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Estar aos Seus pes como Maria (Lucas 10:38-42)

O “homem de dores”, que raras vezes pôde beber um pouco de água como nos diz o Salmo 110:7 — “Beberá do ribeiro no caminho” —, isolado como estava, sem ter onde repousar sua cabeça, tinha em Betânia sua “casa” terrestre. Do mesmo modo ele não tinha ali também aqueles a quem chamava de “minha mãe e meus irmãos”, sua verdadeira família, mas os que escutavam a palavra de Deus e a cumpriam (Lucas 8:21). Sem dúvida alguma, os três anfitriões de Betânia também faziam parte “dos seus que estavam no mundo”, amados no passado, no presente e até o fim (João 13:1). Seu amor era conhecido ali — “...aquele a quem amas está enfermo” — e apreciado individualmente — “...Jesus amava Marta e sua irmã e a Lázaro” — e ali encontrava o retorno a que tinha direito.

A hospitalidade para com Ele era um desses retornos. Na casa de Simão, o fariseu, o Senhor não foi o objeto das atenções mais importantes que deveria receber um convidado como Ele. E Jesus manifesta a Simão que essa falta de atenção na realidade era falta de amor. Simão, como muitos de nós, estava pouco consciente da grandeza do perdão divino. Em Betânia não havia tais reprovações, pois lá o Mestre era bem recebido e isto é algo que deve ser enfatizado, pois nessa casa a responsabilidade era de Marta: “Uma mulher chamada Marta o recebeu em sua casa”. Creio que isto nos foi escrito com tal precisão para justificar a Marta, que será repreendida um pouco mais tarde, mas para que ficasse o testemunho de que, no que diz respeito ao exercício da hospitalidade, não lhe faltava o amor.

Entretanto, em 1 Pedro 4:9 nos é recordado que a hospitalidade deve ser praticada sem murmurações, deixando claro que era uma grande coisa receber em sua casa o Mestre. No entanto Marta permitiu uma pequena murmuração no fundo de seu coração que acabou sendo exteriorizada, e na visita de seu Senhor ela sentiu antes o fardo que o privilégio, fazendo com que recebesse por isso a reprovação do Senhor. Maria, por sua vez, não abandonou seu lugar, a boa parte que escolheu, a qual não lhe será tirada.

“Não vos esqueçais da hospitalidade...” nos recomenda Hebreus 13:2, “porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram a anjos”. Marta tinha o privilégio de receber em sua casa Aquele que foi “feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles” (Hb 1:4). Logo terminará Sua obra, o céu se abrirá para Lhe acolher, até abrir-se também para recolher os Seus. Mas, ao honrar com Sua presença a casa de Betânia, Jesus dá, por um breve momento, uma amostra do céu na terra. E esta é também a experiência que podemos ter, irmãos e irmãs, convidados que somos para estar na Sua presença, como uma primeira impressão do que será o céu, onde o Senhor prometeu estar presente e onde também louvaremos em paz, e onde todo o crente goza de Seu poder e da realidade de Sua presença.

Outra recíproca ao Seu amor era o interesse por Sua palavra. Essa recíproca é dada aqui por Maria, a outra irmã. “O que me ama, guardará a minha palavra” disse o Senhor aos Seus discípulos. A consequência disso é que “...meu pai o amará e viremos e faremos nele morada” (João 14:23). Acaso não era exatamente esse o privilégio na casa em Betânia? O filho, assim com o Pai do qual Ele era a perfeita expressão, habitava ali porque era amado, dando a Marta a insigne ocasião de servi-Lo e a Maria de escutá-Lo.

No que diz respeito a essas duas mulheres, o Senhor é aqui o Mestre e Senhor. Se Marta ilustra o serviço para o Senhor, Maria é aquela que está na escola do Mestre que ensina ( Lucas 9:33-38). Mas a diferença de sua irmã distraída por muitos serviços é que Maria, por saber escutar, saberá servi-Lo convenientemente no momento certo. Sentada aos pés de Jesus, ela escutava a Sua palavra. Quando o Senhor fala, a nós convém escutá-Lo, e isso não é somente uma questão de costume, mas de bom senso. Um aluno atento é o primeiro a ser recompensado, e uma atitude como a de Maria nos instrui sobre este ponto.

