviriam para nossa salvação. Jesus teria sido apenas mais um que passou por aqui, falou coisas bonitas como fizeram muitos filósofos, mas que de nada valeriam para garantir o nosso destino eterno. Não somos salvos por aprender belas frases, mas por Jesus ter morrido por nossos pecados. Deus, vendo que a obra estava completa e toda a justiça cumprida, ressuscitou a Jesus da morte e seu túmulo agora está vazio. O chamado “Santo Sepulcro”, lugar de peregrinação visitado por pessoas das principais correntes do cristianismo que acham existir algum poder ali, não serve para coisa alguma. É apenas uma cova vazia que virou atração turística. Jesus não está lá. Os que visitam o lugar deveriam se lembrar das palavras do anjo que falou às mulheres que foram ao túmulo de Jesus: “Por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou.” (Lc 24:5-6). Jesus ressuscitou e está no céu, aguardando o momento quando virá buscar aqueles que creem nele, os que pela fé receberam a salvação.
Porém um ponto importante a ser entendido é que quando falamos da Palavra de Deus não é por um raciocínio lógico que chegamos à salvação. Deus designou homens para pregarem o evangelho, uma tarefa que não deu aos anjos. Ele quis que homens falhos, pecadores, e que um dia foram salvos por conhecerem essa graça, pregassem o evangelho. Mas esteja certo de que nenhum homem pode convencer outro ser humano sobre a verdade das Escrituras. E ninguém pode convencer sequer a si mesmo, pois não é algo que dependa do grau de conhecimento ou inteligência. Se alguém achar que será salvo por ter feito muitos cursos de teologia, saiba que o mais provável é que venha a ocorrer o contrário, pois esses cursos poderão até atrapalhar. A carta de Paulo aos Romanos diz que o poder não está na pessoa que prega ou naquela que escuta, mas na mensagem pregada, pois “o evangelho de Cristo é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê.” (Rm 1:16). Estamos falando aqui de um poder sobrenatural que extrapola qualquer capacidade humana, que homem nenhum é capaz de manipular. O Evangelho é o poder de Deus!
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Rm 10:17). Quando você escuta a Palavra de Deus pregada por um homem cheio de defeitos como qualquer outro — quando você escuta dele a velha história de Jesus morrendo por nossos pecados e ressuscitando ao terceiro dia — o Espírito Santo vem e opera em seu coração. E o que você tem de fazer em resposta a essa mensagem? Diga “Sim”. Compare a aceitação da mensagem do Evangelho a uma cerimônia de casamento, quando é perguntado à noiva se ela deseja aceitar o noivo como seu esposo. O que a noiva diz? “Sim!” Uma palavra tão pequenina, mas com um peso tão grande! Se aquele “Sim” pode mudar por completo a vida da noiva, quanto mais poderá fazer o “Sim” que você disser a Jesus. Basta você aceitar o presente de Deus e crer nele. Basta dizer em seu coração: “Sim, Senhor, eu quero ser salvo. Eu aceito!”.
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10:9-13).
Voltemos agora à caminhada dos dois discípulos com Jesus para testemunharmos do poder que tem essa Palavra. Eles chegaram a uma aldeia e Jesus sinalizou que iria continuar caminhando, mas eles insistiram dizendo que era tarde e pediram-lhe que ficasse com eles. Ele entrou no aposento e, quando deu graças pelo pão que iriam comer, os olhos dos dois discípulos foram abertos e eles viram que estavam com Jesus. Só então eles perceberam quem era de fato aquele Homem, mas Jesus desapareceu da presença deles. Ao ressuscitar, Jesus voltou a ter um corpo material. Sim, tangível! Devemos ter cuidado com a influência que a cristandade recebeu do Oriente e suas religiões pagãs, que faz pensar que matéria tangível seja algo ruim e que as coisas espirituais sejam necessariamente etéreas e intangíveis, isto é, sem qualquer substância. Não! Deus criou a matéria e o mundo material e atestou: “É bom”. Ao criar o homem num corpo material e completar assim sua obra, “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom.”. (Gn 1:25, 31).
