No Evangelho de João, capítulo 4, versículos 21 ao 24, Jesus disse à mulher samaritana: “Vós adorais o que não sabeis”. Isso foi um golpe terrível para suas ideias de religião, e o mesmo pode ser dito de pessoas que não sejam nascidas de Deus. “Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.” Cristo estava agora fora da terra dos judeus. Em certa medida, a verdade estava entre os judeus. O templo e os oráculos de Deus tinham estado com eles, mas agora o Filho de Deus tinha vindo e eles O tinham rejeitado. Ele estava do lado de fora — e não pode existir nada mais solene do que esta ruptura com o lugar reconhecido como de privilégio — e, portanto, ele diz que “nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai”. Além disso, no versículo 23 do nosso capítulo, Ele acrescenta: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (versículos 23, 24). Chamo sua cuidadosa atenção a isto.
Não existe uma adoração verdadeira a menos que conheçamos a Deus Pai como Ele foi revelado no Filho; somos dependentes exclusivamente do Filho, o Senhor Jesus, para o conhecimento do Pai. “A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai.” ‘Quem são os verdadeiros adoradores?’ — você pergunta. Ninguém é um verdadeiro adorador a menos que seja capaz de assumir o seu lugar de forma consciente em um relacionamento com o Pai, conforme revelado no Filho, pelo Espírito do Filho habitando nele. ‘Essa é uma afirmação mais abrangente’ — você dirá. Não nego isso. Você negaria? Apenas lhe pergunto: Você sabe o que é adoração? Talvez você responda, ‘Pensei que fosse uma ação de graças.’ De modo nenhum. A ação de graças é algo correto e muito abençoado de se fazer. É ótimo dar graças, mas graças são dadas por benefícios recebidos. Será isso adoração?
Quando você chega em casa após uma ausência de alguns dias, e ao entrar em sua casa o seu cão vem saltando ao seu encontro, correndo em volta de você, e mostrando a sua profunda alegria por seu retorno, seria isso ação de graças? Não. Você não deu nada a ele, para que em troca lhe dê graças. Então o que é? É o deleite daquela criatura em você. Isto é adoração. A adoração é o transbordar do coração para com Aquele que o encanta e o preenche. Se assim posso colocá-lo, é o transbordamento do copo cheio. O coração, quando preenchido pelo sentimento do que Deus é, revelado pela mais pura graça como o Pai na Pessoa do Seu Filho, transborda em adoração. Portanto, para ser um verdadeiro adorador você não só deve ser nascido do Espírito de Deus, e assim ter uma natureza que se deleita em Deus, mas precisa possuir também o Espírito Santo habitando em você no poder de relacionamento e alegria, por meio do que esta adoração flui para Deus o Pai.
Observe com atenção que o Senhor fala aqui de “verdadeiros adoradores”. Isto não é uma questão de forma. Você pode ter tudo o que a mente mais estética poderia desejar: um edifício adequado, parafernália sacerdotal pomposa, atmosfera permeada de incenso, vitrais coloridos criando uma atmosfera religiosa, música em perfeição e todo um ritual, e ainda assim — Ah! que pensamento solene este para milhões de professos da cristandade! — ser totalmente desprovido de tudo o que é necessário você ser para que o Senhor o chame de ‘verdadeiro adorador’. Que ninguém se engane. A menos que você seja nascido de Deus, e tenha a consciência desse relacionamento pela habitação do Espírito de Deus, você não possui a capacidade para a verdadeira adoração.
Mas agora repare na declaração sobre os verdadeiros adoradores. Deles, o Senhor diz: “O Pai procura a tais que assim o adorem.” Belas palavras! Deus, se assim posso dizer, está buscando neste mundo exatamente o quê? Adoradores. Como eles são produzidos? Em outras passagens, lemos: “O Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19:10), e os perdidos Ele salva. Ele não buscou até mesmo adoração, ou qualquer outra coisa de nós como pecadores; Ele nos procurou até que nos encontrou e nos salvou. Assim nos tornamos filhos do Pai, graças ao amor que nos deu tudo o que o amor pode dar e, portanto, os verdadeiros adoradores, o Pai — Ah! Que pensamento maravilhoso! — busca por nossa adoração, e nós podemos dar o que Ele procura. Tal é o trabalho conjunto do Pai e do Filho.
Eu me pergunto se você sabe o que é ser um adorador. Costuma-se dizer que vivemos numa época em que todo mundo adora. Tal pensamento é uma tremenda loucura. Você por um momento iria supor que os “filhos da desobediência”, que são “por natureza filhos da ira” (Ef 2:2, 3), não convertidos, e chamados de “homens do mundo, cuja porção está nesta vida” (Sl 17:14), poderiam adorar juntamente com os filhos de Deus? Impossível! O Senhor diz: “O Pai procura a tais que assim o adorem”. Eles devem ser Seus filhos, e saberem disso pelo Seu Espírito, a fim de adorá-Lo, pois “os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade”. Eu não posso adorá-lo a menos que eu tenha recebido o Espírito pelo qual somente a verdadeira adoração é possível. A realidade deve ser aquilo que caracteriza a alma.
Juntamente com a adoração do Pai, você irá observar esta expressão: “Deus é Espírito, e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” — no poder do Espírito, e de acordo com a verdade da revelação que Ele nos deu de si mesmo. É importante você ponderar isso por um momento. Acaso você pode dizer, ‘Eu realmente posso chamá-lo de Pai’?. Graças a Deus, se puder. É seu direito e privilégio. Está escrito: “Porque sois filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho em seus corações, que clama: Aba, Pai” (Gal. 4:6). Mas há mais do que isso. Será que você pode se aproximar de Deus — ir direto à Sua santa presença — com este sentimento: ‘Sou bem-vindo aqui; estou vindo aqui; sou digno de estar aqui; estou muito contente de estar aqui’? Será que o conhecimento abençoado de Deus enche sua alma com alegria e prazer? “Nós nos gloriamos em Deus” (Rom. 5:11) é a maior experiência possível da alma. Embora seja bom que nós, cristãos, saibamos que Deus é nosso Pai, nunca devemos nos esquecer de que o nosso Pai é Deus.
W. T. P. Wolston - "Another Comforter" - Lecture 3 "A Well of Water"
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