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A responsabilidade dos pais - C. H. Mackintosh

"Então Moisés e Aarão foram levados outra vez a Faraó, e ele disse-lhes: Ide, servi ao Senhor, vosso Deus. Quais são os que hão de ir? E Moisés disse: Havemos de ir com os nossos meninos, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas, e com os nossos bois havemos de ir; porque festa ao Senhor temos. Então ele lhes disse: Seja o Senhor assim convosco, como eu vos deixarei ir a vós e a vossos filhos: olhai que há mal diante da vossa face. Não será assim: andai agora vós, varões, e servi ao Senhor; pois isso é o que pedistes. E os lançaram da face de Faraó" (Êx 10:8-11).

Estas palavras contém uma lição muito solene para o coração de todos os pais cristãos. Elas revelam um profundo e engenhoso propósito do arqui-inimigo. Se ele não pode manter os pais no Egito, irá ao menos procurar manter os filhos, e assim arruinar o testemunho da verdade de Deus, embotar Sua glória refletida no Seu povo, e impedir a bênção que Eles encontram nEle. Pais no deserto e filhos no Egito! — quão contrário é isto à vontade de Deus, e quão subversivo à Sua glória manifestada no andar do Seu povo.

Deveríamos sempre nos lembrar — e estranho é que venhamos a nos esquecer! — de que nossos filhos são parte de nós mesmos. A criativa mão de Deus os fez assim; e, certamente, aquilo que o Criador uniu, o Redentor não iria querer despedaçar. Portanto encontramos, invariavelmente, que Deus une um homem e sua casa. "Tu e a tua casa" é uma frase de profunda importância. Ela envolve as mais elevadas conseqüências, e concede a mais rica consolação a cada pai ou mãe cristãos; e, podemos seguramente acrescentar que a negligência disso tem acarretado as mais desastrosas conseqüências em milhares de círculos familiares.

Muitos — oh, e quantos são! — pais cristãos, por meio de uma aplicação totalmente falsa das doutrinas da graça, permitiram que seus filhos crescessem na obstinação e mundanismo; e enquanto o faziam, consolavam-se a si mesmos com a ideia de que nada poderiam fazer, e que na hora que aprouvesse a Deus os seus filhos seriam reunidos, caso estivessem incluídos nos propósitos eternos. Eles virtualmente perderam de vista a grande verdade prática de que Aquele que determinou o fim estabeleceu os meios para alcançá-lo, e que trata-se do cúmulo da tolice pensar em se atingir o fim negligenciando os meios.

Estaríamos nós, com isto, querendo dizer que todos os filhos de pais cristãos estão, necessariamente, incluídos entre os eleitos de Deus; que serão todos infalivelmente salvos? — e que, se não o forem, foi devido a uma falha dos pais? Não pretendemos afirmar nada disso. Todas as obras de Deus são conhecidas dEle desde o princípio do mundo. Nada sabemos dos eternos decretos e propósitos. Nenhum olho mortal jamais viu a página de Seus conselhos secretos.

O que é, então, que está envolvido na expressão de tanto peso que é: "Tu e a tua casa"? Há duas coisas envolvidas nela. Em primeiro lugar, existe o mais precioso privilégio; e, em segundo lugar, uma profunda responsabilidade. É inquestionável o privilégio que todos os pais cristãos têm de poder confiar seus Filhos a Deus; mas trata-se também de seu obrigatório dever (será que não gostamos desta palavra feia?) educar seus filhos para Deus.

Temos aqui a suma e essência de todo o assunto — os dois lados desta grande questão. Em cada parte da Palavra de Deus, ela liga o homem à sua casa. "Hoje veio a salvação a esta casa." "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa" (Lucas 19: Atos 16). Aqui está o sólido fundamento do privilégio e responsabilidade dos pais. Agindo sobre o importante princípio que é posto aqui estaremos, definitivamente, entrando no terreno que Deus estabeleceu para nossos filhos, e iremos criá-los diligentemente, confiando nEle para o resultado. Devemos começar bem do começo, e seguir firmes em frente, dia após dia, mês após mês, ano após ano, educando nossos filhos para Deus.