Por um lado, ela está aos Seus pés, o que significa reverência, pois ouve a palavra do Senhor como alguém que tem autoridade, no sentido de que Aquele a quem escutamos ter o direito de impor Sua vontade. Por outro lado, ela está assentada, uma posição de descanso necessária para se prestar atenção. Que saibamos tomar uma atitude favorável assim para escutarmos a palavra de Deus, como Samuel pede para Saul fazer em 1 Samuel 9:27. Geralmente o início de cada dia é o momento mais propício para ler e meditar nas Escrituras. Não somente por não estarmos ainda absorvidos pela exigente engrenagem de nossas ocupações cotidianas, como também por sermos guardados de começar a realizá-las antes de receber as instruções do Senhor, para que possamos saber como fazê-las.

“Sou teu servo: dá-me inteligência para entender os Teus testemunhos” (Salmo 119:125). Em Jeremias 23:18-22, nos é recordado que antes de correr para cumprir um serviço o profeta deveria permanecer nele, no “Seu conselho”. Como podemos explicar a constante atividade de Moisés ou de Josué se não por Êxodo 33:11 e Números 7:89?

Que contraste na atitude dessas duas irmãs! Marta estava inquieta e se envolvia com muitas coisas, como o Senhor lhe diria ao observá-la muito bem enquanto falava, mas Maria estava sentada descansando. Acaso nós mesmos não nos sentimos ofendidos quando vemos que alguém, a quem nos dirigimos, nos escuta distraidamente ou se interessa por outra coisa enquanto falamos? Mas quando temos algo importante para dizer, escolhemos o momento propício e contamos com toda a atenção de nosso ouvinte. Muitas vezes a falta de tranquilidade e o não sabermos parar e ficar quietos para ouvir o Senhor nos faz incapazes de entender os Seus pensamentos. O Salmo 23 diz “Deitar-me faz em verdes pastos”, pois para o crente, assim como para a ovelha, o repouso é a condição necessária para uma boa alimentação.

Ele pode dirigir-se diretamente a nós por meio de Sua palavra, como fez a Maria, mas também pode ensinar-nos através de nossas experiências e nossos erros. Maria ilustra a primeira maneira de se aprender, e também a mais simples e mais bendita. Já Marta ilustra a segunda maneira, tendo o Senhor que nos repreender para que possamos ser corrigidos e assim recuperar a opinião que tínhamos sobre nós mesmos, ou seja, que sem Ele não somos nada. Se como Maria aprendêssemos diretamente da Sua palavra, esta teria mais autoridade sobre nossas consciências e sobre nossos corações e teríamos menos necessidade dos ensinamentos através de experiências rudes, lições de disciplina e repreensão.

Mais tarde na mesma aldeia encontraremos os mesmos personagens, mas as lições ali já terão sido aprendidas. Os capítulos 11 e 12 de João nos mostram as duas irmãs em uma atitude de oração, de adoração e serviço, irrepreensíveis. Lázaro, que esteve morto no capítulo 11, foi ressuscitado no capítulo 12, um testemunho silencioso, porém bem vivo, já que somente sua presença a mesa com o Senhor era suficiente para mostrar o que ele devia a Jesus. É a história maravilhosa da graça e do poder divino. Nesse homem, a glória de Deus se fez visível diante de todos. “Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?” (João 11:40).
O Salmo 119:169-171 nos mostra, em ordem, o fiel aprendendo, orando e finalmente adorando. “Dá-me entendimento conforme a tua palavra. Chegue a minha súplica perante a tua face; livra-me segundo a tua palavra. Os meus lábios proferiram o louvor, quando me ensinaste os teus estatutos.”.

Mas como oraremos, e acima de tudo, como adoraremos, se não tivemos tempo para estar assentados aos pés de Jesus, que nos quer ensinar como, com inteligência, realizar esses dois serviços cristãos?

Maria foi objeto de muitas críticas de egoísmo, preguiça, perda de tempo e dinheiro, e o mesmo acontece com aqueles que se relacionam com o Senhor tal como os discípulos em Marcos 14:3-9 ou Marta na cena de Lucas 10. Que possamos aprender a não tentar justificar tais reprovações esquecendo-nos das demais atividades cristãs, mas que também não nos cause surpresa sermos o objeto de rejeição por causa do Senhor. Acaso vemos Maria defender-se? Não, de modo algum, mas o Senhor aprovou sua ação publicamente. E assim será para os fiéis de Filadélfia que tem guardado a Palavra do Santo e Verdadeiro. Ele mostrará aos seus acusadores para que conheçam que Ele os tem amado (Ap 3:9). Que essa promessa possa servir de estímulo para nossos corações a fim de podermos corresponder às demandas do Senhor em resposta ao Seu amor e a tudo que Ele tem por direito. Guardemos a Sua Palavra e não neguemos o Seu Nome.

J. K. - extraído do folheto “A los Jovenes” Nº 11/82 - Novembro 1982



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