O Filho de Deus jamais teria vindo em carne se a matéria fosse algo nocivo. Deus enviou “o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Ele veio “em semelhança da carne do pecado” por não ter pecado, mas mesmo assim seu corpo era um corpo físico semelhante ao de Adão. Como qualquer ser humano, ele podia comer, beber e fazer uso dos sentidos. Depois de ressuscitado ele também comeu com os discípulos em um corpo físico feito de matéria, não exatamente o mesmo tipo de matéria do corpo que temos hoje, mas mesmo assim perfeitamente tangível.
O cristianismo, tal como o recebemos por tradição, foi muito influenciado pelas filosofias orientais pagãs, que acreditam que a vida no além esteja limitada a um corpo etéreo e sem qualquer substância. A Bíblia, porém, ensina que não é assim. Aqueles que morrem, certamente continuam vivos e conscientes em espírito, mas haverá um dia quando terão seus corpos ressuscitados e serão corpos de carne e ossos como é o de Jesus neste exato momento no céu. Por mais estranho que possa parecer a você, hoje há um Homem de carne e ossos no céu. Vemos que a Bíblia diz que no final Deus fará novos céus e nova terra, que serão habitados por pessoas ressuscitadas em um corpo semelhante ao de Jesus, algo muito diferente do que encontramos no ensino de muitas religiões cristãs impregnadas de filosofia oriental.
Voltando aos discípulos na estrada para Emaús, Jesus desapareceu da presença deles porque, apesar de estar em um corpo ressuscitado, de carne e ossos, ainda assim era um corpo com características diferentes de nosso corpo mortal, isto é, capaz de aparecer e desaparecer ou de entrar e sair de um aposento com portas e janelas trancadas. Além disso, agora que os discípulos criam que ele havia ressuscitado não havia mais a necessidade de vê-lo, pois aprenderiam a viver por fé, como vive cada verdadeiro salvo por Cristo ainda hoje.
Assim que os deixou, no versículo 32 de Lucas 24 lemos que os discípulos comentavam entre si: “Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras? E, na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém.”. É bom lembrar que o relato indica que no início eles estavam se afastando de Jerusalém e caminhando para Emaús. Mas depois de tudo o que passaram decidiram voltar para Jerusalém, o lugar onde estavam os outros discípulos e onde deveriam permanecer, conforme as instruções do próprio Senhor, que disse: “Ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24:49). Por que aquilo que Jesus lhes dizia no caminho, a respeito das Escrituras, ardia em seus corações? Porque assim é o poder das Escrituras. Não é um livro qualquer, não é uma história qualquer. É o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. No momento em que você entra em contato com a Bíblia, com o Evangelho, com a Palavra de Deus, você já não pode mais ficar indiferente. Você é condenado pela própria Palavra de Deus, se não crer em Jesus, ou é salvo por ela se crer.
Você já sentiu essa Palavra arder em seu coração? Já se deu conta de que o Espírito Santo estava agindo em você? Se assim for, não existe uma resposta melhor do que você dizer “Sim” ao Senhor quando ele quiser falar no mais profundo do seu ser. Você precisa dizer “Sim”, principalmente se ainda não creu no Salvador, se ainda não teve um encontro pessoal com Cristo. Deus quer que você diga “Sim”, que se reconheça pecador e creia que “o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” (1 Jo 1:7). Ao fazer isso, acontecerá com você algo semelhante ao que aconteceu com aqueles dois discípulos. Você dará meia volta e deixará de caminhar em sentido contrário ao lugar onde Deus quer que você esteja, a casa do Pai. Deus tinha um plano para o homem, o homem transtornou esse plano, porém Deus continua, em sua infinita paciência, buscando o perdido e anunciando essa preciosa Palavra para podermos crer em Jesus e recebermos a salvação eterna. Teria você coragem de dizer “Não” a um tão irresistível convite de amor?
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