Do mesmo modo como um sábio e habilidoso jardineiro, enquanto suas árvores frutíferas são ainda novas e maleáveis, começa a dirigir os ramos ao longo do muro onde possam receber os benéficos raios do Sol, assim deveríamos fazer também, enquanto nossos filhos são jovens e maleáveis, procurando moldá-los para Deus. Seria o cúmulo da tolice, da parte do jardineiro, esperar até que os ramos se tornassem velhos e nodosos, para então tentar vergá-los. Ele logo descobriria ser aquela uma tarefa fadada ao fracasso. E, com toda certeza, trata-se da maior tolice de nossa parte, deixar que nossos filhos passem anos e anos sob a mão moldadora de Satanás, do mundo e do pecado, antes de nos lançarmos ao santo trabalho de moldá-los para Deus.

Não queremos ser mal compreendidos. Que ninguém pense que estamos querendo ensinar que a graça é hereditária, ou que possamos, por qualquer ação ou método de educação, fazer de nossos filhos cristãos. Não! Nada disso. A graça é soberana, e os filhos de pais cristãos devem, assim como todas as pessoas, nascer da água e do Espírito, para poderem ver ou entrar no reino de Deus. Tudo isso é algo simples e tão claro quanto as Escrituras podem torná-lo mas, por outro lado, as Escrituras são igualmente claras e simples quanto ao dever que cabe aos pais cristãos: "criai-os na doutrina e admoestação do Senhor" (Ef 6:4). E o que é que envolve esse "criai-os"? O que é que significa? Em que consiste? Certamente estas são perguntas importantes para o coração e para a consciência de todo pai ou mãe cristãos. Na verdade, é de se temer que bem poucos de nós entendemos o que significa uma educação cristã, ou como deve ser levada a efeito. Uma coisa é certa: a educação cristã significa muito mais do que injetar religião em nossos filhos, fazendo da Bíblia um livro de tarefas, ensinando nossos filhos a repetir textos e hinos como papagaios, e transformando o círculo familiar numa escola. Não há dúvida de que seja muito bom preencher a memória de uma criança com versículos e doces hinos. Ninguém ousaria colocar isto em dúvida. Mas, acaso o que geralmente acontece não é que a religião acaba se tornando um aborrecimento para a criança, e a Bíblia um repulsivo livro-escolar?

Isso nunca levará a nada. O que é realmente necessário é cercarmos nossos filhos com uma atmosfera totalmente cristã, desde os seus primeiros dias de vida: deixá-los respirar o ar puro da nova criação; permitir que enxerguem em seus pais os genuínos frutos da vida espiritual — amor, paz, pureza, ternura, santo desinteresse, bondade genuína, altruísmo, amável preocupação para com os outros. Estas coisas têm uma poderosa influência moral sobre a mente maleável de uma criança, e o Espírito de Deus pode, com certeza, utilizá-las para atrair o coração a Cristo — o centro e a fonte de todas essas belas graças e influências celestiais.

Mas, por outro lado, quem pode tentar definir o efeito pernicioso que é produzido em nossos filhos por nossas inconsistências, por nosso mau gênio, nossa maneira egoísta de ser, nosso mundanismo e cobiça? Será que podemos ser considerados como aqueles que tiram os filhos do Egito, quando os princípios e hábitos do Egito são vistos em toda a nossa carreira? Talvez possamos usar e ensinar o palavreado do deserto ou de Canaã; mas nossos caminhos, nossas maneiras, nossos hábitos são os mesmos do Egito, e nossos filhos são suficientemente espertos para notarem a grosseira inconsistência, e o efeito sobre eles é mais deplorável do que se pode expressar. Não fazemos mais do que uma pequena idéia do modo como a infidelidade de pais cristãos tem contribuído para fazer crescer a maré de infidelidade que está se elevando ao nosso redor com espantosa rapidez.

Pode-se afirmar, e isto de modo incontestável, que os filhos são responsáveis, apesar da inconsistência de seus pais. Mas, com toda certeza, qualquer que seja o grau de verdade que possa haver nesta afirmação, os pais não devem querer apressar as coisas. Somos tentados a nos apoiar na responsabilidade de nossos filhos por causa do nosso próprio fracasso em cumprirmos com a responsabilidade que cabia a nós. Não há dúvida de que eles sejam responsáveis, mas nós também o somos; e se falhamos em exibir, aos olhos de nossos filhos, aquelas provas vivas e inquestionáveis de que nós mesmos já deixamos o Egito, e que o deixamos para sempre, será surpresa se eles permanecerem no Egito?

De que pode valer falar sobre a vida no deserto, e de estarmos em Canaã, enquanto nosso modo de ser, nossos hábitos, nossos caminhos, nossa conduta, nosso espírito, a tendência de toda a nossa vida, carrega, e exibe em si, a estampa do Egito? De nada valerá. A linguagem da vida faz soar falsa a linguagem dos lábios, e sabemos muito bem que a primeira é muito mais convincente do que a segunda. Nossos filhos irão julgar a partir de nossa conduta, e não de nossa conversa, onde é que realmente estamos; e será que devemos nos espantar com isso? Acaso não é a conduta o verdadeiro índice da convicção? Se realmente deixamos o Egito, isto será visto em nossos caminhos; e se não for visto em nossos caminhos, a conversa dos lábios torna-se algo pior do que inútil; ela só tende a criar desgosto nas mentes de nossos filhos, e a levá-los à conclusão de que cristianismo não passa de fingimento.

Tudo isso é profundamente solene, e deveria levar os pais cristãos ao mais intenso exercício de alma na presença de Deus. É bom que acreditemos que há muito mais envolvido nesta questão de educação do que muitos de nós estamos pensando. Nada senão o poder direto do Espírito de Deus pode preparar os pais para a grande e santa obra de educar seus filhos, nos dias em que vivemos e em meio ao cenário que atravessamos. Esta palavra cai no coração com doçura e poder celestiais: "A minha graça te basta" (2 Co 12:9). Podemos, com a mais plena confiança, depender de Deus para que abençoe o mais débil esforço de nossa parte para guiar nossos filhos para bem longe do Egito. Mas o esforço deve ser feito, e feito também com um real, fixo e sincero propósito de coração. De nada adiantará cruzarmos nossos braços e dizermos: "A graça não é hereditária. Não podemos converter nossos filhos. Se eles fizerem parte dos eleitos de Deus, serão salvos; se não, não poderão se salvar".

Isso tudo é algo parcial e totalmente falso. Não poderá durar; não poderá suportar a luz do tribunal de Cristo. Os pais não podem se livrar da santa responsabilidade de educar seus filhos para Deus; esta responsabilidade começa com o parentesco, e está baseada nele; e o desempenho contínuo dela, em relação aos nossos filhos, exige um contínuo exercício de alma diante de Deus. Devemos nos lembrar de que os fundamentos do caráter são lançados no berço. É na mais tenra infância que tem início a educação cristã, e ela deve prosseguir, dia após dia, mês após mês, e ano após ano, em uma dependência simples e de coração em Deus que irá, com toda certeza, no seu devido tempo, ouvir e responder o sincero clamor do coração de um pai ou de uma mãe, e coroar com Sua rica bênção os fiéis esforços vindo das mãos dos pais.

E enquanto tratamos deste assunto de educar crianças, gostaríamos de, em amor sincero e fraternal, oferecer uma sugestão a todos os pais cristãos quanto à imensa importância de inculcar nos filhos um espírito de obediência implícita. Se não estamos enganados, há um fracasso generalizado a este respeito, pelo qual temos que nos julgar diante de Deus. Seja devido a uma falsa ternura, ou por indolência, deixamos que nossos filhos andem de acordo com a sua própria vontade e desejo, e os passos que dão nesta estrada são assustadoramente rápidos. Eles passam de uma etapa a outra com grande velocidade, até que, no final, atingem o terrível objetivo de desprezarem totalmente seus pais, rejeitando completamente sua autoridade, calcando sob seus pés a santa ordem de Deus, e transformando o círculo familiar numa cena de ímpia anarquia e confusão.

O quão terrível isto é, nós nem precisamos dizer, ou o quão completamente oposto à vontade de Deus, conforme é revelada em Sua santa Palavra. Mas será que não devemos nos culpar, a nós mesmos, por isto? Deus colocou nas mãos dos pais as rédeas de governo e o chicote da autoridade, mas se os pais, por indolência, deixam que as rédeas caiam de suas mãos; e se por falsa ternura ou fraqueza moral, o chicote da autoridade não é aplicado, será que precisamos nos admirar se as crianças crescerem em total iniqüidade? E como poderia ser diferente? As crianças são, como regra geral, muito daquilo que nós mesmos as tornamos. Se forem feitas obedientes, assim serão; se forem deixadas para que sigam seus próprios caminhos, o resultado será condizente com isso.

Será que isto significa que devemos estar sempre puxando as rédeas e brandindo o chicote? De modo nenhum. Isto seria quebrar o espírito da criança, ao invés de sujeitar sua vontade. Onde quer que a autoridade dos pais esteja bem estabelecida, as rédeas podem repousar tranquilamente sobre o pescoço, e o chicote pode ser deixado pendurado. A criança deveria ser ensinada, desde o primeiro momento, que seu pai só deseja o seu bem, mas a vontade dos pais deve ser soberana. Não há nada mais simples. Um olhar é o suficiente para uma criança que foi educada de modo adequado. Não há necessidade de estarmos continuamente fazendo afirmação de nossa autoridade; aliás não há nada que gere mais contenda do que isto, seja em um marido, em um pai ou em um patrão. Existe uma silenciosa dignidade naquele que realmente tem autoridade; ao contrário dos espasmódicos esforços da fraqueza que só geram contendas.

Temos visto, nos muitos anos de experiência e de cuidadosa observação, que o verdadeiro segredo de sucesso na educação está em um tempero bem feito de firmeza e ternura. Se o pai ou a mãe, estabelece desde o princípio sua autoridade, poderá expressar tanta ternura quanto o mais amoroso coração pode desejar ou demonstrar. Quando a criança é verdadeiramente preparada para sentir que as rédeas e o chicote estão sob o direto controle de um julgamento sadio e de verdadeira afeição, e não de um gênio amargo e de urna vontade arbitrária, haverá pouca dificuldade em treiná-la.

Em resumo, a firmeza e a ternura são os dois ingredientes essenciais em toda educação sadia; uma firmeza que a criança não ousará questionar; uma ternura que leva em consideração toda vontade verdadeira da criança, e todo desejo justo. É realmente triste quando a idéia que uma criança faz da autoridade dos pais é de uma interferência arbitrária, ou de fria indiferença para com seus pequenos desejos e vontades. Não é assim que nosso Pai celestial trata conosco; e Ele deve ser nosso modelo em tudo isso, assim como nas outras coisas também.

Se está escrito - e está escrito — "Filhos, obedecei em tudo a vossos pais; porque isto é agradável ao Senhor"; é também com um maravilhoso poder regulador que está escrito: "Pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo" (Cl 3:20-21). E se está escrito, "Filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo", também é dito, "E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor" (Ef 6:1-4). Em resumo, a criança deve ser ensinada a obedecer; mas deve ser permitido à criança obediente que respire uma atmosfera de ternura, e que ande para cima e para baixo sob a luz da afeição dos pais. É este o espírito da educação cristã.

De boa vontade continuaríamos neste grande assunto prático; mas cremos que já foi falado o suficiente para despertar os corações e as consciências de todos os pais cristãos para o senso de sua elevada e santa responsabilidade com referência aos seus amados frutos; e também para mostrar que existe muito mais envolvido no ato de se tirar nossos filhos do Egito, e em se assumir a posição que Deus determina para eles, do que muitos de nós pensamos. E se a leitura destas linhas puder ser usada por Deus para levar algum pai ou mãe a um exercício de oração quanto a esta matéria de tão grande importância, não teremos escrito em vão.

Extraído de "Jehovah's Demand and Satan's Objections" C. H. Mackintosh

The Mackintosh Treasury, Trad. Mario Persona

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